Madelaine Venzon apresenta pesquisa na Semana Internacional do Café

A orientadora do Programa de Pós-Graduação em Entomologia e pesquisadora da Epamig Madelaine Venzon participou, na última semana, do Fórum da Cafeicultura Sustentável, realizado em Belo Horizonte, na Semana Internacional do Café. A professora apresentou o resultado de suas pesquisas em torno do controle biológico de pragas, participando do Painel Café Orgânico. 

No evento, também estiveram presentes o professor Angelo Pallini, a doutoranda Jéssica Martins e a pesquisadora egressa do programa Elem Martins

Na próxima semana, Madelaine será uma das palestrantes na  1ª Jornada: O mercado e o Café Carbono Neutro, em Monte Carmelo (MG). A programação completa do evento pode ser vista neste link.

Pesquisadores negros firmam seu espaço e são destaque no PPG Entomologia

Vindos de escolas diferentes, cidades distantes, famílias diversas, Dayvson Costa, John Chidi, Samuel Famuyiwa, Eldair da Silva, Weslane Noronha, Douglas Ferreira, Samuel Lima, Lorene Reis, Paulo Rezende e Dinamarta Ferreira têm muito em comum, além da paixão pela entomologia. Negros, formados em escolas públicas do país (com excecção de John e Samuel Famuyiwa, vindos da Nigéria), eles se acostumaram desde cedo a ter que batalhar por seus espaços de direito e convivem com a sensação de terem seu conhecimento científico e seu potencial acadêmico questionados a todo instante, em ambientes ainda dominados por pesquisadores brancos. Nos últimos anos, eles conquistaram suas vagas no Programa de Pós-Graduação em Entomologia e, aos poucos, vão contribuindo para aumentar o potencial e a diversidade do Programa, cuja excelência é reconhecida internacionalmente. 

“Vejo que estamos progredindo, ainda que a passos lentos. Estou há três anos no PPG e este ano, em particular, é o ano que eu vejo mais negros entre os alunos. Quando eu entrei, via pouca representatividade”, conta Douglas, doutorando e coordenador da SEB Jovem, vinculada à Sociedade Entomológica do Brasil. A maior presença, no entanto, não significa mais conforto. “O pesquisador negro, hoje em dia, tem sempre que dar o dobro de si para estar no mesmo patamar do pesquisador branco, esta é a realidade. Para estar no mesmo nível, a gente precisa batalhar o dobro e a sensação que temos é de que não podemos falhar”, diz Douglas. 

Samuel Lima almejava a vaga de doutorando que conquistou no ano passado já há algum tempo, e construiu seu caminho partindo da escola pública, cursada em Juiz de Fora. “Entrei no curso de Ciências Biológicas da UFJF através de política de cotas. Mesmo sendo dedicado, eu não teria nota para a ampla concorrência”, conta. Nos primeiros anos, Samuel encontrou pouco conforto, em um ambiente pouco acolhedor. “Mas pela oportunidade que eu recebi, eu prometi pra mim mesmo que eu ia fazer o máximo daquela experiência. Ao final do curso, era um dos melhores alunos da minha turma e entrei em primeiro lugar no mestrado, em Biodiversidade e Conservação da Natureza, ainda na UFJF.” Essa experiência encorajou Samuel a tentar a vinda para o PPG, e pouco tempo depois, ele não só conquistou a vaga, como foi classificado em segundo lugar. “Douglas ficou em primeiro, e isso é muito representativo, de todas as formas, porque somos negros, somos gays, e esse resultado trouxe um impacto muito forte. Mostrou que a gente pertence a esse lugar e que somos tão capazes quanto outras pessoas de estarmos neste ambiente acadêmico.”

Essas conquistas, na visão dos alunos, é fruto de uma mistura entre as políticas públicas adotadas nos últimos anos e o empoderamento dos próprios estudantes, que passaram a enxergar a possibilidade de estar na academia, e especialmente na pós-graduação, como algo real. “Eu sou o único da minha família a chegar na pós-graduação. Minha graduação foi um processo de descoberta, de entender quem eu era no mundo, e como o mundo trata pessoas como a gente. Muitas vezes as pessoas falam que não sofremos racismo escancarado no Brasil, mas o sistema é estruturado para que a gente não chegue a determinados locais. Então percebi que precisava pegar essa consciência e lutar contra esse sistema”, conta Samuel. 

Weslane veio da Bahia para fazer o mestrado na UFV, e diz que encontrou, no Sudeste do país, um cenário mais desafiador. “Acho que o ambiente aqui é mais agressivo. Há um incômodo em alguns momentos trazido pela fala das pessoas. Em uma palestra recente, a pessoa falava como se fosse privilégio um preto estar onde nós estamos, destacando muito nossa cor, como se a nossa presença não fosse algo natural.”

Acostumado a frequentar seminários e outros eventos científicos pelo país, Douglas diz que ainda sofre com a falta de acolhimento. “Como esse ambiente é majoritariamente branco, quando você chega nos espaços, as pessoas não acham que você é um pesquisador, um cientista. Elas acham que você é o técnico, o auxiliar de alguma coisa… nunca acham que você é quem vai dar a palestra. Muitas vezes a pessoa não faz por mal, mas são microviolências que a gente sofre no nosso dia a dia e que precisamos, quase sempre, aguentar calados.”

Douglas, Lorene, Samuel e Weslane destacam o orgulho de serem parte do grupo de jovens pesquisadores negros da Entomologia

Inspiração
A presença tão restrita de professores e pesquisadores negros destaca ainda mais o papel que os poucos representantes do grupo, mesmo sem saber, têm no desenvolvimento acadêmico dos colegas. “Eu passei a querer ser professor universitário quando tive um professor negro na graduação. Ele se chama Marcos Gervasio Pereira, é o professor que mais publica na minha antiga universidade, a UFRRJ, e é referência na área de solos. Ele me mostrou que é possível um negro chegar num cargo alto, de destaque”, conta Douglas. 

“Eu tive uma professora, Rita, negra, e ela me inspirou muito. Eu via no jeito dela falar, de ela explicar as coisas, que ela gostava de ser professora, e ela era muito empoderada. Foi minha professora de português no Ensino Fundamental. Depois, foram pouquíssimos. No cursinho tive um professor negro, e na UFV eu me lembro de ter tido um, que era substituto, e depois disso, mais ninguém”, conta a doutoranda Lorene. Acostumada a fazer parte de uma minoria no ambiente acadêmico, ela diz que pensou muito antes de decidir pelo uso da política de cotas no processo de seleção. “Eu fiquei preocupada com o depois. Tinha medo da comparação, das notas. Será que eu seria respeitada? Será que iriam me comparar o tempo todo? A gente carrega sempre isso: a impressão de que temos sempre que ser os melhores, e isso é muito pesado.” 

Em todos os casos, um elemento importante para seguir crescendo profissionalmente e produzindo conhecimento parece ser a sensação de pertencimento – tanto no sentido se ser abraçado por professores e orientadores sensíveis ao tema, quanto no encontro com outros estudantes negros. “Eu me sinto lisonjeada de fazer parte deste grupo – de jovens cientistas negros da Entomologia. A gente achava que isso estava muito longe de acontecer, mas agora eu estou aqui podendo participar e fazer com que outras pessoas também se sintam inspiradas. Nós somos muito unidos e sabemos, por mais que o grupo seja pequeno, da responsabilidade e da força que temos”, diz Lorene. 

Mais espaço
“Datas – como o Dia da Consciência Negra, celebrado neste domingo, 20 de novembro – são importantes para a gente não deixar que se esqueçam. É preciso lembrar que existe o racismo, que as condições não são justas, que existem privilégios. É importante fazer esse barulho e buscar a consciência da população”, diz Douglas, reconhecendo os avanços dentro do Programa. “É muito bom que um curso como a Entomologia, que é Capes 7 há anos, tão branco, nos veja, abra espaço para este debate. Foi muito importante pra mim notar que, no processo seletivo que eu fiz, eu e Samuel, que também é negro, ficamos em primeiro e segundo lugar. Quando eu vi, chorei de orgulho, por tudo o que a gente vive.”

Lorene destaca que sempre se sentiu confortável no ambiente da Entomologia, inclusive nos vários estágios que fez antes de chegar ao doutorado, mas chama a atenção para a necessidade de novas perspectivas. “Fico pensando que este ponto (dos desafios para o pesquisador negro) é debatido sempre a partir da gente, não há iniciativa fora do nosso grupo. Os colegas brancos, muitas vezes, não nos deixam desconfortáveis, mas será que, para eles, somente esta questão da cota já basta? Cota é suficiente? O que mais poderíamos fazer? Esse é um ponto importante.”

Fotos: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Publicado resultado final do Processo Seletivo 2023/1

O Programa de Pós-Graduação em Entomologia divulga nesta quinta-feira, 17 de novembro, o resultado final do Processo Seletivo 2023/1, com oferta de vagas para os cursos de mestrado e doutorado.

Clique aqui para ver o resultado do mestrado.

Clique aqui para ver o resultado do doutorado.

Os estudantes classificados ingressarão no curso no primeiro semestre letivo de 2023. O início das aulas está previsto para março.


Candidatos a vaga no doutorado são classificados para nova etapa

O Programa de Pós-Graduação em Entomologia aplica nesta quinta-feira, dia 17 de novembro, a arguição oral aos candidatos a uma vaga no doutorado. Todos os estudantes que realizaram a prova escrita foram classificados para a arguição. As notas serão divulgadas posteriormente.

A arguição será realizada via Google Meet. A tabela de horários e instruções para entrar na sala virtual foi enviada por email diretamente aos candidatos.

Outras informações podem ser obtidas no edital do Processo Seletivo 2023/1

Angelo Pallini: “É o múltiplo, o diverso, o oposto que nos leva ao avanço do conhecimento”

Professor e orientador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFV há 30 anos, o entomologista Angelo Pallini foi eleito, em setembro, presidente da Sociedade Entomológica do Brasil. Já a postos para a tarefa que vai executar pelos próximos dois anos, ele avalia o momento pelo qual passa a entomologia brasileira e defende a união dos pesquisadores do país, com foco na diversidade e na inclusão. 

 – O que te levou a se candidatar à presidência da Sociedade Entomológica do Brasil? 
– A SEB foi criada em 1972 por um grupo de entomologistas aplicado, voltado mais para a agricultura. Desde então, é uma sociedade que vem trabalhando pelo desenvolvimento da entomologia agrícola. E essa é uma das críticas feitas dentro da própria Sociedade, porque isso acabou separando os pesquisadores em grupos diferentes. Hoje tem-se dois grupos mais fortes – um é a Sociedade Entomológica do Brasil, e outro é a Sociedade Brasileira de Entomologia, que trabalha mais as questões básicas, a entomologia básica. E ainda tem a Sociedade de Zoologia, que abrange outros grupos. Nossa proposta, desde quando entrei com a submissão de uma chapa, é buscar unir esses grupos – não fazer ninguém perder a identidade, de forma alguma, mas trazer mais unidade à entomologia do Brasil. A proposta é trabalhar diversidade e inclusão. 

– É um caminho importante na ciência… 
– A diretoria anterior já foi inovadora, porque era só de mulheres, e elas romperam algumas barreiras, criaram ações importantes, como por exemplo Mulheres na Ciência e a SEB Jovem, que são ações que nós pretendemos manter. Estamos tendo reuniões periódicas, e a ideia é que cada um que venha a representar a SEB nas diferentes instâncias carregue o nome da Sociedade, e não o do indivíduo. Também queremos integrar as diferentes regiões do país, e focar principalmente no rejuvenescimento da SEB. Nós pretendemos ser uma diretoria de transição para uma SEB mais jovem. Queremos buscar novos talentos, pesquisadores que estão nas bancadas fazendo revolução na área da entomologia no Brasil, com seus enfoques no exterior, e trazê-los para posição de destaque nos eventos que nós organizamos. 

– A Entomologia tem um papel importante em muitas pautas de destaque no país. Como anda o espaço para a participação dos entomologistas nos importantes debates públicos? 
– A SEB participa de reuniões de diferentes entidades no Brasil. Uma que a SEB sempre participa é a Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência (SBPC). Ela também é chamada para discutir assuntos relacionados à políticas nacionais que envolvam principalmente manejo de pragas, pragas agrícolas, agrotóxicos e controle biológico. Então, a ideia é que nós possamos otimizar e aumentar a participação dentro da Sociedade Civil. A SEB jovem, que vai ser revitalizada, ficará sob a coordenação do Douglas Ferreira, doutorando do PPG Entomologia. Ele é doutorando, é negro, é gay, e portanto traz consigo a representatividade sob diversos aspectos. Queremos comunicar a inclusão na nossa Sociedade de maneira clara, sem partidarismos, sem ideologias, e tendo sempre como foco a qualidade dos produtos. O que nós queremos é convergir. Queremos que os profissionais dessas diferentes sociedades tenham espaço no nosso Congresso para organizar painéis, mesas redondas, que tenham voz e que nós tenhamos uma forma de ação mais dirigida, otimizando esforços. Então, quanto tiver, por exemplo, no Congresso Nacional, alguma pauta, algum projeto de lei que leve em discussão questões associadas à entomologia, que todos nós tenhamos união para trabalhar e dar mais difusão à informação na sociedade brasileira, mostrando os prós e contras da questão. 

– Como você já mencionou, a SEB foi criada há 50 anos. Você acredita que os desafios e motivações dos entomologistas para trabalhar em grupo seguem os mesmos? 
– Sim, eu acho que sim. A entomologia agrícola no Brasil tem como grande mestre, grande fundador, o Ângelo Moreira da Costa Lima. Costa Lima foi à frente da sua época, foi ele quem criou a disciplina Entomologia Agrícola no Brasil, na antiga Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária no Rio de Janeiro, em 1917. Desde então, a Entomologia Agrícola no Brasil só vem se desenvolvendo. Em paralelo a isso, tem a entomologia básica, geral, que também evoluiu muito. Então, desde os trabalhos de taxonomia básica à aplicação disso por meio do manejo e controle de pragas, a gente foi evoluindo, e a Sociedade foi evoluindo também em função das necessidades do país. O naturalista e botânico francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), visitando e fazendo estudos no Brasil, dizia “ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil”. Desde sempre insetos pragas são motivo de preocupação para a agricultura. Então, a tecnologia do setor de entomologia foi evoluindo para fazer frente aos desafios que se impõe sempre. Hoje, multidisciplinaridade é o foco. Não existe entomologista que faça grandes avanços sozinho! Ele pode até trabalhar em uma área muito específica e contribuir, mas a gente trabalha com genomas, com biotecnologias, engenharias, robótica, drones… Então, o papel da entomologia hoje é muito mais difuso em diferentes disciplinas, e consequentemente, as equipes são multidisciplinares. Hoje acreditamos que a entomologia tem um papel de destaque no Brasil, nossa diversidade é imensa. Então, temos tantos desafios, no sentido das mudanças climáticas e das pragas irem se tornando cada vez mais efetivas em causar danos, mas também temos uma diversidade de inimigos naturais que ainda existem para ser explorados e que podem ser potencializados e usados como alternativas ao uso dos agrotóxicos. As práticas sustentáveis são ações que o mundo inteiro busca e quer hoje, e a entomologia do Brasil tem tudo para ser uma entomologia diversificada e com a premissa de, no campo da agricultura, desenvolver práticas sustentáveis e regenerativas com baixa emissão de carbono. É nisso que queremos focar: em uma entomologia que busca ações de preservação mas, mais do que isso, de desenvolvimento sustentável. 

– Qual o perfil dos entomologistas brasileiros hoje? 
– A gente tem dentro da Sociedade um quadro bem diversificado, envolvendo instituições de ensino, de pesquisa, órgãos de governo, empresas… a gente tem uma gama de profissionais bastante diversificada, prontos para melhorar as ações da Sociedade e difundí-las para a sociedade brasileira no geral. À parte disso, a gente tem em diferentes regiões do Brasil, em diferentes áreas – entomologia médico-veterinária, entomologia forense, entomologia agrícola, taxonomia – profissionais de destaque. A gente tem o pessoal do Museu Emílio Goeldi, no Pará, Norte do Brasil, que faz um trabalho maravilhoso, gigantesco na Amazônia, com um museu fantástico! Temos a Fiocruz, com profissionais que trabalham com insetos vetores de doenças, e eles fazem um trabalho de ponta. Eu poderia destacar o trabalho do Dr. Luciano Moreira, que capitania um trabalho nacional e internacional com mosquitos e Wolbachia. Mosquitos com a bactéria Wolbachia deixam de transmitir os vírus da dengue, chikungunya e zika.  Ele tem um trabalho fantástico que começou no Rio de Janeiro e já expandiu para outras cidades, e é ex-aluno da UFV. A gente tem o pessoal do Rio Grande do Sul que trabalha com pragas invasoras, que estão associadas aos problemas que atingem a fruticultura nacional – um programa grande, de longa data, que erradicou algumas pragas. A gente tem uma diversidade muito grande de ações. Hoje, no Centro Oeste, a fronteira agrícola mais pujante do Brasil, a gente tem as tecnologias aplicadas, a agricultura digital, a qual integra os mecanismos de amostragem, que antes eram convencionais e hoje é com drones, sensoriamento remoto. Isso tudo são avanços da Entomologia que, obviamente, não é fruto só nacional, mas existe uma adaptação de tecnologia com a inovação das regras e das necessidades da agricultura tropical em que, aí sim, somos vanguardistas. 

 – E que cara tem a nova geração, os novos entomologistas do Brasil? O que você vê como professor e orientador? 
– Eles são pessoas muito mais antenadas com a sociedade, são muito mais diversos na forma de pensar e de agir. Acredito que são mais generosos, mais inclusivos, e são carentes de financiamento público e privado. Hoje, assim como diferentes áreas da sociedade, a ciência e a tecnologia estão perdendo espaço em termos de desenvolvimento e de segurança. Essa questão das mudanças climáticas, em um país tropical, tem um apelo muito grande, e países que antes não produziam, em áreas que antes eram tidas como de geleiras permanentes, como no Canadá, Rússia, China, hoje já começam a produzir. O nosso Cerrado, se for mantida a tendência que se espera, se tornará improdutivo em algumas décadas, e terá que se mudar. O café, por exemplo, começou no Paraná, subiu para São Paulo e hoje, nesses dois estados, já não se produz café de qualidade. O café de qualidade é produzido em Minas e tende a subir – hoje busca-se regiões de montanha. Então, esses novos cientistas estão trabalhando com esses novos desafios. E eles são muito bem aparelhados. Eles falam outras línguas, eles se comunicam melhor na rede internacional, eles têm um networking mais ágil do que tinha o pessoal antes da minha geração e os da minha própria geração. Eles têm tudo para serem mais pujantes ainda. O que a gente tem que desenvolver são formas de colocar essas pessoas mais próximas, para conversar mais. Apesar de toda essa informação que a gente tem no ano de 2022, as fake news imperam em todas as áreas, e isso leva a dissidências, a atritos desnecessários. Eu espero que a SEB possa unir mais as pessoas em torno do desenvolvimento da Entomologia nacional. 

– Muitos pesquisadores e, especialmente, pesquisadoras, ainda relatam falta de espaço para a construção de carreira das minorias, apesar dos progressos dos últimos anos…
– Sim, a gente está muito atento a isso, especialmente depois de uma Sociedade dirigida só por mulheres. Eu sou o presidente, a vice-presidente é a Solange da UFU, e a gente tem conosco um grupo com equilíbrio de gêneros. Sem dúvida nenhuma, na SEB, assim como na sociedade brasileira, existem fragmentações sociais e falta de oportunidades para mulheres, para negros. Isso é uma realidade. No último congresso, por exemplo, fiquei buscando negros que estavam lá participando, e eram muito poucos. Então, o que a gente espera? É dar oportunidade, buscar oportunidades e alternativas. Para se ter uma noção, em 2022 foi a primeira vez que uma mulher apresentou uma palestra principal de inauguração do Congresso Brasileiro de Entomologia (Dra. Madelaine Venzon, pesquisadora da Epamig e orientadora do PPG Entomologia). Demorou de 1972 até hoje para se ter uma mulher protagonista na abertura de um congresso que, em situações normais, abrange de duas a três mil pessoas. A gente espera que haja bastante conversa, integração, para que nós possamos ser abrangentes e levar para a sociedade brasileira a mensagem de que a diversidade é o bem maior. Não é nada legal você se reunir apenas com a sua bolha, com os seus amigos que pensam como você. É o múltiplo, o diverso, o oposto que nos leva ao avanço do conhecimento. Trabalhar com pessoas que pensam diferente e agem diferente fortifica o questionamento, e a ciência é feita de perguntas, de hipóteses. A ciência se cria e evolui à medida que também ganhamos riqueza em formação de recursos humanos, e toda a entomologia nacional é forte do ponto de vista da pós-graduação para a formação de recursos humanos. E também temos uma graduação a ser lapidada. Uma das frentes que temos para atuar agora na Sociedade é no sentido de ver como é feito o ensino da entomologia no Brasil. Nós vamos mapear esse ensino para saber de todos os colegas que trabalham em diferentes áreas qual é o foco dessa entomologia, se ela prima pela sustentabilidade, pela inclusão, pela diversidade… Vamos tentar convergir isso tudo.

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves