UFV recebe visita de professora universitária do Peru, egressa da Entomologia

Dra. Karina Vilca (ao centro) entre integrantes das equipes dos laboratórios de Ecotoxicologia e Fisiologia e Neurobiologia de Invertebrados.
Na última semana, a Entomologia recebeu a visita da professora da Universidad Nacional Santiago Antunez de Mayolo (UNASAM), Karina Soledad Vilca Mallqui. Karina é egressa do nosso Programa, onde concluiu o doutorado em 2013, sob a orientação do professor Raul Narciso Carvalho Guedes. A recente visita foi uma oportunidade para Karina rever os amigos, acompanhar mais de perto os trabalhos atualmente desenvolvidos e discutir possíveis parcerias para pesquisa.
Karina é professora titular da Faculdade de Ciências Agrárias da UNASAM e em breve estará completando 17 anos de docência na universidade peruana. Ela cursou o doutorado em Entomologia na UFV por três anos, com bolsa financiada pelo seu país de origem. “No Peru, não existe uma universidade que tenha doutorado em entomologia. Em 2009, o governo do país ofereceu 20 bolsas a professores universitários para fazer estudos de doutorado no estrangeiro. Eu escolhi o Brasil pela grande diversidade biológica e a UFV porque eu já tinha um colega que trabalha com um doutor em fitopatologia da UFV. Então, eu fiz a consulta à coordenação da Entomologia, eles me responderam que eu poderia fazer a aplicação para o doutorado e eu consegui a minha admissão. Só depois fiquei sabendo que a UFV tinha o nível mais alto no Brasil em entomologia e fiquei realmente satisfeita com a minha eleição” – afirma.
Para Karina, o período de estudos na UFV foi de grande aprendizado e muitas experiências: “No aspecto acadêmico, foi sem dúvida um período de muito crescimento, meus conhecimentos em entomologia cresceram e se consolidaram com outras áreas da biologia, como a ecologia, a etologia e a toxicologia. Com a tese e trabalhos realizados nas disciplinas, a minha formação na pesquisa se desenvolveram completamente. No aspecto pessoal, o crescimento foi ainda maior. A influência do povo brasileiro provocou uma mudança positiva muito importante na minha vida. Além da oportunidade de interatuar com estudantes de diferentes países do mundo que me permitiu conhecer outras culturas”.
Acrescentando-se que os trabalhos publicados, desenvolvidos durante a tese, levaram Karina a conquistar o prêmio “Reconhecimento Mulher Pesquisadora da Universidade Peruana 2013”, outorgado pela Assembleia Nacional de Reitores, a autoridade máxima das universidades do Peru. No doutorado, além da orientação do professor Raul, Karina contou com a colaboração do professor da Entomologia Eugenio Eduardo de Oliveira e do atual docente da UFV Campus Florestal, Lessando Gontijo.
Agora, três anos após concluir o doutorado, Kariana esteve no Brasil novamente e Viçosa foi destino certo. Ela nunca perdeu o contato com a UFV, mas a visita recente foi especial: “Foi uma experiência cheia de emoções, lembranças e satisfação de voltar a um lugar que fez uma grande mudança na minha vida pessoal e profissional. A emoção de ver os professores, companheiros e pessoal administrativo que se converteram em verdadeiros amigos e que ficaram em meu coração para sempre. Saudade daqueles que saíram para outras cidades ou países e reconhecimento por tudo o que a UFV fez em minha vida. Fiquei satisfeita em ver que a Universidade continua crescendo em infraestrutura e laboratórios, e que o nível dos estudos continua melhorando com a capacitação contínua dos professores e estudantes”.
Nesta semana, Karina retornou ao Peru, mas levou consigo vários planos e expectativas. Ela, que dá aulas das disciplinas Entomologia Geral, Entomologia Agrícola e Controle de Pragas na UNASAM, pretende estreitar ainda mais o contato com a UFV e não descarta futuramente retornar ao Brasil para um pós-doc. Karina destaca que “a UNASAM é uma universidade relativamente nova e a Agronomia ainda mais. Atualmente, sou a única professora na especialidade. Além disso, o laboratório não tem equipamentos e materiais necessários para fazer pesquisa. Mas, neste ano, devem ser adquiridos equipamentos básicos para iniciar os trabalhos de pesquisa. Espero que eles possam ser desenvolvidos com os professores da UFV”.
Editor do Journal of Animal Ecology ministra seminário sobre publicações

“How do get published in peer-reviewed journals?” será o tema abordado pelo professor da Lancaster University (Reino Unido), Dr. Ken Wilson. Ele também é editor executivo do Journal of Animal Ecology, da British Ecological Society. O seminário será nesta sexta-feira, dia 4 de março, às 17h, no auditório do Bioagro. Participe!
Artigo publicado na Annual Reviews of Entomology alerta sobre efeitos de pesticidas em insetos

Quatro autores de países distintos e com focos de pesquisa diversificados elaboraram uma revisão sobre o efeito de pesticidas em insetos, publicada na Annual Reviews of Entomology. O artigo intitulado “Pesticide-Induced Stress in Arthropod Pests for Optimized Integrated Pest Management Programs” tem como autor correspondente o professor da Entomologia UFV, Raul Narciso Carvalho Guedes. Ele acredita que a principal contribuição do trabalho seja “o esclarecimento de uma concepção mais completa sobre o assunto, enfatizando o contexto atual, independente do tipo de composto de ação inseticida, se convencional, bioinseticida, proteína tóxica, como a de Bacillus thuringiensis, ou outros”.
Além do professor Raul, o trabalho foi elaborado pelos pesquisadores: Guy Smagghe, da Ghent University (Bélgica), cuja formação é em bioquímica e fisiologia, mas voltado para uma abordagem holística sobre efeitos de pesticidas em insetos; John D. Stark, da Washington State University (EUA), que pesquisa sobre ecologia de populações aplicada à ecotoxicologia de inseticidas; e Nicolas Desneux, do French National Institute for Agricultural Research – INRA (França), que estuda o efeito de inseticidas em agentes de controle biológico e polinizadores.
Fruto da experiência dos quatro autores, o trabalho aborda um tema que não poderia ser mais atual, já que inseticidas seguem como o principal método de controle de pragas na agricultura. Para o professor Raul, “o tema persiste relevante como nos últimos 75 anos. Isso porque o uso é amplo, continua aumentando e impõe riscos intrínsecos à saúde, ao meio ambiente e ao próprio manejo de pragas. O Brasil mesmo, só para citar um exemplo, investiu recursos, pessoal e pesquisa, nos últimos 30-40 anos, em métodos de controle biológico, resistência de plantas e, mais recentemente, em plantas geneticamente modificadas, relegando a área de toxicologia e ecotoxicologia de inseticidas. Hoje, o país é o maior consumidor mundial de pesticidas, e com muito poucos profissionais atuantes e com expressão na área. O tempo é relevante e preocupante, principalmente, se considerarmos a visão que prevalece sobre o tema no Brasil”.
Apesar de reconhecer que, aos poucos, vem ocorrendo mudanças na forma como são avaliados os pesticidas lançados no mercado, o pesquisador brasileiro alerta que o impacto desses compostos em organismos não-alvo fazem parte de um problema ainda maior: “Mesmo os impactos e consequências em organismos-alvo é explorado de forma muito limitada, focando nas demandas corriqueiras de órgãos regulamentadores, em estudos bem simplificados e pouco realistas. É preciso bem mais, inclusive, o reconhecimento da possibilidade de irradiação do efeito inseticida a outros organismos, seja de forma direta, ou indireta, o que pode ocasionar surtos populacionais”.
O artigo discute essas questões e estimula um tratamento mais profundo sobre o tema, a partir da compreensão integral dos fenômenos, considerando suas limitações e desafios, com foco mais voltado ao manejo de pragas. Mas a abordagem não se restringe ao manejo de pragas. O professor da Entomologia destaca: “o alerta de que diferentes fenômenos podem e provavelmente são mediados por inseticidas, favorecendo ou comprometendo o manejo de pragas, é um dos pontos importantes da revisão. Contudo, não é o único. O contexto conceitual explorado é bem mais abrangente. O manejo de pragas é usado mais como exemplo, um cenário, válido para a agricultura e saúde humana e animal”.
Pesquisador do Instituto de Ciências Agrárias da Espanha ministra seminário na quinta-feira

O professor do Conselho Superior de Investigação Científica de Madri – Instituto de Ciências Agrárias (Espanha), Dr. Alberto Fereres, vai ministrar o seminário “Behavioral Aspects Influencing Plant Virus Transmission by Hemipteran Insects”.
Dia: 25/02/2016 (quinta-feira)
Horário: 11h
Local: Auditório do Bioagro
Perfil: Clébson dos Santos Tavares

Clébson exibe o certificado recebido pelo seu excelente desempenho no curso de Agronomia.
Ser o primeiro de oito irmãos, filhos de pais analfabetos, a concluir um curso superior é motivo de orgulho para qualquer um. Se formar em uma das melhores universidades do país na área de Ciências Agrárias, também. Ainda mais, ser reconhecido como o melhor estudante entre os formandos do curso de Agronomia e ser homenageado pelo seu excelente desempenho acadêmico. E para completar, concluir a graduação já aprovado em primeiro lugar para dois mestrados, ambos em programas de pós-graduação com elevado conceito na Capes. Essa é só uma parte da história protagonizada pelo alagoano Clébson dos Santos Tavares, um dos mais novos mestrandos em Entomologia da UFV. Ele ainda nem começou o mestrado, mas já tem todos os dados da sua dissertação coletados.
Agrônomo recém-formado pela UFV, Clébson decidiu por cursar Agronomia basicamente pelo seu estreito contato com a agricultura desde a infância. “Os meus pais são agricultores e, quando criança, eu os ajudava na condução das atividades no pequeno terreno da família. Diferentemente de outros que gostariam de se livrar da agricultura, eu a vi como uma atividade rentável e de importância basilar para a humanidade. Por isso, ingressei no curso de Técnico Agrícola integrado ao ensino médio, no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), onde conheci professores que são ex-alunos da UFV. Não tenho dúvidas que ingressar no IFAL foi até então umas das principais escolhas que fiz. Falo isso porque a partir dessa escolha cheguei à Universidade Federal de Viçosa”.
Natural da cidade de Traipu, no estado de Alagoas, Clébson mudou-se para Viçosa em 2011, para estudar na UFV, abrindo mão de uma vaga na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), onde também havia passado. Quando soube da sua aprovação na UFV, para Clébson, Viçosa lhe pareceu ainda mais distante do que de fato já é da sua cidade. E não foi apenas pela distância geográfica entre os estados, mas pelas dificuldades financeiras que o impediam de mudar-se para o interior de Minas. “Ao receber a notícia de que havia passado na UFV procurei por lugares para ficar, e, na maioria deles (hotéis), as diárias eram superiores à renda da minha família durante um mês. No primeiro momento, parecia que eu não conseguiria, tanto é que me matriculei no curso de Agronomia na UFAL” – conta.
Mas “quem tem amigos nunca está sozinho”, e foram os amigos do IFAL que o ajudaram a realizar o sonho de estudar na UFV. No IFAL, campus Satuba, Clébson não fez apenas o Técnico Agrícola integrado ao ensino médio. Lá, ele também fez bons amigos, dentre eles, especialmente, os professores Luciano de Holanda e Ângela Froehlich. “O professor Luciano me encorajou e juntos corremos atrás de um sonho, financeiramente impossível. Conseguimos uma pessoa para fazer a matrícula em Viçosa com a ajuda do professor Claudivan Costa de Lima, que foi o meu orientador de iniciação científica no IFAL. Confirmada a matrícula, restava-nos encontrar um lugar onde morar. Bom, conseguimos! A professora Ângela Froehlich fizera contato com uma amiga do mestrado e pediu para que ela me recebesse em Viçosa até que eu conseguisse alojamento. Prontamente, a Rosineia de Paula, seus pais e irmãos me receberam. E lá fiquei por aproximadamente 60 dias. A ‘Família de Paula’ foi essencial para a minha estadia e permanência na cidade. Eu os considero como a minha família de Viçosa. Passava os domingos, feriados e datas comemorativas na casa deles, e com muita brincadeira e respeito, construímos uma amizade verdadeira e, certamente, duradoura”.
Além da “Família de Paula”, Viçosa também lhe deu outras famílias. “Eu não poderia deixar de mencionar a ‘Família UFV’. A Universidade com seus programas de assistência estudantil evita que muitos alunos que vivem uma realidade financeira como a minha desistam de concluir um curso de graduação por falta de condições”. Clébson ganhou ainda a “Família Interação Inseto-Planta”, a qual ele passou a integrar logo no primeiro período, quando começou a estagiar no laboratório coordenado pelo professor Eliseu José Guedes Pereira. “Aqui, obtive recursos, conhecimento e fiz grandes amizades. A confiança do professor Eliseu no meu trabalho resultou em quatro bolsas de iniciação e participação em diversos trabalhos científicos. Aqui, aprendi os primeiros passos da experimentação, que para mim é simplesmente fascinante”. Além da importância do professor Eliseu e dos demais integrantes do Laboratório de Interação Inseto-Planta, Clébson destaca a participação do doutor Oscar Fernando Santos Amaya: “Também aprendi muito com o Oscar. A parceria consolidada com ele durante a minha graduação resultou em importantes publicações e muito aprendizado”. E também rendeu a Clébson, em 2014, o Prêmio Arthur Bernardes – Mérito em Pesquisa, por um trabalho de iniciação científica apresentado no Simpósio de Integração Acadêmica (SIA).
Formatura na “Família Tavares”
Na última formatura da UFV, na cerimônia realizada no dia 29 de janeiro, 400 formandos dos centros de ciências Agrárias (CCA) e Exatas e Tecnológicas (CCE) colaram grau. Clébson era um deles. “De fato, a formatura é um momento único na vida de cada formando. Para mim, foi mais significativo ainda porque estive com a minha família e eles tiveram a oportunidade de ver o primeiro filho e irmão a se formar em uma universidade federal. Agradeço pela oportunidade que faltou à maioria dos meus irmãos. A grande mensagem que espero ter transmitido, e por isso o motivo da minha alegria e entusiasmo, é que tudo é possível, todos podem! E farei o possível para que esta seja apenas a primeira das muitas formaturas na Família Tavares”- assegura.
Dentre os 400 formandos, 23 se destacaram porque obtiveram conceito igual ou maior a 85, e foram homenageados. Clébson também foi um deles, o melhor aluno do curso de Agronomia. Ele acredita que premiar os melhores é sem dúvida um grande incentivo à busca pela excelência: “durante estes cinco anos de graduação, eu sempre busquei dar o meu melhor. Eu me senti na obrigação de retribuir todo o esforço e a confiança que a minha família e amigos haviam depositado em mim. A homenagem foi o resultado de muito esforço e responsabilidade. Apesar de importante e necessária, poder-se-ia inserir outros parâmetros que não somente o coeficiente de rendimento acumulado. Não tenho dúvidas que, dentre os meus colegas não homenageados, há muitos merecedores de tal feito, se considerado outras variáveis. ‘A sensação ao receber o prêmio foi simplesmente digna do meu silêncio por não ter palavras para descrevê-la. Foi um prêmio recebido por um, mas em nome de muitos! Pois muitos foram aqueles que contribuíram para esta conquista’”.
Concluída a graduação, agora, Clébson dá os primeiros passos rumo ao mestrado. Aprovado em primeiro lugar nos processo seletivos dos programas de pós-graduação em Entomologia e em Genética e Melhoramento Vegetal, ambos na UFV, Clébson optou por permanecer na Entomologia. “Cheguei ao departamento ainda no primeiro período de Agronomia. Aprendi a gostar de entomologia. Aqui, as pessoas são boas no que fazem. Temos importantes profissionais internacionalmente reconhecidos. Não tenho dúvidas de que estou em boas mãos” – afirma.
Integrando o grupo do professor Eliseu há mais de quatro anos, Clébson vai dar continuidade durante o mestrado, ao estudo do manejo da resistência de S. frugiperda em plantas transgênicas. “Especificamente no meu trabalho de mestrado, queremos conhecer o comportamento larval de S. frugiperda nos diferentes tipos de refúgio existentes para o manejo da resistência (por exemplo: estruturado e mistura de sementes). Esta pesquisa tentará preencher algumas lacunas existentes neste assunto, o que seguramente contribuirá no desenho de estratégias apropriadas para retardar o surgimento de populações resistentes desta espécie” – explica. Sobre o que virá depois do mestrado, Clébson é certeiro: “pretendo seguir no doutorado e, por fim, ser professor de uma universidade ou instituto federal”.
Histórias como a de Clébson, marcadas pelo empenho e superação, nos levam a pensar se existiria ou não uma fórmula para o sucesso. Sempre aplicado, ele é objetivo ao se definir como “um cara centrado, tentando ser o máximo possível profissional”. E completa: “A minha profissão até então é estudante e, portanto, devo desempenhá-la com maestria. Apesar das conquistas, tenho limitações, muito ainda preciso melhorar. De maneira geral, tento conhecer a mim mesmo, não me exalto nem me julgo o pior, apenas busco a melhoria. Stephen Hawking, importante cientista da atualidade, diz que ‘o maior inimigo do conhecimento não é a ignorância, mas a ilusão do conhecimento’. Esta frase resume bem o que eu acho de quase tudo da ciência e da vida, e justifica a necessidade de se manter humilde diante de qualquer vitória. Não sairemos do lugar se pensarmos que atingimos a excelência”.
Foto: Daniel Sotto Maior