Perfil: Evaldo Ferreira Vilela

Neste semestre, a pós-graduação em Entomologia da UFV está completando 30 anos. Para compartilhar um pouco da história do Programa que se destaca pelo seu alto padrão de excelência, ninguém melhor que o seu fundador, o professor Evaldo Ferreira Vilela. Ele teve papel fundamental no surgimento e consolidação da pós-graduação em Entomologia.

Ex-reitor da UFV, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), atual diretor de Ciência, Tecnologia & Inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais ( Fapemig), ex-secretário adjunto de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais e ex-presidente da Sociedade Entomológica do Brasil (SEB), o professor Evaldo tem muita história para nos contar.

Agrônomo formado pela UFV, o professor Evaldo passou a integrar o quadro docente da instituição em 1972. Ele conta que até meados dos anos 80, a Entomologia na UFV se dedicava apenas à graduação. Não existia pós. Mas assim que o professor Evaldo retornou do doutorado na Inglaterra, em 1983, ele não mediu esforços para mudar essa situação e tornar a pós-graduação em Entomologia uma realidade.  Ao contar sobre a criação do Programa, a utilização da primeira pessoa do singular é inevitável, e ele ressalva: “Desculpa eu falar no pessoal, mas é muito verdadeiro isso”.

Mesmo partindo de um empenho individual, o professor Evaldo se orgulha por ter investido muito na construção coletiva do Programa. “Eu fiz um trabalho para que não houvesse divisão do grupo”. E com essa visão coletiva, nascia em 1984, o mestrado em Entomologia.  Que fique bem claro, apenas Entomologia, sem adjetivos. O professor Evaldo enfatiza que desde o princípio defendeu que não seria Agrícola, Médica ou Parasitológica. Apenas Entomologia, uma ciência transversal, que agregasse tudo e todos relacionados a insetos na UFV.

O mestrado em Entomologia nasceu dentro da Biologia Animal.  “Eu valorizei o fato da gente estar no Instituto de Ciências Biológicas (ICB) – atual CCB. Eu queria o conceito amplo de Entomologia, com foco na tradição agrícola, por isto não podia ser apenas Entomologia Agrícola. Assim, aproveitamos todas as pessoas que estavam no ICB. E isso teve um impacto muito positivo à época, uma revolução na UFV e na Entomologia brasileira” – avalia.

Sobre a transversalidade que a Entomologia da UFV mantém, o professor Evaldo afirma que “no Brasil, não tem uma Entomologia como a nossa, que pega todos os temas, independente da aplicação. Nos outros centros brasileiros que estudam e pesquisam os insetos, o foco é a taxonomia, ou a questão agrícola ou, ainda, a questão médica, de vetores”.

Podemos afirmar que a pós-graduação em Entomologia da UFV nasceu do empenho e da inconformidade do professor Evaldo, com o apoio da UFV. Segundo ele, quando o mestrado em Entomologia foi criado em 1984, para se ter ideia, a Fitopatologia já tinha mais de 15 anos dedicados ao mestrado e ao doutorado.

Mas mesmo tardiamente, a pós-graduação em Entomologia já nasceu inovadora. Ela implantou no Brasil uma nova área de pesquisa: comportamento de insetos e feromônios. Responsável por iniciar no Brasil essa nova área, o professor Evaldo destaca que isso contribuiu para mudar a visão que se tinha até então no país, de que insetos precisavam apenas ser combatidos. “A Entomologia passou a ver os insetos como organismos permanentes, que reagem a estímulos. A visão que se tinha era que inseto é praga e deveria ser extinto. Então, não precisava estudá-los. Bastava controle químico e biológico eficiente, e pronto”.

O professor Evaldo analisa que a Entomologia da UFV “passou a ser revolucionária, grande e influente. A coisa foi pra frente rápido. E só não tem mais espaço porque está no interior”. Mas se engana quem pensa que o processo de criação da pós-graduação foi fácil. “Para botar força no mestrado, assumi a chefia do departamento e acumulei a coordenação da pós. Foi um momento difícil, muito trabalho pelo coletivo, enfrentei uma UFV muito conservadora”. Naquela época, não era permitido que um professor com menos de dois anos de doutorado orientasse e nem assumisse a coordenação de um curso. “Só após dois anos de doutorado, o professor não representava mais risco. E brigamos e quebramos isso” – informa o primeiro coordenador da Entomologia, que na época tinha acabado de retornar do doutorado em Ecologia Química, na Universidade de Southampton.

A Universidade hoje

Docente, pesquisador, coordenador de curso, chefe de departamento, diretor de centro de ciências, diretor da Funarbe e reitor. O professor Evaldo passou por todas essas funções na UFV. De 2000 a 2004, ele ocupou o cargo máximo da instituição. Hoje, dez anos após ocupar a reitoria, o professor Evaldo considera que a pesquisa na UFV cresceu muito. “A universidade está mais influente na sociedade por meio de consultorias e parcerias com o setor empresarial. Na pesquisa, nós estamos melhores, com pessoas mais preparadas e programas mais estruturados. O que tem que se corrigir não é na UFV, mas é um problema nacional: a métrica de trabalhos publicados. Não que isso seja fácil de solucionar ou que seja nefasto. Mas precisa ser complementado, sozinho está atrapalhando, porque você produz para publicar, para ter um número de papers. O país não vai lucrar com isso” – afirma.

Sobre a expansão do ensino superior no Brasil, ele avalia que “a inclusão social trouxe um viés da diplomação de jovens e isso é extremamente necessário, oportuno. A juventude é a melhor coisa que existe. Tem que dar oportunidades. O problema é que isso tem sido feito de forma incompleta. Você facilita a entrada do aluno que não está devidamente preparado, e não o acompanha, não o ajuda a vencer as dificuldades fruto de um ensino médio deficiente. O resultado é a desvalorização do ensino. E a UFV está sofrendo com isso, porque sempre foi uma universidade de excelência na graduação. Tem que ter política pública que melhore esse aluno durante a graduação, que o auxilie no processo da aprendizagem, do pensar e do fazer”.

E completa: “Eu sempre tive muito respeito pelo dinheiro público. Se você gasta com a universidade é um investimento. Mas para ser um investimento de fato, ele tem que dar retorno. E o retorno tem que ser mais que formar pessoas. Tem que focar na solução de problemas porque também investimos em pesquisas científicas e tecnológicas nas universidades públicas. O profissional formado pela universidade tem que ser um transformador da sociedade, ele tem que saber pensar, mover a cultura. Ele tem que saber fazer alguma coisa muito bem”.

Desde 2007, o professor Evaldo se aposentou da UFV, mas mantém-se ativo como orientador voluntário dos programas de pós-graduação em Entomologia e Biologia Animal. E se o experiente professor fosse dar um conselho para aqueles que estão na academia, seria o mesmo que ele vem seguindo desde o início: invista na construção coletiva, ela é um desafio, mas dá bons resultados para o presente e o futuro do país. O êxito da pós-graduação em Entomologia é prova disso.

Pesquisadores percorrem todos os biomas do Brasil para conhecer a biodiversidade de Orthoptera

Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade de grilos, gafanhotos e esperanças de todos os biomas brasileiros, uma equipe de pesquisadores da UFV está participando de mais uma expedição do projeto Biota de Orthoptera do Brasil. A UFV juntamente com a Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) integram uma rede de pesquisa que busca estudar a diversidade genética intra e interpopulacional dos ortópteros e estudar os padrões e processos determinantes da biodiversidade dessa ordem de insetos.

Praticamente todos os estudiosos de Orthoptera brasileiros integram essa rede, sendo que dos 48 pesquisadores envolvidos, 19 são da UFV.  O professor da UFV, Carlos Sperber, é o coordenador geral do Biota de Orthoptera do Brasil. Ele informa que os ortópteros não formam um grupo muito diverso, mas é uma ordem pouco estudada. Assim, a integração de diversos pesquisadores tem permitido avanços no conhecimento sobre esse grupo. As coletas são realizadas em conjunto, com a participação de especialistas de diferentes campos de atuação, como taxonomistas e ecólogos. “Já conseguimos dados que levariam anos para serem descobertos se o trabalho não estivesse sendo feito em conjunto” – afirma o coordenador.

Os pesquisadores já realizaram coletas pela Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. De acordo com o professor Carlos Sperber, apenas o Pampa não será amostrado, por ser um bioma já estudado pelos pesquisadores da PUCRS e UFPel. Inicialmente, estavam previstas coletas em 20 localidades, mas já foram amostradas 25. O projeto estava previsto para ser encerrado no final de 2013, mas foi prorrogado até o mês de agosto deste ano. A expectativa dos pesquisadores é que ainda sejam realizadas coletas em mais 10 localidades, privilegiando áreas de endemismo.

Na expedição atual, os pesquisadores estão realizando coletas na Serra do Espinhaço (MG), Chapada dos Guimarães (MT), Serra da Bodoquena (MS), Chapada dos Parecis (MT/RO), Chapada dos Veadeiros (GO) , Chapada da Natividade (TO), Chapada das Mesas (MA), Belém (PA) e PARNA Viruá (RR).

O pós-doutor em Entomologia, Marcelo Ribeiro Pereira, integra esse projeto desde o início, em 2010. Ele já participou de várias expedições e conta que elas são um desafio, por se tratar de um grupo grande, que durante as coletas convive por um longo período em condições adversas. Mas ele destaca que as viagens permitem um grande aprendizado, tanto científico quanto de trabalho colaborativo.

O projeto Biota de Orthoptera do Brasil integra o Sisbiota Brasil – Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade, e recebeu um financiamento de 1,7 milhão de reais. Além de estimular a produção científica, a disponibilidade de recursos tem permitido equipar os laboratórios envolvidos. Sperber conta que foram adquiridas cinco lupas de alta precisão, integradas com um sofisticado sistema fotográfico de automontagem, uma para cada instituição participante do projeto. Ele informa que antes nenhum laboratório no Brasil dispunha desse equipamento.

Também foram adquiridos dois veículos, um para a UFV e outro para a UNESP, em Botucatu. A aquisição dos carros foi fundamental para viabilizar as expedições, tendo em vista a grande quantidade de material utilizado para as coletas, o que inviabiliza o uso de outros meios de transporte. O coordenador relata que na primeira expedição, realizada em 2011, eles optaram pelo deslocamento de avião devido à distância entre as regiões amostradas. Mas enfrentaram problemas ao tentar embarcar com as amostras, pois o material coletado precisa ser mantido em álcool para conservação.

Os desafios colocados para um projeto tão vultoso como esse não param por aí. Sperber avalia que a parte administrativa toma muito tempo e isso acaba comprometendo a produção científica. Ao longo desses três anos de coleta, os pesquisadores obtiveram muitos dados, mas ainda não conseguiram analisá-los como desejam. “Temos material para publicarmos pelos próximos 20 anos” – afirma.

Um dos maiores gargalos do projeto tem sido a obtenção de dados moleculares interpretáveis. Os ortópteros são o grupo de maior genoma de todos os insetos. A pesquisadora responsável pela parte de filogenia e identificação molecular, a professora da UFV Karla Yotoko, explica que os grilos apresentam inúmeras cópias de DNA mitocondrial nos núcleos (NUMTs), o que torna as técnicas atuais de análise inadequadas.

O conhecimento que vem sendo adquirido sobre os ortópteros tem sido repassado à sociedade. O projeto desenvolve ações de divulgação científica e educação ambiental, como palestras para administradores e guarda-parques, alunos, pais e professores do Ensino Fundamental, além de atividades de campo e oficinas.

Sperber destaca a importância dos recursos humanos que estão sendo formados. Integração e qualidade são características dos estudantes de graduação, mestrado e doutorado, pós-doutores e docentes envolvidos no projeto. Especificamente sobre a equipe da UFV, responsável pela coordenação, o professor Carlos Sperber ressalta que os participantes estão sendo treinados também em administração e gerência de rede de pesquisa, e que o envolvimento do grupo tem sido fundamental para o sucesso do projeto. Para saber mais, acesse o site do Biota de Orthoptera do Brasil.

Começam as inscrições para o Processo Seletivo 2014/II da Entomologia

Iniciou no dia 9 de abril, o período de inscrições para o Processo Seletivo 2014/II da Entomologia. A previsão é que sejam oferecidas nove vagas para o mestrado e nove para o doutorado. Mas esse número pode ser ampliado ou reduzido de acordo com a disponibilidade de bolsas.

As etapas da seleção para o mestrado compreendem análise de currículo e prova escrita. Para o doutorado, além dessas etapas, os estudantes passam por uma arguição oral. A prova escrita será realizada em Viçosa, no dia 21 de maio, das 8 às 11h30min (horário local).

Visando facilitar a participação, o Programa de Pós-Graduação em Entomologia oferece ao candidato a possibilidade de fazer a prova escrita em outra cidade. Contudo, isso não se configura como direito adquirido do candidato.

Para os candidatos que desejarem fazer a prova fora de Viçosa, é necessário informar no momento da inscrição, o local pretendido para realização da prova. Para isso, o candidato precisa contatar previamente um pesquisador ou professor que se disponha a aplicar a prova numa instituição sediada no local escolhido.

A arguição oral, etapa exclusiva para os candidatos ao doutorado, também poderá ser realizada via Skype para residentes em outras cidades, desde que os candidatos avisem previamente à Secretaria da Pós-Graduação em Entomologia.

As inscrições ao Processo Seletivo 2014/II podem ser feitas até o dia 18 de maio, apenas pela internet, na página Inscrição Pós-Graduação. Para mais informações, acesse os Critérios para a seleção de candidatos ao Programa de Pós-graduação em Entomologia 2014/II.

Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal da UFV inicia sua terceira turma

Na última semana, foi realizado na UFV o primeiro encontro presencial da nova turma de alunos do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal. O curso é voltado para profissionais que atuam em instituições públicas e privadas ligadas à agropecuária e que buscam conciliar a atividade profissional com o desenvolvimento científico e tecnológico.

Os estudantes do Mestrado Profissional desenvolvem suas atividades de pesquisa alinhadas às demandas das instituições onde trabalham. O curso é estruturado de forma a viabilizar que o aluno desenvolva as atividades do mestrado concomitantemente à sua atividade profissional. Isso possibilita ao estudante colocar em prática a teoria aprendida.

O curso é semipresencial, com duração máxima de dois anos, sendo realizados cinco encontros presenciais e atividades supervisionadas em ambiente de ensino a distância. O corpo docente é formado por professores de vários departamentos da UFV e de várias outras instituições de ensino e pesquisa do Brasil.

Aprovado pela Capes em 2010, o curso iniciou suas atividades em fevereiro de 2011, com a formação de uma turma de profissionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A segunda turma teve início em março de 2013, formada através de contrato entre a Agropec e a UFV. Os alunos que ingressam neste semestre constituem a terceira turma do curso, também através da parceria entre Agropec e UFV.

O mestrado profissional confere o mesmo grau e prerrogativas que o mestrado acadêmico, inclusive para o exercício da docência. E como todo programa de pós-graduação stricto sensu, o diploma conferido aos estudantes só tem validade se o curso for reconhecido pela Capes.

Contudo, diferentemente do mestrado acadêmico, o mestrado profissional tem viés tecnológico e busca atender uma demanda de capacitação específica. No caso da Defesa Sanitária Vegetal, refere-se a capacitar profissionais que atuam com uma série de processos ligados diretamente à saúde pública e à economia do país. De acordo com o coordenador Angelo Pallini, “o curso busca integrar a academia aos órgãos reguladores e ao setor privado”.

O Mestrado Profissional da UFV apresenta duas linhas de concentração: Defesa Sanitária Vegetal, que compreende biologia e fundamentação teórica sobre pragas, estudo e caracterização biológica de pragas em sistemas agrícolas, avaliação de risco, pragas quarentenárias e métodos estatísticos aplicados à defesa; e Barreiras não alfandegárias e comércio internacional, compreendendo o desenvolvimento de processos para solucionar entraves ao comércio internacional, associados às barreiras não alfandegárias e à sanidade vegetal. Para saber mais, acesse a página do Mestrado Profissional ou entre em contato com o Departamento de Entomologia, pelo telefone 3899-4014.

Perfil: Khalid Haddi

O pesquisador marroquino Khalid Haddi está no Brasil, mais precisamente em Viçosa (MG), há três meses, para o pós-doutorado em Entomologia. Natural da cidade de Agadir, Khalid é Engenheiro Agrônomo, com ênfase em Horticultura, pelo Instituto Agronômico e Veterinário de Hassan, no Marrocos. Além do seu país de origem, a formação acadêmica de Khalid passa por vários outros países.

Khalid fez mestrado na University of Copenhagen, na Dinamarca, e doutorado na Università degli Studi di Catania, na Itália, onde pesquisou sobre a resistência de Tuta absoluta a inseticidas. Ele também morou por um ano na Inglaterra. Atualmente, na Universidade Federal de Viçosa, Khalid pesquisa sobre interações moleculares entre inseticidas e seu sítio de ação.

Desde novembro de 2013 no Brasil, Khalid conta que vai se acostumando passo a passo com a vida brasileira. Em especial, vai se acostumando com o idioma, a principal dificuldade encontrada por aqui. Para facilitar o aprendizado, ele vai iniciar um curso de língua portuguesa. “Eu gosto de aprender a língua local dos países onde estou. O português é o meu próximo desafio” – afirma.  Mas para ele que já fala árabe, francês, inglês, espanhol, italiano e dinamarquês, dominar o português é apenas questão de tempo, ainda mais que a previsão é que ele fique por aqui pelos próximos três anos.

Khalid veio para o Brasil através do programa Ciência sem Fronteiras, na modalidade Bolsa Jovens Talentos, que busca atrair jovens cientistas. De acordo com o professor da Entomologia, Eugenio Eduardo de Oliveira, orientador do pesquisador marroquino, “Khalid deve ser o único estrangeiro dessa modalidade em um programa de pós-graduação em Entomologia no Brasil”.

Para Khalid, “o Brasil é uma terra de oportunidades”, por isso ele está aqui. O interesse em vir para o país surgiu a partir de um contato que ele fez com o professor da Entomologia, Raul Narciso Guedes, durante um congresso sobre Tuta absoluta, realizado no Marrocos. Morando em Viçosa, Khalid avalia que a cidade reflete a imagem do próprio Brasil: “pessoas jovens, com futuro e possibilidades de crescimento”.

Ele conta que a sua adaptação tem sido tranquila, em grande parte, devido ao fato da Pós-Graduação em Entomologia da UFV estar recebendo um número crescente de estudantes e pesquisadores estrangeiros. Isso possibilita aos integrantes do Programa mais interações com pessoas vindas de outros países.

Khalid revela que no Brasil, e em especial em Viçosa, não se sente um estrangeiro, se sente em casa. “Aqui, tem um povo de braços abertos aos estrangeiros, te ajudam sempre”. Apesar de se sentir em casa e gostar da comida mineira, Khalid sente falta da culinária marroquina. Ele destaca os dois pratos típicos mais famosos do Marrocos: o cuscuz (que não é nada parecido com o brasileiro) e a tajine (prato que leva o mesmo nome da panela onde é feito, uma panela de barro com tampa cônica que cozinha os alimentos no vapor). Khalid explica que o modo de se cozinhar no tajine é mais tradicional, se cozinha de tudo um pouco e a comida fica mais saborosa. Por isso, na sua próxima viagem ao Marrocos, ele pretende trazer um tajine para o Brasil.

A exemplo de Khalid, mais de 3% da população marroquina vive fora do país. “Muitos estão em países europeus, no Canadá e nos Estados Unidos. Mas é possível encontrar marroquinas e marroquinos pelo mundo todo, até aqui, em Viçosa” – conta sorrindo.

Khalid afirma que o intercâmbio de culturas é uma característica do seu país. “O Marrocos é uma mistura. Tem de tudo. O que quiser pode encontrar por lá. A palavra chave é abertura” – revela. Ele menciona uma citação de um antigo rei marroquino que define bem o seu país: “Marrocos é como uma árvore, com as raízes na África, mas cujas folhas respiram o ar europeu”.

Além dessa confluência, a estratégica localização geográfica do Marrocos tem despertado cada vez mais o interesse econômico de outros países, inclusive do Brasil. Khalid destaca que existem muitas convenções de impostos com outros países, aumentando as possibilidades para se alcançar outros mercados através do Marrocos.

Quando o assunto é o espaço da mulher marroquina, Khalid adverte: “Marrocos não é O Clone!” – referindo-se à novela brasileira que teve o país como cenário principal. Apesar dos “clichês e da visão exagerada”, Khalid acha legal essa relação que os brasileiros fazem com a novela, pois quando ele fala que veio do Marrocos, todo mundo fala do Clone. “É legal porque ao menos conhecem o Marrocos”.

Ele também ficou feliz com a realização do Mundial de Clubes da FIFA 2013 no seu país. O evento atraiu milhares de brasileiros ao Marrocos. “Para se conhecer um país, tem que visitá-lo. Cada país tem aspectos particulares, e você tem que ir para ver e viver esses aspectos” – avalia.

Questionado sobre possíveis destinos que deseja conhecer após o Brasil, Khalid afirma: “Você começa a viajar e começa a pensar que tem muitos lugares, muitas culturas a conhecer e que não tem muito tempo. O Brasil é bastante grande. Para os próximos anos tenho planos de conhecer o Brasil, que é quase um continente” – conta manifestando o seu desejo de permanecer por aqui.