Eficácia de produtos utilizados na cafeicultura orgânica é testada para controle de ácaros

Pesquisadores da Entomologia testaram a eficácia de produtos utilizados na produção de café orgânico para controlar ácaros e avaliaram os efeitos subletais dos produtos sobre inimigos naturais. Na pesquisa conduzida pelo estudante de doutorado, Edmar Souza Tuelher, foram avaliados três produtos no controle do ácaro vermelho do cafeeiro – Oligonychus ilicis e seus efeitos sobre o ácaro predador Iphiseiodes zuluagai. Os produtos testados foram: biofertilizante Supermagro, calda sulfocálcica e calda Viçosa, cujo nome comercial é Viça Café Plus.

Embora os cafeicultores orgânicos no Brasil utilizem uma gama de produtos para controle de pragas, ainda não foi comprovada a eficácia da maioria deles para o controle de ácaros. Também não há informações a respeito dos efeitos subletais desses produtos sobre inimigos naturais.

O artigo “Toxicity of organic-coffee-approved products to the southern red mite Oligonychus ilicis and to its predator Iphiseiodes zuluagai”, publicado na Crop Protection no mês de janeiro, revela que, com base nos bioensaios de concentração letal aguda, para os três produtos analisados, o ácaro predador I. zuluagai foi mais tolerante do que a sua presa, o ácaro herbívoro O. ilicis. Apenas a calda sulfocálcica mostrou efeitos letais agudos em concentrações menores do que as doses recomendadas no campo (20 e 40 ml / L).

Para conduzir o experimento, o ácaro herbívoro e o seu predador foram coletados numa lavoura de café não pulverizada, no Campus da UFV, em Viçosa. Os ácaros foram levados para laboratório, onde a criação foi mantida e foram realizados testes para verificar o efeito letal e subletal dos três produtos. Além dos testes em laboratório, a eficácia dos produtos foi testada em casa de vegetação.

O estudo conclui que a utilização de calda sulfocálcica na produção de café orgânico é uma boa alternativa para prevenir e controlar a infestação do ácaro O. ilicis. O mesmo não se aplica aos outros produtos testados. Embora Supermagro e Viça Café Plus apresentem controle satisfatório das espécies de ácaros-praga em casa de vegetação, nas concentrações testadas, esses produtos têm baixa seletividade. Isso compromete o seu potencial para utilização no manejo de pragas na produção de café orgânico, nas doses atualmente recomendadas para controle de ácaros no campo. No entanto, o Supermagro e Viça Café Plus são importantes produtos que podem ser utilizados para a nutrição do cafeeiro.

Três novas espécies de fungo do gênero Escovopsis são identificadas

Um estudo exploratório identificou três novas espécies de fungo do gênero Escovopsis, parasita do jardim de fungo de formigas cortadeiras do gênero Acromyrmex. Foram identificadas as seguintes espécies: E. lentecrescens, E. microspora e E. moelleri. A pesquisa também fez uma nova descrição do gênero, pois apesar de existir vários estudos sobre esse grupo, até então, apenas duas espécies tinham sido identificadas.

O estudo foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores da UFV, dentre eles, o pesquisador visitante Harry Evans, a pós-doutora em Entomologia Juliana de Oliveira Augustin, com a colaboração dos professores da Fitopatologia, Eduardo Seiti Mizubuti e Robert Barreto. Os resultados deste trabalho constam no artigo Yet More “Weeds” in the Garden: Fungal Novelties from Nests of Leaf-Cutting Ants , publicado na PlosOne, no mês de dezembro de 2013.

O estudo parte da simbiose entre as formigas cortadeiras do gênero Acromyrmex e seus jardins de fungos do gênero Leucoagaricus, cultivados como fonte de alimento para as colônias. Os jardins de fungos construídos em câmaras subterrâneas fornecem um habitat estável, com poucos concorrentes. Contudo, a estabilidade dessa relação de mutualismo é constantemente ameaçada por fungos parasitas do gênero Escovopsis.

Diante disso, buscando aprofundar os conhecimentos sobre a interação hospedeiro-parasita, foram analisadas amostras de jardins de fungos, obtidas a partir de ninhos de formiga do gênero Acromyrmex, em um remanescente de Mata Atlântica subtropical, no estado de Minas Gerais.

Utilizando análises morfológicas e moleculares, chegou-se às três novas espécies do fungo e identificou-se, pela primeira vez, um mecanismo de transmissão horizontal através dos resíduos de jardim. O estudo descreve as características morfológicas das espécies, possibilitando o entendimento sobre suas estratégias de exploração dos hospedeiros, bem como a sua dispersão entre eles.

Por ser geograficamente restrita, concentrada em uma região específica, a pesquisa sugere a existência de mais espécies do gênero Escovopsis associados aos ninhos de formigas cortadeiras do gênero Acromyrmex.

Perfil: Ricardo Ribeiro de Castro Solar

O estudante do doutorado em Entomologia, Ricardo Ribeiro de Castro Solar, passou um ano em Lancaster, no Reino Unido, pesquisando sobre biodiversidade e conservação de insetos. Ricardo é integrante da Rede Amazônia Sustentável, um projeto internacional que busca compreender como a atividade humana influencia na biodiversidade da Amazônia Oriental brasileira. Ricardo realizou a coleta de dados no Brasil e a análise foi feita no Lancaster Environment Centre, onde o estudante contou com a orientação do pesquisador Jos Barlow. No Brasil, Ricardo é orientado pelo professor da UFV, José Henrique Schoereder.

Ricardo conta que o tempo que passou no norte da Inglaterra, vivendo outra cultura científica, foi muito enriquecedor para a sua pesquisa. “Os dados foram analisados de forma mais holística” – avalia. Interagindo com um “grupo amplo e coeso”, que reúne pesquisadores de vários táxons, Ricardo afirma que ampliou o seu horizonte de pesquisa. Aumentaram as suas publicações e melhorou a escrita dos artigos. O rigoroso inverno europeu e a inexistência de feriados também favoreceram para que Ricardo se dedicasse integralmente à pesquisa.

Quando retornou ao Brasil, em setembro de 2013, Ricardo sentiu bastante a diferença climática. “Isso foi o mais complicado” – afirma. Ele conta que na Inglaterra, só foi ver uma formiga após sete meses. Imagina o desafio que não foi para ele esse período, já que Ricardo tem como hobby a fotografia de insetos. Pelo visto, em Lancaster, faltou a luz natural ideal para as lentes do fotógrafo e a biodiversidade tropical para a qual Ricardo estava acostumado a direcionar sua objetiva.

A estadia na Inglaterra pode até não ter favorecido a fotografia, mas lá, Ricardo pôde se aperfeiçoar para tirar o máximo proveito das mídias que ele costuma utilizar como aliadas na pesquisa. Além de um curso sobre apresentação de pôsteres, Ricardo, que também é blogueiro, fez um curso sobre utilização de blogs e redes sociais para divulgação científica. No blog Photography and Conservation, Ricardo compartilha as fotos que tira entre uma amostra e outra. Vale a pena acessar e conferir as belas imagens.

Atuando numa das frentes da Rede Amazônia Sustentável, Ricardo estuda, especificamente, o efeito dos diversos sistemas de uso da terra sobre a biodiversidade de formigas, besouros coprófagos e abelhas de orquídeas.  Para coletar os dados da sua pesquisa, ele passou nove meses no estado do Pará. Nesse período, Ricardo morou na cidade de Paragominas. Para ele, viajar pelo seu país também foi um grande aprendizado. “O norte é muito rico culturalmente e é bem diferente do que se vive aqui, por exemplo. Tem palavras no vocabulário que eu não conhecia e hábitos com os quais eu não estava acostumado, como abandonar a cama e dormir numa rede” – descreve.

Na Rede Amazônia Sustentável, Ricardo interage com mais de 100 pesquisadores, que buscam identificar os principais problemas e avaliar as implicações sociais e ecológicas do uso da terra na Amazônia Oriental brasileira. O projeto reúne pesquisadores de 30 instituições nacionais e estrangeiras, como: Lancaster University, University of Cambridge, Embrapa Amazônia Oriental, Embrapa Instrumentação Agropecuária, Museu Paraense Emílio Goeldi, UFV, Universidade Federal de Lavras, entre outras. Saiba mais sobre a Rede Amazônia Sustentável.

Estudo avalia a comunicação química entre cupim hospedeiro e seu inquilino

Buscando compreender como diferentes espécies de cupim habitam o mesmo ninho, um estudo realizado pelo estudante do doutorado em Entomologia, Paulo Fellipe Cristaldo, avaliou a comunicação química entre Constrictotermes cyphergaster (hospedeiro) e Inquilinitermes microcerus (inquilino). A pesquisa analisou a natureza dos feromônios de trilha nas duas espécies e testou o reconhecimento mútuo de uma trilha. Os resultados foram publicados na PlosOne, no dia 21 de janeiro, no artigo intitulado “Mutual use of trail-following chemical cues by a termite host and its inquiline”.

Conhecidos como insetos sociais, os cupins vivem de forma harmônica em ninhos/colônias que constroem a partir da divisão de tarefas. Organismos que não pertencem ao ninho são expulsos pelos soldados. Uma das formas de reconhecer um “intruso” (heteroespecífico) é através de feromônio. Cada organismo tem o seu feromômio, que são substâncias químicas liberadas para reconhecer se outro organismo é ou não da mesma espécie (coespecífico).

Durante a pesquisa, foram realizados ensaios comportamentais para observar a orientação dos operários em coespecíficos versus trilhas dos heteroespecíficos. As amostras de ninhos analisadas foram obtidas próximo da cidade de Sete Lagoas, no estado de Minas Gerais. Ao todo foram coletadas 13 colônias. Parte das análises foi feita em Viçosa, Minas Gerais, e outra parte foi realizada em Praga, na República Checa, onde o trabalho foi finalizado.

O estudo concluiu que os feromônios de trilha podem moldar a coabitação de C. cyphergaster e seu inquilino I. microcerus. Foi testada a possibilidade de utilização do feromônio de trilha do hospedeiro pelo inquilino para evitar contato ou para se orientar. O inverso também foi testado, ou seja, a utilização do feromônio de trilha do inquilino pelo hospedeiro. O estudo indica que o inquilino é capaz de usar sinais químicos do hospedeiro para se proteger, evitando a sua detecção dentro do ninho.  Isso reforça a tese de que o inquilinismo entre as espécies de cupim é baseado em estratégias que evitam conflitos.

Quatro pesquisadores da Entomologia integram Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia

Quatro orientadores do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFV participam como pesquisadores do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT).  Os professores Eliseu José Guedes Pereira, Maria Goreti de Almeida Oliveira e Raul Narciso Carvalho Guedes são pesquisadores participantes do INCT em Interações Planta-Praga. Já o professor Eraldo Rodrigues de Lima participa do INCT Semioquímicos na Agricultura. O Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia tem como objetivo fomentar projetos de excelência articulados em nível nacional.

Os INCTs são formados por uma instituição sede e por um conjunto de laboratórios ou grupos associados de outras instituições, constituindo redes científico-tecnológicas.  Para que uma instituição seja sede de um INCT ela deve ter competência em determinada área, alta qualificação na formação de recursos humanos e capacidade de alavancar recursos de outras fontes.

A UFV é a instituição sede do INCT em Interações Planta-Praga. O Instituto está sediado no Bioagro, sob a coordenação da professora Elizabeth Pacheco Batista Fontes.

Os orientadores da Entomologia, Eliseu, Maria Goreti e Raul, integram um grupo de 30 pesquisadores, oriundos de cinco estados brasileiros. Além da UFV, as seguintes instituições participam do INCT em Interações Planta-Praga: Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), Embrapa Hortaliças (CNPH), Universidade de Brasília (UNB), Embrapa Arroz e Feijão (CNPAF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

O INCT em Interações Planta-Praga foi estruturado para atender à necessidade de se avançar o conhecimento científico sobre as bases moleculares e funcionais das interações entre plantas e pragas relevantes para a agricultura brasileira. O Instituto visa também intensificar colaborações multidisciplinares e multi-institucionais que contribuam para uma melhor adequação de procedimentos para coleta de dados da maneira mais eficiente possível.

De acordo com o professor Raul, a participação em um INCT é estrategicamente importante. Com os recursos disponibilizados é possível adquirir equipamentos e melhorar a infraestrutura dos laboratórios. Ele conta que com os recursos aprovados no edital lançado em 2008, foram investidos 700 mil reais na construção do anexo ao prédio do Bioagro, onde está sediado o laboratório do professor Eliseu. O professor Raul destaca que a ampliação laboratorial libera espaço para outros pesquisadores.

O INCT Semioquímicos na Agricultura, do qual o professor da Entomologia Eraldo Rodrigues de Lima participa, tem como instituição sede a Esalq/USP. Além da USP e da UFV, também participam deste INCT a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal de Alagoas (UFAL).

O INCT Semioquímicos na Agricultura tem a missão de diminuir a dependência externa, desenvolvendo bases tecnológicas para a identificação, síntese e uso de semioquímicos (insetos e plantas) na agricultura brasileira, contribuindo para o equilíbrio regional desta área no Brasil, com ênfase à formação de recursos humanos e de jovens pesquisadores.

Atualmente, são 126 INCTs de diversas áreas espalhados por todo o Brasil. O Programa foi lançado em 2008 pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), por meio do CNPq, em parceria com as fundações de amparo à pesquisa dos estados. A previsão é de que ainda no início deste ano, o MCTI divulgue novo edital dos INCTs, visando à renovação e à formação de novos institutos que desenvolvam pesquisas em áreas consideradas estratégicas para o país, como: Biotecnologia, Nanotecnologia, Tecnologias da Informação e Comunicação, Saúde, Biocombustíveis, Energia Elétrica, Hidrogênio e Fontes Renováveis de Energia, Petróleo, Gás e Carvão Mineral, Agronegócio, Biodiversidade e Recursos Naturais, Amazônia, Semi-Árido, Mudanças Climáticas, Programa Espacial, Programa Nuclear, Defesa Nacional, Segurança Pública, Educação, Mar e Antártica e Inclusão Social.