Mulheres e entomologia: os caminhos desafiadores e a importância da representatividade

Na primeira metade da década de 1990, quando a hoje professora da Universidade da Flórida Silvana Paula-Moraes cursou seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Entomologia, em Viçosa, ela tinha a companhia de algumas colegas mulheres e apenas uma professora, a ainda hoje orientadora do programa Terezinha Maria Castro Della Lucia. “Ela era a única, e foi muito bacana tê-la por perto. Ela tinha já naquela época muita experiência, e isso era inspirador”, conta Silvana. De lá pra cá, muitas outras grandes cientistas passaram pelo programa, e outras chegaram para assumir postos de professoras e orientadoras. Historicamente, cerca de 40% das vagas ofertadas em ambos os cursos, de mestrado e doutorado, são preenchidas por estudantes mulheres, que não só contribuem com dissertações e teses de grande impacto, como também levam o nome do programa aos grandes debates acadêmicos e principais mercados do mundo todo. 

“Não posso dizer que é fácil, tenho muito respeito por todos os desafios que nós mulheres enfrentamos, mas a gente vai achando o nosso caminho, nos associando com pessoas e oportunidades que nos dão a capacidade de ir adiante”, acredita Silvana, que depois do mestrado atuou como fiscal do IMA, chefiou o serviço de análise de riscos de pragas no Ministério da Agricultura, assumiu vaga de pesquisadora da Embrapa, cursou doutorado na Universidade de Nebraska e desde 2016 é professora da Universidade da Flórida. “Eu vejo muitas coisas boas sendo feitas. Vejo que barreiras que eram tão presentes no passado, com papéis tão definidos, estão diminuindo e as mulheres estão ocupando seus espaços”, ela diz, destacando a importância da rede de apoio que teve desde o início da carreira, ainda em Viçosa – não só de sua família, mas também dos colegas de trabalho. “Ninguém entrega grandes resultados sozinha, é importante dizer. A gente tem sempre que colaborar uns com os outros, umas com as outras. Aqui nos EUA, colaboração é uma palavra chave. Ninguém está esperando que você vá ser o super gênio, que vai descobrir tudo sozinha. É sempre com colaboração, uma equipe de pessoas que juntas conseguem entregar soluções.”

É assim que trabalha Madelaine Venzon, orientadora do PPG e pesquisadora da Epamig. Com um time de colaboradores e, principalmente, colaboradoras, ela coordena projetos diversos voltados para o controle biológico e alternativo de pragas envolvendo não só os laboratórios da UFV, mas também ações da Epamig em diversas cidades da Zona da Mata. “Tive e tenho a satisfação de orientar grandes mulheres, de fibra, companheiras. O grupo atual que eu oriento tem mulheres fantásticas”, diz ela, citando as alunas Elem Martins, Jessica Botti, Mayara Franzin, Fernanda Pereira, Jessica Martins e Carolina Calderón. “Elem, que foi minha estagiária, bolsista, orientanda de mestrado e hoje cursa o doutorado é um exemplo de garra, entusiasmo, dedicação e cuidado extremo na condução dos experimentos”, destaca a pesquisadora, que aparece na foto acima com as alunas Elem, Jessica e Mayara.

“Fazer ciência é desafiador no Brasil, não só para mulheres”,  avalia Madelaine, que no ano passado passou a integrar também a comissão de coordenação do PPG. “Gastamos muito tempo em atividades burocráticas e correndo atrás de recursos para trabalhar, tanto financeiros como logísticos. O desafio que vejo para as mulheres é o equilíbrio da vida profissional e pessoal, para que não sejamos vítimas da autocobrança exagerada.”, diz a professora, reconhecendo a importância de um “olhar feminino” para as questões diversas do programa. “Quando eu fui escolhida (para a comissão), a principal razão apontada foi o fato de eu pensar no coletivo, mais do que ser mulher. Mas de fato, o olhar feminino para as questões do programa contribui para uma discussão mais ampla dos assuntos”. 

Juliana Vieira está em Ghent, na Bélgica, para a etapa internacional de seu doutorado

Mais espaço
Ainda hoje, apesar do crescimento da representatividade e dos inúmeros exemplos de sucesso, a desproporção entre os espaços oferecidos a talentos de homens e mulheres exige atenção. “A minha percepção é que está ocorrendo uma mudança gradual na inserção e no prestígio científico de mulheres na Academia. Entretanto, há muito ainda para ser feito”, avalia Juliana Vieira, que desde setembro realiza, na Universidade de Ghent, na Bélgica, a etapa internacional de seu doutorado. Em 2019, Juliana foi eleita representante discente do programa e teve, segundo conta, ricas oportunidades de refletir sobre a questão de gênero na Entomologia. “Acredito que a realidade para uma mulher na Entomologia depende muito da atividade que ela desempenha. Mulher dentro de um laboratório é uma coisa, mulher no campo é outra bem diferente.” Na visão dela, o laboratório tende a ser menos hostil, mas ainda é comum a redução das mulheres às habilidades manuais. “Da mesma forma que existem mulheres com habilidades manuais para manejar bem uma pipeta, existem mulheres com habilidades de gestão, oratória, organização e liderança. E dentre as mulheres que eu vi manejando bem uma pipeta, sem dúvidas, todas elas discutiam hipóteses ainda melhor.”

A professora Karla Yotoko, que em 2019 esteve à frente, junto com outras mulheres, do I Fórum Mulheres na Universidade e o Machismo Nosso de Cada Dia, realizado na UFV, conta que foi tomando consciência aos poucos, ao longo de sua carreira acadêmica, das dificuldades e desafios enfrentados pelas cientistas mulheres. “Durante a faculdade eu não enxergava essa realidade. Mas fui abrindo os olhos, tive algumas alunas que me inspiraram muito ao longo do tempo, e fui vendo que o machismo está aí, o tempo todo”, destaca ela, que é professora do Departamento de Biologia Geral e uma das orientadoras do PPG. Karla chama a atenção para o conjunto de sistemas, métricas e parâmetros de carreira que foram, em sua maioria, criados por homens, em uma realidade muito diferente da que vive a maioria das mulheres. “Eu admiro muito quem consegue passar por todas essas questões e se destacar na carreira”, diz a professora, que é coordenadora do Laboratório de Bioinformática e Evolução. 

A professora Maria Augusta Lima, que integra desde 2019 o corpo de orientadores do PPG, recebeu o selo Top 100 in Ecology 2018 como autora de um dos artigos mais acessados no Scientific Reports, periódico do grupo Nature. Para ela, o maior desafio vivido hoje pelas mulheres cientistas é justamente “conciliar condições de trabalho que foram criadas, globalmente, para atender a uma rotina masculina. Geralmente, homens, ainda que sejam pais zelosos, não enfrentam grandes problemas para acordar cedo após passarem as noites cuidando e amamentando um bebê. Quando isso acontece, geralmente é pontual. Para as mães, é uma regra”, diz ela, destacando os efeitos ainda mais desafiadores do atual contexto de pandemia. “A casa se transformou em escola, parquinho e clube para as crianças, e extensão da universidade para mim. Só consigo fazer meu trabalho porque tenho um companheiro que divide a rotina de casa e família comigo.” 

Maria Augusta recebeu o selo Top 100 in Ecology 2018 como autora de um dos artigos mais acessados no Scientific Reports, do grupo Nature

Maria Augusta admite que os espaços ocupados por mulheres podem estar crescendo, mas chama a atenção para o longo caminho que ainda temos a percorrer. “Atualmente oriento seis estudantes na graduação e pós, sendo 5 mulheres. Entretanto, empregos bem remunerados e em postos de comando ainda são raros para mulheres entomologistas na maioria das vezes, apesar de haver igualdade salarial na área acadêmica”, ela pondera. 

Representatividade
“Eu consegui me inserir em atividades que eu considerava relevantes para a minha formação, independentemente do meu gênero, mas claramente existem cenários que consideram homens mais capazes do que as mulheres, principalmente em trabalhos que requerem atividades de campo”, diz Jéssica Martins, uma das discentes citadas pela professora Madelaine Venzon. Jéssica, que concluiu o mestrado e inicia agora a etapa do doutorado, diz que tem a sorte de ter a oportunidade de ser orientada por uma mulher. “Tenho plena ciência do peso que esta escolha tem em minha formação. Apesar de ainda termos um percentual pequeno de orientadoras dentro do departamento, acredito que a excelência dos trabalhos prestados por estas mulheres se destaca”. A discente Thayna Raymundo, que participa com Jéssica do Grupo de Estudos Insectum, também defende a importância da representatividade, que faz com que outras mulheres, que pensam em fazer ciência, se sintam representadas e encorajadas. “Neste sentido, as mulheres do nosso programa também têm feito trabalhos de excelência e inspiração.” 

Maria Augusta, que foi aluna dos cursos de mestrado e doutorado do PPG antes de se tornar professora do programa, destaca a importância que o convívio com outras professoras, hoje colegas, tiveram na sua formação. “Destaco o trabalho que a professora Maria Goretti Oliveira realizou na área administrativa, a dedicação da doutora Madelaine Venzon aos trabalhos de campo, particularmente difíceis para mulheres, as ideias inovadoras da professora Karla e homenageio a professora Terezinha, que foi uma mulher pioneira na Entomologia e exímia educadora.”

Fotos 1 e 2: Arquivo Pessoal
Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Professor Frederico Salles é novo editor-chefe da Revista Brasileira de Entomologia

O professor Frederico Salles, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, assumiu, neste início de 2021, o cargo de editor-chefe da Revista Brasileira de Entomologia (RBE). Frederico, que está à frente do Museu de Entomologia da UFV, era editor associado da publicação há três anos. A revista é uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Entomologia, dedicada à divulgação de trabalhos originais, de autores brasileiros e estrangeiros, com foco em sistemática, diversidade e evolução dos insetos. 

“É sem dúvida alguma uma enorme honra, e que vem acompanhada de uma responsabilidade ainda maior. No nosso dia-a-dia, que já envolve aulas, orientações, pesquisas e atividades de extensão e administrativas, é uma atividade que sem dúvida tomará um tempo precioso. Contudo, acho gratificante poder contribuir mais diretamente com a Sociedade Brasileira de Entomologia e interagir com os diversos pesquisadores, brasileiros e internacionais, envolvidos com todo o processo de publicação. Está sendo, sem dúvida alguma, um grande aprendizado para mim”, diz Frederico, destacando a atuação da revista ao longo dos últimos anos. “A RBE vem passando por um crescimento importante nos últimos anos, em termos de qualidade perante as métricas de avaliação, de visibilidade e internacionalização. Minha colaboração vem no sentido de manter esse desempenho e tornar a RBE ainda mais atraente, não só para pesquisadores brasileiros mas também para estrangeiros”, planeja. 

Além de contribuir como editor associado da RBE por três anos, Frederico acumulou ao longo de sua carreira experiência também na editoria de outras duas publicações: Annales de Limnologie, entre 2010 e 2014, trabalhando com manuscritos voltados para sistemática de insetos aquáticos; e Zootaxa, nos dez últimos anos. “Na Zootaxa trabalhei especificamente com os artigos voltados ao meu grupo de trabalho, os insetos da ordem Ephemeroptera. Essa, portanto, é a primeira vez que assumo o cargo de editor-chefe.” 

Criada na década de 1950, a RBE é uma das mais tradicionais revistas de Entomologia do Brasil, tendo publicado mais de 60 volumes e centenas de fascículos. “Historicamente a revista teve uma forte tradição na publicação de artigos voltados para a sistemática de insetos, contribuindo assim de forma significativa para o conhecimento da nossa biodiversidade. Atualmente, no entanto, há um equilíbrio maior entre as áreas da entomologia e muitos são os manuscritos submetidos e publicados que abordam estudos voltados para ecologia, controle biológico, entomologia médica e veterinária, entre outras”, conta Frederico. Para o pesquisador, esse histórico torna a revista um dos principais veículos de publicação para os profissionais de entomologia que atuam no país e também indica seu grande potencial para atrair ainda mais a participação de pesquisadores estrangeiros. 

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Egresso da Entomologia entra na fase final do doutorado promovendo parceria entre UFV e Max Planck Institute

Foram os cupins, há seis anos, que atraíram a atenção de Helder Hugo, no período em que ele cursava seu mestrado, pelo Programa de Pós-Graduação em Entomologia, e são eles também, hoje, que mantém o vínculo entre o pesquisador, agora doutorando no Max Planck Institute of Animal Behaviour (MPIAB), na Universidade de Konstanz, Alemanha, e os laboratórios de pesquisa da UFV. Helder, que concluiu o mestrado em 2016 sob orientação do professor Og de Souza, está na Alemanha desde então e deve finalizar em 2021 seu doutorado pleno. Na Universidade de Konstanz, ele é orientado pelo professor Iain D. Couzin, uma das referências mundiais no estudo de comportamento animal coletivo.

“O tema do meu doutorado se conecta diretamente ao meu trabalho de mestrado, que foi focado na caracterização de comportamentos individuais em cupins coabitantes. Atualmente alguns dos meus projetos utilizam o cupim Constrictotermes cyphergaster, que foi uma das espécies investigadas no meu trabalho de mestrado”, explica Helder. “Uma das principais diferenças, entretanto, é que ao longo do doutorado tive a oportunidade de desenvolver técnicas modernas de computação visual que permitem mensurar e analisar padrões coletivos de comportamento inacessíveis por meio de técnicas tradicionais.”

A linha de pesquisa de Helder está hoje focada no estudo da ecologia e da evolução de mecanismos subjacentes de comportamento coletivo em sociedades complexas. “Especificamente, estou pesquisando padrões emergentes de movimento coordenado coletivo em cupins, um grupo que, apesar de ser relativamente pouco estudado dentre os insetos sociais, é um excelente objeto de pesquisa para estudos de comportamento.”

Helder, no canto direito, no alto da foto, posa com a equipe do departamento de comportamento coletivo de Konstanz

Os caminhos do pesquisador na Alemanha foram sendo desenhados ao longo do mestrado, com o apoio e o incentivo do orientador Og. e de outros docentes do programa, como as professoras Madelaine Venzon e Terezinha Della Lucia, e os professores Eraldo Lima e Simon Elliot. “Além do fato do MPIAB ser uma instituição reconhecida e prestigiada no mundo todo, algo que me motivou foi a experiência do meu atual orientador de doutorado, professor Couzin. Na maioria dos artigos que li sobre comportamento coletivo na etapa final do meu mestrado, ele era um dos autores, e isso me motivou a contatá-lo.” Ao final de seu período como mestrando, Helder se viu dividido entre a escrita da dissertação, a elaboração da proposta oficial do doutorado e os exames TOEFL e GRE. “Algo que ajudou bastante foi que o professor Og e eu já havíamos decidido que toda produção do meu mestrado, inclusive a dissertação, seria feita em inglês, a título de treino. Até mesmo os e-mails cotidianos – que ainda trocamos – são sempre escritos na língua estrangeira. É algo que no início pode ser cansativo ou desmotivador, mas como o Og sempre enfatiza, ‘inglês é básico’, e algo que nós acadêmicos brasileiros devemos sempre aprimorar.”

Financiamento
Ao final do processo, Helder não só foi aprovado para o doutorado, como também selecionado, em seguida, pelo International Max Planck Research School for Organismal Biology (IMPRS), um dos programas de pós-graduação ofertados pela Max Planck Society. O programa é composto por mais de 40 pesquisadores, líderes em suas áreas de pesquisa, e atualmente conta com doutorandos egressos de 37 países diferentes. “É um programa bastante conhecido na Europa, competitivo e que proporciona aos seus membros integrantes treinamento de primeira classe nos campos de comportamento, ecologia, evolução, fisiologia e neurobiologia”, conta o brasileiro. Sua pesquisa, hoje, é financiada pelo Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD) – oficialmente traduzido como Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico -, organização voltada a fomentar o intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores.

Parceria contínua
Antes de viajar para o exterior, Helder havia também sido selecionado em primeiro lugar no processo seletivo do PPGEnt, o que lhe daria a oportunidade de continuar seu trabalho no Brasil por quatro anos sob a orientação do professor Og. Apesar da opção pela Alemanha, Helder faz questão de destacar a parceria contínua com o programa brasileiro, por meio do professor Og e do Laboratório de Termitologia. “Na minha proposta de doutorado submetida ao DAAD, deixei claro que a parceria inédita entre o Programa de Entomologia da UFV e o Departamento de Comportamento Coletivo do MPIAB seria frutífera para ambas as instituições.” Desde que começou os estudos em Konstanz, o pesquisador já esteve no Brasil cinco vezes. Quatro dessas viagens tiveram duração de 35 a 40 dias e foram dedicadas a coletas no Cerrado com apoio do Laboratório de Termitologia e experimentos em torno do comportamento dos cupins. “Todo o trabalho que desenvolvo na Alemanha é baseado em filmagens feitas no Brasil com diversos grupos experimentais e tratamentos, de modo que o transporte de material biológico pra Alemanha não é necessário. Além de facilitar alguns trâmites, o fato de todos os experimentos serem feitos no Brasil garante que colônias não sejam submetidas ao estresse de uma viagem longa de transporte até a Alemanha”.

Ao longo do doutorado, Helder esteve quatro vezes no Cerrado mineiro, para trabalho de campo

O professor Og é hoje coorientador de Helder, e coautor de parte do material que ele vem produzindo ao longo destes anos na Alemanha. “O Og é um dos grandes ‘culpados’ pela minha vinda pra Alemanha, no bom sentido é claro. Praticamente tudo o que sei sobre biologia de cupins aprendi no Laboratório de Termitologia da UFV. No meu terceiro ano, consegui aprovar o financiamento de uma viagem à Alemanha para o Og, oportunidade na qual nos reunimos pessoalmente com o comitê de orientação da tese em Konstanz”, conta ele, destacando também o tratamento acolhedor que recebeu de seu atual orientador. “A primeira impressão que tive do professor Couzin foi a de alguém genuinamente fascinado por biologia e ciência, disposto sempre a aprender o máximo de qualquer pessoa, até mesmo de estudantes ainda em formação. Até hoje ele mantém essa postura, e apesar da inevitável hierarquia, sempre sou tratado como igual e com respeito em nossas discussões científicas.” 

Publicações
Ao longo de 2020, apesar dos ajustes de agenda e de ritmo de trabalho impostos pela pandemia do coronavírus, Helder teve dois trabalhos publicados pela revista Ecology and Evolution. O primeiro, em colaboração com os professores Og de Souza e Paulo Cristaldo, trata da descrição de um comportamento não agressivo por parte do cupim inquilino Inquilinitermes microcerus em relação ao seu hospedeiro Constrictotermes cyphergaster. Já o segundo artigo, em colaboração com os professores Marcel G. Hermes, Bolivar R. Garcette-Barrett e Iain D. Couzin, descreve a primeira evidência de desenvolvimento larval de vespas Eumeninae em ninhos ativos de cupim. “Nesse segundo trabalho nós reportamos a presença de câmaras de desenvolvimento de vespas em ninhos do cupim C. cyphergaster e descrevemos uma nova espécie de vespa que determinamos como Montezumia termitophila. Até então, na literatura havia o registro de vespas somente em ninhos ‘mortos’, em outras palavras, sem uma colônia de cupins ativa. Algo intrigante é que M. termitophila não somente é capaz de garantir o desenvolvimento de sua prole dentro de ninhos ativos de cupim, mas também aparenta exibir uma falta de agressividade em relação aos cupins hospedeiros. Esse resultado de baixa agressividade de certa forma alinha-se com os que encontramos na primeira publicação na Ecology and Evolution”. Ambos os trabalhos foram desenvolvidos no Cerrado em Minas Gerais, em uma área próxima do município de Divinópolis, terra natal de Helder.

A expectativa do pesquisador é finalizar o doutorado em meados deste ano. “2020 foi bastante intenso para todos, acredito. Apesar de todas as dificuldades impostas pela pandemia, tendo inclusive testado positivo em março daquele ano e precisando trabalhar completamente em home-office e ainda em lockdown até a presente data, consegui desenvolver meus projetos, publicar artigos e ainda achar tempo para me casar na Eslovênia no meio do ano. Mesmo diante de toda incerteza que a pandemia traz, meus planos futuros são de continuar na academia e iniciar um pós-doutorado também focado em um estudo de comportamento, seja na Alemanha, Eslovênia, Brasil ou quem sabe algum novo destino.” Nos quatro anos e meio que já soma na Alemanha, Helder se encantou não só pelo país, como também pela língua alemã, apesar de o inglês ser o idioma oficial dos trabalhos realizados na universidade. “Nos meus primeiros seis meses na Alemanha tive a oportunidade de estudar em um curso intensivo de alemão em Köln patrocinado pelo DAAD. Consegui terminar o programa e obter a certificação B2.2, que permite uma comunicação coloquial diária. Infelizmente, tive de interromper os estudos, mas no futuro pretendo iniciar o C1, que seria o nível avançado ou acadêmico no alemão.”

Fotos: Arquivo pessoal

SEB traça diagnóstico da Entomologia no Brasil

A Sociedade Entomológica do Brasil (SEB) está traçando um diagnóstico da atuação dos profissionais de Entomologia no Brasil.  A pesquisa faz parte do Projeto Mulheres na Entomologia, e vai gerar dados sobre todos os profissionais que trabalham com insetos no país.

A primeira etapa do processo é a aplicação de questionários, que podem ser respondidos por todos os alunos e professores da área neste link.  Também serão realizadas entrevistas (em grupo e/ou individuais) e desenvolvidas pesquisas-ação. Os profissionais que colaborarem respondendo ao questionário podem ser convidados a participar das demais etapas. 

Com os dados colhidos será possível mapear a formação e a atuação dos profissionais no Brasil, fazendo inclusive uma comparação entre gêneros. As informações serão úteis para orientar futuras ações da SEB, visando o desenvolvimento de novas políticas internas e o posicionamento diante a políticas públicas para o setor. 

Esta é a primeira vez que a pesquisa é aplicada no Brasil. O prazo para preenchimento e envio do questionário é 30 de março.

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves 

Professor Carlos Maciel traz aplicação de modelos matemáticos à Entomologia

O professor Carlos Maciel, do Departamento de Engenharia Elétrica e de Computação da USP – Campus São Carlos – visita a UFV esta semana, marcando a retomada do projeto que desenvolve com o professor Eugenio Eduardo Oliveira, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia. Parceiros de pesquisa desde 2012, os dois trabalham atualmente na análise de dados que envolvem a ação de poluentes (agrícolas, minerais e campos eletromagnéticos) em insetos alvos (pragas) e não-alvos, como as abelhas polinizadoras. 

Com formação em Engenharia Elétrica e dedicado aos modelos matemáticos, o professor Carlos se aproximou da entomologia em 2011, durante seu Pós-doutorado na Universidade de Southampton, no Reino Unido. “Lá iniciei uma parceria com o professor Philip Newland, quem eu trouxe ao Brasil algum tempo depois. Neste contexto, conheci o professor Eugenio, e temos trabalhado juntos desde então”, conta. As parcerias realizadas pela dupla aplicam dados colhidos em pesquisas biológicas aos modelos matemáticos, utilizando a inteligência artificial para otimizar análises. 

O trabalho desenvolvido em Viçosa atualmente conta também com o professor Weyder Santana, do Departamento de Entomologia, especialista em abelhas, e de estudantes do Programa de Pós-Graduação. “Nós estamos envolvidos num projeto maior, que visa o impacto de ações antropomórficas (intensidade luminosa, campos eletromagnéticos, ruídos sonoros, resíduos de combustão de motores a diesel e novos combustíveis) nos agentes polinizadores, insetos e pragas. Nossa hipótese principal é que a redução da quantidade de abelhas no mundo decorre da junção destes inúmeros fatores, e não somente de um ou outro especificamente”, explica Eugenio.

Eugenio e Carlos analisam o impacto de agentes poluentes em insetos

“A troca com pesquisadores da Entomologia me agrada muito, me sinto muito em casa. É uma satisfação ver o quanto os processos de pesquisa podem ganhar quando associados aos softwares adequados”, diz Carlos, que também acumula colaborações com a Universidade de Stuttgart, a Universidade de Southampton e o Idiap Research Institute, na Suíça.  

Palestra online
Nesta quinta, o professor Carlos fala aos alunos do mestrado e doutorado, como palestrante convidado, dentro da programação semanal de seminários. O encontro será online, como tem sido feito em razão da pandemia, e o tema abordado será a rede bayesiana e as possibilidades que ela pode abrir para as ciências biológicas (“Bayesian Network: General Aspects and Applications in Biological Sciences”).  

O professor Eugenio, que intermediou o encontro entre o engenheiro e os alunos da Entomologia, chama a atenção para a oportunidade de conhecer alternativas para a automatização de processos de pesquisa. “Todas as pesquisas que envolvam um grande número de dados e que são de grande dificuldade para análises corriqueiras podem ser alvo das abordagens bayesianas, facilitando muito a vida dos que trabalham nos campos das Ciências Agrárias e Biológicas”, diz. “Desde o desenvolvimento de redes neurais até mesmo as predições de como se comportaram insetos, plantas e microrganismos (e suas múltiplas interações) no futuro, mediante a mudanças climáticas ou frente a perturbações de sistemas, como os que observamos recentemente com os episódios decorridos em Mariana e Brumadinho, tudo isso pode ser aplicado às ferramentas matemáticas.” 

Fotos: Rodrigo Carvalho Gonçalves