Perfil: Ancidériton Antonio de Castro

Recém-chegado dos EUA, o estudante da Entomologia, Ancidériton Antonio de Castro, em breve iniciará o pós-doutorado, sob a orientação do professor Raul Narciso Guedes. Ancidériton passou um ano no estado da Flórida, pesquisando sobre inseticidas para serem utilizados na agricultura orgânica. Ele retornou ao Brasil em novembro de 2013, terminou o doutorado assim que chegou, oito meses antes do previsto, e aguarda o início do pós-doc.
A exemplo do mestrado, que ele cursou em um ano e quatro meses, Ancidériton afirma que a redução no tempo para concluir o doutorado está relacionada ao seu desejo de sempre estar preparado para aproveitar as oportunidades. Ele conta que não consegue deixar nada para depois e esta é uma característica pessoal que o faz se identificar muito com os americanos.
Na Flórida, sob a orientação da professora Jesusa Crisostomo Legaspi, do United States Department of Agriculture (USDA), Ancidériton testou inseticidas na lagarta Spodoptera exígua, praga que ataca culturas como soja, feijão, milho e algodão, e no percevejo predador Podisus maculiventris.
Ancidériton avalia que o tempo que passou nos EUA foi muito favorável, tanto pessoal como profissionalmente. “Os pesquisadores americanos são muito dedicados, a rotina deles é das 9 às 17h, direto”. Ancidériton desenvolveu um dos seus experimentos na Flórida, desde a criação dos percevejos em BOD à escrita dos artigos. Ele destaca o suporte dado pelo USDA, que dispõe de toda a estrutura e materiais necessários.
Além de aprender novas técnicas, Ancidériton ressalta a qualidade de vida, o tratamento das pessoas, a oportunidade de viver numa cultura diferente, o aperfeiçoamento do inglês e as amizades que fez. Bom de bola, durante as partidas de futebol em que frequentemente participava, Ancidériton acabou ganhando muitos amigos, principalmente de origem latina.
As novas amizades favoreceram a sua adaptação, que segundo ele não foi difícil em nenhum momento. No início do doutorado ele já havia passado dois meses nos EUA e também já conhecia a professora Jesusa Crisostomo Legaspi. Pouco antes de Ancidériton embarcar, Legaspi veio ao Brasil, onde passou duas semanas através do programa Professor Visitante da Capes, numa parceria entre a UFV, o USDA e a Florida A&M University.
Na UFV, Legaspi desenvolveu uma série de atividades sob a coordenação do professor José Cola Zanuncio, orientador do Ancidériton no doutorado e responsável por estabelecer o contato para a ida dele para Tallahassee, capital da Flórida.
Por sua vez, a cidade onde Ancidériton morou permitiu que ele aproveitasse também os cartões postais americanos. Tallahassee fica a quatro horas de Orlando e sete horas de Miami. “Conheci todos os parques da Disney” – conta. Ainda fascinado com tudo que viveu no doutorado sanduíche, ele resume: “Foi uma experiência incrível”.
Estudo desvenda o desenvolvimento do coração de Aedes aegypti durante a passagem de larva para adulto

Com o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre as mudanças microanatômicas que ocorrem durante o desenvolvimento do coração do mosquito Aedes aegypti, uma pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Estrutural, liderada pelo professor Gustavo Martins, analisou larvas, pupas e fêmeas adultas. No artigo intitulado “The ultrastructure of the Aedes aegypti heart“, publicado na Arthropod Structure & Development, em novembro de 2013, são descritos vários aspectos como a forma geral do coração e suas células associadas, e a estrutura da musculatura e válvulas cardíacas.
De acordo com o estudo, o coração do mosquito consiste em cardiomiócitos dispostos de uma forma helicoidal, que está fisicamente associada com grupos intersegmentares de células pericardiais e músculos alares. Ramificações normalmente presentes nos músculos alares são mais desenvolvidas em adultos do que nas fases imaturas, o que torna o coração mais robusto nos alados. Células pericardiais filtram e armazenam substâncias da hemolinfa, sendo evidenciado pela absorção do corante carmim em larvas que foram alimentadas em dieta, o que deixa as células de cor avermelhada. Inclusões coradas com carmim correspondem a estruturas de elétron-densas semelhantes a lisossomos, são mais abundantes e proeminentes em pupas, sugerindo um aumento do acúmulo de resíduos durante a metamorfose do inseto.
As amostras analisadas foram obtidas em uma colônia permanente mantida no insetário do Departamento de Biologia Geral da UFV. Segundo o professor Gustavo Martins, é importante conhecer o coração dos mosquitos porque através do sistema circulatório são transportados nutrientes e também parasitas. O pesquisador afirma que o principal desafio desta pesquisa foi retirar por inteiro o coração dos mosquitos sem danificar a sua estrutura. Foram realizadas dissecções para a retirada das amostras, que foram submetidas a uma combinação de técnicas de microscopia.
Pelo artigo, identificar o que acontece com órgãos vitais dos insetos durante o desenvolvimento pode contribuir para entender como o sistema circulatório dos insetos está organizado e como os componentes circulantes da hemolinfa são bombeados na cavidade corpórea em diferentes fases do desenvolvimento.
Pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UFV destaca características da Entomologia

O Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFV vem mantendo a sua excelência ao longo do tempo. Nos últimos nove anos, o programa recebeu o conceito máximo – 7 nas Avaliações Trienais da Capes. A excelente nota reflete o trabalho dos orientadores, estudantes, comissão coordenadora e dos técnicos envolvidos.
O bom resultado deste esforço coletivo foi reafirmado no dia 10 de dezembro, com a divulgação do resultado da Avaliação Trienal 2013. Alguns dias antes, o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da UFV, Eduardo Mizubuti, destacou algumas características e ações da Entomologia, que contribuem para a manutenção da sua excelência.
Para o pró-reitor de pesquisa e pós-graduação, a Entomologia deixou de ser apenas agrícola, e passou a ser um sistema integrado, incorporando novas linhas de pesquisa, como por exemplo, com fungos e ácaros. Isso fez com que o campo de atuação se tornasse mais abrangente, mais complexo.
Outro diferencial seria a interdisciplinaridade do Programa, que envolve docentes de vários departamentos da UFV. Além do próprio Departamento de Entomologia, o programa tem orientadores da Biologia Animal, Biologia Geral, Bioquímica e Engenharia Agrícola. E ainda conta com dois pesquisadores colaboradores de outras instituições. Mizubuti afirma que a interdisciplinaridade trouxe oxigenação para a Entomologia, que, por sua vez, ganhou muito estruturalmente.
A internacionalização das pesquisas vem sendo intensamente trabalhada pela UFV. A instituição tem buscado ampliar as parcerias para viabilizar a dupla diplomação de estudantes. Ao todo, na UFV, quatro convenções de dupla diplomação já foram firmadas. Mizubuti destaca que a Entomologia é uma das pioneiras na instituição, sendo que uma das convenções firmadas refere-se a um estudante do Programa.
O estudante do doutorado em Entomologia, Wagner Faria Barbosa, orientando do professor Raul Narciso Guedes, está na Bélgica fazendo doutorado sanduíche na Universidade de Ghent, de onde virá com o título de doutor. Já ocorreu o aceite da Bélgica para a sua dupla diplomação e o processo encontra-se em andamento na UFV. Mizubuti destaca que este tipo de parceria é fundamental, pois amplia o universo de trabalho dos profissionais que são formados.
Pesquisa revela eficiência de álcool combustível na amostragem de grilos de serapilheira

Buscando otimizar a condução de suas pesquisas com grilos, o estudante de doutorado em Entomologia da UFV, Neucir Szinwelski, sob a orientação do professor Carlos Sperber, desenvolveu estudos a fim de encontrar uma alternativa ao uso de formol para coleta dos organismos. Após vários testes, verificou-se que o álcool combustível é muito eficaz na amostragem de grilos de serapilheira.
Antes dos pesquisadores chegarem a este resultado, a substância utilizada para matar os organismos era composta por 80% de álcool comercial, 10% de glicerina PA e 10% de formol PA. Contudo, o formol degrada o DNA dos organismos. Assim, era preciso encontrar uma solução que tivesse efeito matador igual ou superior à substância que vinha sendo utilizada, que conservasse os grilos e que pudesse ser comprada facilmente próximo aos locais de coleta. O álcool combustível atendeu a todos esses requisitos.
No artigo “Ethanol Fuel Improves Pitfall Traps Through Rapid Sinking and Death of Captured Orthopterans”, publicado na Environmental Entomology, os pesquisadores demonstram que o álcool combustível tem grande eficiência amostral, pois mata rapidamente os organismos que caem nas armadilhas, impedindo que eles escapem. Isso possibilita capturar mais indivíduos e espécies do que com as demais soluções testadas. Acrescentando-se que o álcool combustível preserva o DNA dos organismos coletados.
Na realização dos testes, foram utilizadas armadilhas enterradas (pitfall). Foram testadas a capacidade de preservação do DNA, a atratividade e a eficiência mortífera do álcool combustível. Para testar o efeito matador, o álcool combustível foi comparado a outras duas soluções: 80% álcool comercial + 10 formol PA + 10% glicerina e 90% de álcool comercial e 10% de glicerina PA. Para os testes de preservação do DNA, além dessas três soluções, foram utilizados como controle indivíduos frescos, abatidos na hora.
Para verificar se o álcool combustível exerce algum efeito atrativo sobre os organismos, foram comparadas armadilhas contendo frascos PET com os seguintes conteúdos: água, álcool combustível, álcool comercial e caldo de cana. Por atrair grilos, o caldo de cana foi utilizado como efeito positivo. E a água como efeito negativo. Neucir explica sobre a importância de realizar o teste de atratividade: “nem sempre é bom atrair os organismos, porque você deixa de detectar os processos locais, visto que é impossível saber se os grilos que foram capturados são daquele local ou apenas morreram ali, vindos de outros lugares”. O estudo constatou que o álcool combustível não exerce efeito atrativo sobre os grilos.
Neucir afirma que a utilização do álcool combustível nos experimentos vem solucionar não apenas problemas com a amostragem, mas também com a compra e transporte da substância para fazer os experimentos. “O álcool combustível é barato e facilmente encontrado em qualquer região do Brasil. Hoje, o volume de álcool transportado durante as nossas coletas é pequeno, o que garante a segurança de todos os passageiros que viajam para fazer coletas e atende à legislação em vigor” – descreve. Neucir acrescenta que os testes com álcool combustível continuam, mas os pesquisadores já sabem que a substância é eficaz também na amostragem de outros grupos, como formigas e besouros.
Perfil: Paulo Fellipe Cristaldo

A República Tcheca foi o destino escolhido pelo estudante do doutorado em Entomologia, Paulo Fellipe Cristaldo, para aprofundar sua pesquisa na área de Ecologia Química. Paulo passou um ano na cidade de Praga estudando sinais químicos de cupins, com o objetivo de compreender como tais sinais estão envolvidos na convivência de diferentes espécies em um mesmo ninho. Ele se dedicou ao estudo de dois tipos de feromônios: de trilha e de alarme, além de estudar sinais de reconhecimento entre indivíduos.
Em Praga, Paulo contou com o suporte da Infochemical Team do Instituto de Química Orgânica e Bioquímica (IOCB), filiada à Academia Tcheca de Ciências. Paulo afirma que a Química fornece grande contribuição para compreender sobre o comportamento de insetos sociais. Contudo, no Brasil não tem pesquisadores que trabalham especificamente com Ecologia Química de cupins.
Durante os doze meses em que ficou na República Tcheca, Paulo se dedicou a analisar os resultados dos experimentos que fez no Brasil. Ele conta que antes de embarcar para Praga, em julho de 2012, três pesquisadores de lá vieram ao Brasil auxiliá-lo na coleta dos dados. Além da contribuição para o trabalho, garantindo a coleta correta, isso facilitou a sua adaptação quando chegou a Praga.
Há três meses de volta ao Brasil, Paulo está muito satisfeito com os resultados do doutorado sanduíche. O aprendizado de novas técnicas é um dos pontos que Paulo mais destaca. “O jeito deles fazerem ciência é diferente. Eles entendem bastante de teoria e têm foco no trabalho, tudo é sempre para ontem” – descreve.
Até mesmo o idioma que poderia, à primeira vista, parecer um empecilho à sua permanência no país, não foi. O idioma oficial do país é a língua tcheca. Para Paulo, estar num país que não tem o inglês como língua mãe torna a adaptação de um estrangeiro mais fácil, pois, com relação ao segundo idioma, o estrangeiro acaba ficando na mesma situação dos nativos. Paulo conta que os seminários no Infochemical Team, antes ministrados em tcheco, passaram a ser em inglês quando ele chegou a Praga.
Das cidades que já conheceu, Paulo garante que Praga é a mais bonita, confirmando aquilo que o seu co-orientador no Brasil havia lhe informado. O professor Eraldo Rodrigues de Lima falava: “Você está indo para uma das cidades mais lindas do mundo” – ele conta. Além da beleza, Paulo revela que a atmosfera da cidade também é impressionante. “A cidade ainda vive resquícios de um comunismo recente”. O regime comunista acabou a pouco mais de 20 anos no país.
Embora pareça um pouco inusitado ir para a República Tcheca, possivelmente o país poderia ser um destino desejado para muitos estudantes: “Lá tem uma das melhores e mais baratas cervejas do mundo” – Paulo informa. De modo geral, o baixo custo de vida em Praga também o impressionou. “Sempre tem aquela apreensão quando se vai para fora se a bolsa vai dar” – Paulo lembra ao afirmar que não há com o que se preocupar em relação a isso.
Paulo também destaca o apoio dado pela Capes durante o período em que esteve fora. Ele foi para a República Tcheca através do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE) da Capes. Ele conta que a agência de fomento mandava e-mails periódicos de acompanhamento. E quando a República Tcheca sofreu fortes inundações decorrentes de chuvas torrenciais, a Capes entrou em contato com ele para saber se estava tudo bem, demonstrando uma atenção especial com os estudantes.
O clima foi mesmo um assunto para se preocupar. Das desvantagens sobre o período que passou em Praga, Paulo destaca o inverno cinzento. Amanhece às 10 h e anoitece às 15 h. A falta de sol foi o principal desafio para o brasileiro. “O frio, a roupa dá conta. Mas a falta de sol esbarra numa necessidade fisiológica mesmo” – afirma. Para não falar apenas de uma desvantagem, ele também inclui nesta pequena lista, a saudade.
Desde o mestrado, Paulo está sob a orientação do professor Og de Souza e pondera: “É muito cômodo trabalhar sempre com o mesmo orientador. Se você se permite viver uma nova experiência, você sai da sua zona de conforto”. E, claro, isso traz implicações. Mas como Paulo enfatiza, as desvantagens são tão pequenas perto das oportunidades. “Compreender como se faz e fazer bem feito o seu trabalho. Conhecer e mergulhar noutra cultura. Conhecer e aceitar pessoas diferentes. E melhorar o inglês, um idioma que você vai sempre precisar seguindo a carreira acadêmico-científica, tudo isso vale muito a pena” – ele conclui.