Coleção especial traz 14 artigos sobre Drosophila suzukii em regiões neotropicais

A revista Neotropical Entomology acaba de publicar uma coleção especial sobre a Drosophila suzukii, praga que ameaça as plantações de frutas de casca fina em todo o mundo. A publicação especial “Potential ecological interactions and challenges for the management of Spotted-Wing Drosophila in recently invaded regions” reúne 14 artigos com foco especial na região neotropical e tem edição dos professores Eugênio Oliveira, orientador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFV, e Flávio Garcia, da Universidade Federal de Pelotas. 

Esta é a primeira vez que uma publicação reúne trabalhos sobre o manejo da praga em solo neotropical. “O nosso manejo da Drosophila suzukii é geralmente importado da Europa e dos Estados Unidos, e não necessariamente inclui as melhores soluções para a gente. A ideia, com essa coleção, é falar das nossas dores e fortalezas para enfrentar essa praga e mostrar como essa experiência neotropical pode enriquecer e trazer mais possibilidades para outras regiões, em especial as áreas recentemente invadidas”, explica Eugênio.

Os 14 artigos reúnem o trabalho de 55 pesquisadores da região neotropical, além da colaboração de entomologistas europeus. Os editores Eugênio e Flávio assinam também um editorial, que traz informações gerais sobre a publicação e alguns dos destaques dos artigos. Na região Neotropical (notadamente Brasil, Argentina, Uruguai, México e Chile), 64 espécies de plantas, de 25 famílias, foram identificadas como capazes de hospedar  Drosophila suzukii. “No Brasil, o impacto maior é sentido nas plantações de morango e, especialmente no Sul do país, e pêssego”, diz Eugênio. Em Minas Gerais, a presença da D. suzukii foi registrada pela primeira vez em 2017, na região de Ervália, pela equipe coordenada por Eugênio.

Entre as contribuições que os pesquisadores locais oferecem ao debate mundial em torno do manejo da praga estão isolados de nematóides que, de acordo com as pesquisas iniciais, podem ter efeito sob o inseto e parasitóides da região que se mostram mais eficientes do que os que estão disponíveis hoje na europa. “Parte deste conhecimento está disponível nesses artigos. Existem plantas nossas que servem para desenvolvimento de moléculas com grande potencial para controlar essa praga também. A diversidade de hospedeiros que temos aqui na região, a variação climática, tudo isso são variações relevantes e podem contribuir.”

A Revista Neotropical Entomology é uma publicação da Sociedade Entomológica do Brasil, com 50 anos de história. A coleção sobre D. suzukii é a terceira já publicada pela revista. O debate sobre a praga vem chamando cada vez mais atenção em função do poder de destruição que ela oferece às plantações. “A infestação acontece no campo e, no Brasil, temos apenas uma ferramenta de controle, um inseticida usado para atrair os insetos. As demais opções, os agentes de controle biorracional, ainda estão sendo empiricamente utilizadas. É um processo ainda em maturação.”

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Sara Magalhães, da Universidade de Lisboa, apresenta palestra em Viçosa dia 26

A professora Sara Magalhães, da Universidade de Lisboa, apresentará palestra em Viçosa, no próximo dia 26, às 16h, no auditório do Bioagro. Pesquisadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, Sara vai abordar o tema “Limits to adaptation in spider mites“, apresentando parte do trabalho que tem desenvolvido com sua equipe em Lisboa. Na mesma visita ao Brasil, a professora ministrará aulas durante o Programa de Formação em Ecologia Quantitativa do Instituto Serrapilheira, na região Serrana do Rio de Janeiro. 

Doutora pela University of Amsterdam, Sara foi orientada por Arne Janssen, que também é professor do Programa de Pós-Graduação em Entomologia. “Ele é umas das pessoas responsáveis por eu continuar a fazer ciência ainda hoje!” Mas seu vínculo com o Brasil nasceu antes, ainda no início da sua formação, em 1997, quando ela esteve por seis meses na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA). “Depois, durante o meu doutorado em Amsterdam, eu convivi muito também com Angelo Pallini e Madelaine Venzon, ambos vinculados ao PPG Entomologia. E finalmente, em 2019, eu tive um estudante de pós-doutoramento, Raul Costa Pereira, que agora é professor na Universidade de Campinas, e com quem eu sigo em contato.”

A palestra de Sara na UFV será aberta a todos os interessados, com foco especial nos pós-graduandos em Entomologia e Ecologia.

Projeto leva conhecimento sobre abelhas a escolas públicas de Viçosa

Difundir conhecimento sobre as abelhas e sobre a importância delas na vida de todos nós é o principal objetivo do projeto “De olho nas abelhas: uma abordagem multidisciplinar visando a promoção de conhecimentos e a conservação ambiental’, já em execução nas escolas de Viçosa. Coordenado pela professora Mara Garcia Tavares, do Departamento de Biologia Geral, o trabalho tem a participação do coordenador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, Gustavo Martins, e da egressa Rhiala Albergaria

Com uma equipe de professores e bolsistas, o projeto atua junto a alunos dos 6º, 7º, 8º e 9° anos do Ensino Fundamental e alunos do 1º ano do Ensino Médio de escolas públicas de Viçosa, destacando a grande importância destes insetos, especialmente por sua ação polinizadora. Nas escolas, o grupo desenvolve atividades baseadas em investigação por projetos e atividades de educação cidadã para uma formação mais ativa. “Quando os estudantes veem as abelhas, as diferentes espécies, suas formas de organização social na prática, eles têm uma valiosa oportunidade de vivência. Esperamos que sejam multiplicadoras desse conhecimento e que venham fazer parte da universidade no futuro ou sejam nossos futuros discentes”, diz Gustavo.

Desenvolvido desde 2023, o projeto corre em conjunto com uma outra iniciativa – “Abelhas como ferramenta para promoção de conhecimentos e troca de saberes entre universidade, escola e sociedade” – também coordenada pela professora Mara Tavares, com o mesmo objetivo de ampliar o conhecimento da sociedade sobre a importância, os riscos de extinção e a necessidade de conservação das abelhas. Ambos os projetos são financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). “Dependemos das abelhas para a produção de alimentos e para a manutenção de várias formas de vida na natureza – principalmente as plantas que dependem delas para a polinização. Precisamos mostrar isso para as crianças. Para isso, nosso público é apresentado a diferentes ninhos de diferentes espécies de abelhas sem ferrão, incluindo espécies muito conhecidas como a jataí,  que ocorrem ao longo do campus da UFV e também a vários ninhos que estão depisitados no Apiário do Departamento de Entomologia”, completa Gustavo.

O trabalho dos pesquisadores nas escolas continuará sendo desenvolvido este ano, e a expectativa é contar também com a colaboração de alunos de pós-graduação. “Há muitas oportunidades de troca e aprendizado que podem ser desenvolvidas em um projeto com essas características. Quanto mais engajamento tivermos, inclusive por parte da comunidade do PPG, mais rica ficará essa experiência.” Dentre as atividades previstas para os próximos anos estão palestras, minicursos, oficinas, Dias de Campo e os Clubes de Ciências, além do desenvolvimento de um jogo sobre a vida das abelhas em uma colônia. 

Para multiplicar conhecimentos sobre as abelhas, a equipe criou dois perfis no Instagram (@abelhudosufv e @deolhonasabelhas), um canal no You Tube (@deolhonasabelhas) e um projeto de Ciência Cidadã na plataforma iNaturalist.

Pós-doc inicia projeto financiado pela National Geographic Society

A pesquisadora Thairine Mendes Pereira, pós-doc do Departamento de Entomologia e coorientadora no Programa de Pós-graduação em Entomologia, acaba de dar início à execução do projeto “Brain, immunity, and behaviour under parasite control: Can real-life zombies shed light on behavioural manipulation?”, financiado pela National Geographic Society (Nat Geo). Em março, a equipe do projeto partirá para uma expedição de um mês na Amazônia, em busca de insetos e aranhas parasitados por fungos capazes de alterar seu comportamento padrão. 

“Nossa investigação principal vai ser comparar aranhas, formigas e vespas para ver se diferentes parasitas ativam neles a mesma via metabólica principal, responsável pela alteração no comportamento do hospedeiro”, explica Thairine. Essa é uma nova abordagem sobre o tema explorado pela pesquisadora durante o doutorado, na Universidade Federal de Minas Gerais, onde ela estudou a interação entre aranhas e fungos. Antes disso, ela já havia passado pelo PPG Entomologia, quando cursou seu mestrado. “Agora, de volta a Viçosa, estou ampliando o estudo, avaliando também o efeito destes fungos sobre formigas e vespas, além das aranhas.” 

Thairine submeteu o projeto ao programa da National Geographic Society que financia pesquisas e projetos sem fins lucrativos em todo o mundo. “Eu tenho um amigo que havia sido contemplado, e isso me inspirou a tentar também”, ela conta. “Apresentei a ideia na chamada do ano passado, e fui escolhida uma das National Geographic Explorers de 2024. A instituição vai custear nossa pesquisa, além de oferecer apoio durante todo o tempo”.

A hipótese da pesquisadora é de que os fungos monitorados, ou uma parte deles, desencadeiam uma resposta semelhante nos insetos quando são parasitados. “Todos eles (os hospedeiros) deslocam do ambiente, morrem em um local um pouco mais alto, em alguma folha, coisa que eles não fariam saudáveis. Portanto, vou investigar se a base molecular que o fungo está induzindo no hospedeiro é igual, e essa parte é completamente diferente do que eu fiz no doutorado.” 

Na semana passada, foram dados os primeiros passos para a execução do projeto, que conta também com o professor Thiago Kloss, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFV, o professor Bertram Brenig, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, o professor Aristóteles Góes Neto, do PPG Microbiologia da UFMG, e Simon Elliot, supervisor de pós-doc de Thairine e orientador do PPG Entomologia. Nas próximas semanas, o projeto vai abrir uma vaga de iniciação científica para receber na equipe um estudante de graduação. 

No cronograma estão previstas coletas e expedições na Amazônia e na Mata Atlântica, e análise em laboratório ao longo de um ano. “Além das aranhas, estaremos de olho em insetos que são parasitados, incluindo espécies que não estão descritas. O projeto vai financiar várias expedições, inclusive para descobrir essas espécies novas, que a gente sabe que estão no ambiente, mas que a literatura ainda não contempla. Um dos primeiros objetivos é aumentar o número de insetos que são descritos na literatura de vários grupos que fazem esse mesmo comportamento. “

A National Geographic Society está com inscrições abertas para o mesmo programa até 11 de abril. Todas as informações estão disponíveis neste link.

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Pesquisadores são premiados no Congresso Latino-Americano de Ecologia Química

Pesquisadores do Laboratório de Semioquímicos e Comportamento de Insetos da UFV, coordenado pelo professor Eraldo Lima, estiveram entre os dias 4 e 7 de dezembro na sétima edição do Congress of the Latin American Association of Chemical Ecology (ALAEQ), em Buenos Aires. A pós-doc Natália Ribas recebeu o prêmio de melhor apresentação de pôster, com o trabalho “Resistance to Bt-expressing protein of Spodoptera frugiperda caterpillars has an indirect cost by increasing the attraction of parasitoids in Bt maize plants”, enquanto o doutorando Lucas Tschoeke recebeu o “Travel Grant”, prêmio para ajuda de custo.

A edição deste ano do evento latino-americano foi a primeira realizada após a pandemia, e contou com a participação de grandes nomes da Ecologia Química mundial, reunindo estudantes de toda a América Latina. Cerca de 200 pessoas estiveram presentes nos quatro dias de evento. 

“Nós pudemos ter contato com vários pesquisadores de outros países, inclusive pessoas que a gente cita nos artigos. Foi uma experiência incrível, e conquistar o primeiro lugar no pôster, foi maravilhoso, uma surpresa que me deixou muito feliz”, conta Natália. Ela apresentou um trabalho nascido de sua tese de doutorado, orientada pelo professor Eraldo e co-orientada pela professora Carla Arce, egressa do PPG Entomologia e hoje pesquisadora no Institute of Biology, na University of Neuchâtel, na Suíça. “Foi a realização de um sonho ouvir meu nome sendo chamado para a premiação”. 

O prêmio concedido a Lucas é uma ajuda de custo para que pesquisadores (estudantes de graduação e pós-graduação) cujos trabalhos são considerados de grande relevância possam ir ao evento internacional. Lucas submeteu à comissão organizadora a pesquisa que realiza atualmente no doutorado, envolvendo comunicação química de Spodoptera frugiperda. “Esse prêmio foi a realização de um sonho. Pude conhecer pessoalmente os melhores pesquisadores do mundo na área de Semioquímicos e ver as pesquisas que estão sendo realizadas por eles.”

Além de Lucas e Natália e do professor Eraldo, estiveram também no encontro, apresentando seus trabalhos, as doutorandas Káreen Santos e Gleice Ane Gonçalves e o graduando Marcelo Picanço Filho, todos vinculados ao Laboratório de Semioquímicos. As despesas de viagem foram custeadas pelo projeto CNPQ-INCT-Semioquímicos na Agricultura.