Professor da Unimontes ministra curso intensivo de R para estudantes da Entomologia

O professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), Ronaldo Reis Júnior, esteve em Viçosa na última semana para ministrar um curso sobre o programa R, software livre utilizado para análises estatísticas. Oferecido como uma disciplina de tópicos especiais, o curso reuniu durante cinco dias, em período integral, 20 estudantes da Entomologia. A realização do curso de R foi um pedido dos próprios alunos que desejam aprender sobre “o pacote de estatística mais completo que existe”.
Ao oferecer uma disciplina condensada, o principal objetivo é que os alunos entendam como o Programa funciona. De acordo com o professor, “não tem que decorar nenhum comando. Tem que entender como o R funciona e aprender a procurar os comandos”. Esta não foi a primeira vez que Ronaldo esteve em Viçosa com a missão de ensinar aos alunos estatística utilizando o R. E certamente também não será a última, tendo em vista que outros estudantes já demonstraram interesse pelo curso e a parceria entre Ronaldo e a Entomologia é de longa data. Para ele é sempre um prazer retornar à UFV, onde fez a graduação em Ciências Biológicas e o mestrado em Entomologia.
Profundo conhecedor do R e usuário assíduo do Programa desde 2000, Ronaldo deixa claro que não é estatístico. “Eu devo ter sido um dos primeiros não estatísticos a utilizar o R no Brasil. Conheci o R na Esalq, durante o meu doutorado, e comecei a utilizá-lo. Em 2002, trouxe o R para a UFV e apresentei ao professor da Entomologia, Og DeSouza”. O biólogo foi responsável por introduzir o R não apenas na Entomologia, mas em toda a UFV.
Iniciantes podem ter receio do Programa, achando que ele é difícil. Mas Ronaldo explica que “o R muda o paradigma de uso do computador, muda o costume das pessoas de sair só clicando. O Programa exige digitação de comandos e o seu uso não pode ser aleatório. O que é uma grande vantagem porque para fazer uma análise estatística você vai ter que aprender. O R força a estudar sobre as análises, não tem jeito de alguém fazer sem saber”.
O Programa apresenta uma interface gráfica criada para facilitar o aprendizado dos novos usuários. Contudo, o professor Ronaldo alerta: “tudo bem usar a interface para aprender o R, mas eu não aconselho usá-la no dia-a-dia. A interface facilita, mas o usuário perde em flexibilidade. A interface só oferece os parâmetros pré-estabelecidos pelo autor”.
Além da flexibilidade, o professor destaca que “a grande vantagem do R é o fato dele ser um programa livre e gratuito. Você não precisa piratear nem comprar. Por ser um programa de código aberto, ele é muito cooperativo. Existe uma comunidade que atrai vários desenvolvedores que vão aperfeiçoando o R. Alguém constrói um pacote com funções para uso próprio e depois repassa gratuitamente aos outros usuários. Por causa dessa cooperação, o Programa se desenvolve muito”.
Cooperação científica internacional: Entomologia receberá mais cinco pesquisadores visitantes

Durante três anos, cinco pesquisadores do Canadá, Inglaterra e Estados Unidos vão desenvolver projetos no Brasil em parceria com professores da Entomologia, através do programa Ciência sem Fronteiras. Ao longo deste período, os pesquisadores devem permanecer no Brasil de 30 a 90 dias por ano, em estadias contínuas ou não. A estadia dos cinco visitantes na UFV intensifica o intercâmbio e a cooperação, proporcionando aos estudantes e orientadores da Entomologia, a oportunidade de trabalhar diretamente com pesquisadores de destaque na produção científica internacional.
Três visitantes virão do Canadá: O professor Jeremy McNeil, da University of Western Ontario, em trabalho conjunto com os professores Eliseu José Guedes Pereira e Eraldo Rodrigues de Lima. O professor Murray Isman, da University of British Columbia, que desenvolve um projeto em parceria com o professor José Cola Zanuncio. E o professor G. Christopher Cutler, da Dalhousie University, em parceria com o professor Raul Narciso Carvalho Guedes.
O visitante dos Estados Unidos é o professor Marcelo Ramalho-Ortigão, da Kansas State University, que desenvolve um projeto com o professor Gustavo Ferreira Martins. Já o pesquisador da Inglaterra, o professor Philip L. Newland, da University of Southampton, desenvolve pesquisas com o professor Eugênio Eduardo de Oliveira.
A modalidade de bolsa para Pesquisador Visitante Especial, do programa Ciência sem Fronteiras, tem como objetivo o apoio financeiro a projetos de pesquisa que visem promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade no Brasil.
A vinda dos cinco pesquisadores à UFV foi aprovada numa chamada realizada no ano passado. Mas esta não é a primeira vez que a Entomologia é contemplada. O Programa já conta com a cooperação de um pesquisador do México. Há dois anos, o professor Octavio Miramontes Vidal, da Universidad Nacional Autónoma de México, participa de um projeto em parceria com o professor Og DeSouza. Eles investigam a organização social de cupins, por meio da aplicação de sistemas complexos. O professor Octavio já é conhecido na Entomologia. Frequentemente ele vem ao Brasil para dar continuidade ao trabalho que desenvolve com a equipe do Laboratório de Termitologia da UFV. Saiba um pouco mais sobre essa parceria.
Confira o calendário das próximas defesas de tese e dissertação

Autor: Tales Vicari
Título: Desenvolvimento das espermatecas durante o estágio pupal de Aedes aegypti
Data: 25/07/2014
Horário: 8h
Local: Edifício Chotaro Shimoya (prédio da Biologia) – Sala ECS 210
Autor: Marcus Duarte
Título: Alternative food promotes broad mite biological control in chilli pepper plants
Data: 25/07/2013
Horário: 14h
Local: Sala de reunião da Entomologia
Autora: Juliana Chamorro
Título: Revisão taxonômica do gênero Agraecia Audinet-Serville (Orthoptera: Ensifera: Tettigonioidea)
Data: 28/07/2014
Horário: 14h
Local: Sala de reunião da Entomologia
Autora: Carla Arce
Título: Indirect interaction between above- and below-ground herbivores in Solanaceae plants
Data: 07/08/14
Horário: 8h30min
Local: Sala de reunião da Entomologia
Entomologia realiza seminário com pesquisador italiano nesta quinta-feira

Nesta quinta-feira, dia 24/07, às 17h, no auditório do Bioagro, o pesquisador do Istituto per la Protezione delle Pianteitaliano (Itália), Massimo Georgini, vai ministrar o seminário “Symbiotic interactions between parasitoid hymenopterans and intracellular bacteria”. O seminário é aberto à participação de todos os interessados.
Foto: www.ipp.cnr.it
Perfil: Octavio Miramontes Vidal

Por mais organizados que os insetos sociais sejam, você já parou para pensar que pode existir uma densidade populacional que favoreça essa organização e a interação entre os indivíduos? Pois bem, o físico Octavio Miramontes Vidal e o professor Og DeSouza, juntamente com a equipe do Laboratório de Termitologia da UFV, vêm se dedicando a investigar a organização social de cupins, por meio da aplicação de sistemas complexos. É a Física dando a sua colaboração para a Entomologia.
Octavio Miramontes é professor do Instituto de Física da Universidade Nacional Autônoma do México e, há dois anos, é pesquisador visitante do Departamento de Entomologia da UFV, pelo programa Ciência Sem Fronteiras. Embora essa modalidade de bolsa para pesquisadores seja recente no Brasil, a parceria entre Octavio e o professor Og é de longa data. Há 25 anos, o físico mexicano e o agrônomo brasileiro se conheceram na Inglaterra, quando faziam doutorado. Desde aquela época eles compartilhavam “ideias particulares sobre a sociabilidade de insetos”, que ao longo dos anos se tornaram pesquisas científicas.
Segundo Octavio, “os físicos pensam em grandes princípios ou leis do universo. Formulam grandes hipóteses que generalizam muitos aspectos da natureza. A gente não trabalha com casos particulares. E uma das ideias desenvolvidas na Física é sobre auto-organização. A ordem que nós vemos na natureza é autogerada. Na Física tem muitas aplicações, mas na Biologia começa a ser acolhida”.
Ele explica: “As sociedades, de maneira geral, são produtos da interação dos seus indivíduos. E dependendo do tamanho do grupo que está interagindo, você terá condutas diferentes. É diferente a conduta de um indivíduo ou dois e de mil. Existem condutas latentes e muitas não estão presentes dependendo do tamanho do grupo”.
Atualmente, no período pós Copa do Mundo, fica fácil entendermos. Basta tomar como exemplo, a comparação entre torcedores num estádio ou assistindo aos jogos em casa com a família. Certamente, a manifestação da torcida será diferente em cada um desses grupos. “Então, é fundamental o tamanho do grupo para que você tenha condutas em potencial que se expressam quando são socialmente induzidas. Existe uma densidade crítica para ter condutas sociais plenamente desenvolvidas” – afirma o pesquisador.
Octavio já tinha experiência com a aplicação de sistemas complexos na organização social de formigas, mas o trabalho era apenas teórico. Graças à parceria com o professor Og, o trabalho passou a ser experimental, diretamente com cupins: “Eu faço teorias, modelos matemáticos e no Laboratório de Termitologia se faz o trabalho experimental” – descreve.
Em um dos experimentos, os pesquisadores colocaram cupins em tubos de ensaio sem alimento e água. Os insetos que ficaram sozinhos morriam mais rapidamente do que os cupins que estavam em grupo. Octavio explica que esse tipo de interação pode ser observado em vários seres sociais. O pesquisador cita como exemplo, pacientes hospitalizados. Quando eles têm companhia se recuperam mais rapidamente do que se ficarem isolados.
De acordo com o físico, a densidade ideal pode até ser quantificada, mas encontrar um número correspondente não é o objetivo da pesquisa. “Estamos interessados em desvendar como são as transições dos indivíduos ao seu grupo e as manifestações sociais que vão acompanhar essas transições”.
Para desvendar esses fenômenos, nada mais propício do que a comunicação entre áreas aparentemente diferentes, num “país que vive seu grande momento” – como Octavio descreve o Brasil. Ele afirma que nunca viu o país tão bem como agora e garante que, como estrangeiro, tem certa autoridade para falar, pois visita o Brasil há 20 anos. “Antigamente, todas as áreas do conhecimento no Brasil eram voltadas para si mesmo. Mas nos últimos dez anos o país teve mudanças muito significativas. E nós vemos isso com muita admiração. Definitivamente, o país está na vanguarda do desenvolvimento científico. Está investindo muito dinheiro em pesquisa e educação. Não tem ninguém lá fora, no México ou nos Estados Unidos, que vai ter uma visão negativa do Brasil. O número de doutores que está formando é espetacular. Os artigos publicados em revistas internacionais de prestígio têm aumentado muito. Em congressos internacionais, os brasileiros são maioria dentre os participantes da América Latina. Na área de Física, o Brasil está participando dos projetos internacionais mais caros e ambiciosos do mundo da ciência” – avalia.
A visão tão otimista do pesquisador mexicano sobre o Brasil se baseia na comparação que ele faz com outros países: “Viajo muito, posso comparar. Tenho uma opinião sobre o Brasil diferente da opinião de muitos brasileiros”. Essa diferença de percepção causa em Octavio uma grande inconformidade: “Os brasileiros definitivamente não conseguem enxergar esse momento favorável. Eles se queixam muito e o Brasil está bem melhor que muitos países da Europa que eles admiram. Se eu pudesse pegaria um microfone e falaria: ‘Acordem! Vocês devem ficar cheios de orgulho da nação que vocês têm agora! ’”.
Para ele, a Copa é o evento mais recente que deixa bem claro essa visão dos brasileiros sobre o país: “ ‘O Brasil não pode organizar a Copa’! Uma ideia de que o brasileiro é incapaz de fazer alguma coisa de porte. Os brasileiros organizaram a festa e ficaram com medo de curtir essa festa. Eu não entendo essa sensação” – questiona.
Buscando uma possível causa para esse pessimismo, Octavio fala de uma perda de autoestima da população: “ Uma pena essa crise de autoestima. Curioso, o brasileiro é um personagem que gosta de interagir muito, mas agora falta autoestima. O sentimento modula a interação social. Se a interação dos brasileiros fosse estar cheios de ânimo, isso se multiplicaria. O momento é bom e poderia ser ainda melhor se o sentimento fosse outro” – avalia o pesquisador que se dedica a compreender a organização de seres sociais.