Harry Evans, referência mundial em fungos entomopatogênicos, oferece disciplina em Viçosa

De passagem pelo Brasil para participar do X Congresso Brasileiro de Micologia, realizado em fevereiro, o professor e pesquisador britânico Harry Evans, referência em fungos entomopatogênicos, ministrou disciplina especial na UFV. Alunos dos programas de pós-graduação em Entomologia e Fitopatologia, além de estudantes de outras instituições de ensino, frequentaram ao longo de uma semana aulas teóricas e práticas de Harry na disciplina “Symbiotic Interactions: Arthropods and Kingdom Fungi“. 

Essa é a terceira vez que o curso é oferecido na UFV neste formato, conta o professor orientador do PPG Entomologia Simon Elliot, parceiro de trabalho de Harry há duas décadas e vice-coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Bioinsumos Inovadores. “Nossa intenção é criar oportunidade para os estudantes conhecerem a diversidade de fungos que ocorrem naturalmente interagindo com insetos, especialmente patógenos de insetos.As áreas brasileiras, como a Mata Atlântica, detém uma grande quantidade de fungos, e o Harry vem com frequência realizar estudos no aqui.”

O doutorando Samuel Santos, que estuda a relação entre fungos e insetos sob orientação de Simon, atuou como monitor da disciplina e comemorou a oportunidade de aprender com Harry ao longo da semana. “Pra mim, que trabalho nessa área e tenho o Harry como principal referência, foi magnífica a experiência. Ter a maior referência da minha área me ensinando coisas diferentes e poder trabalhar junto com ele para organizar o material coletado, identificar esse material e processar, foi muito bom. Eu me senti muito validado, foi uma experiência muito enriquecedora.”

Segundo ele, a interação do professor visitante com a turma, composta por pós-graduandos de várias instituições brasileiras, foi excelente. Além das aulas teóricas, o grupo realizou junto uma expedição à Mata do Paraíso, em Viçosa, onde foram feitas coletas e observações relativas à disciplina (veja fotos na galeria abaixo). “As pessoas puderam interagir com ele o tempo todo, e ele foi muito solicito, interagia bastante, chamava para ver as coisas que ele identificava e tinha curiosidade para ver as coisas que os alunos estavam encontrando em campo. Então, foi uma integração muito boa entre o professor pesquisador referência em fungos entomopatogênicos e as pessoas que estão entrando neste caminho por agora.” 

O mestrando do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) Tales Alves Júnior soube da disciplina por meio de colegas e, após o Congresso de Micologia, decidiu esticar sua estada em Minas para participar das atividades em Viçosa. “A disciplina foi sensacional, principalmente pela abordagem metodológica de treinar os discentes no ‘quem são’ e como coletar e processar o material (treinamento esse que não tive na minha formação até então), além do contato direto com pesquisadores de excelência na área”, ele conta. “Também fiquei fascinado pela diversidade de entomopatogênicos na Mata do Paraíso. Essa disciplina contribuiu muito com minha formação, e veio em um momento fundamental da minha formação, tendo em vista que agora estou finalizando o mestrado e tenho a intenção de continuar no doutorado na mesma área.” 

Harry já esteve outras vezes em Viçosa, em colaboração com professores vinculados aos PPGs Entomologia e Fitopatologia. “Conheço Harry desde os anos 1990, quando eu fiz doutorado na Imperial College. Quando eu vim para a UFV, em 2006, ele estava aqui, para um período como visitante. Fizemos algumas coisas juntos, ele coorientou alguns alunos, começamos a identificar alguns fungos que estão nas matas, especialmente os que matam formigas e os que parasitam jardins de formigas cortadeiras, e começamos a olhar um pouco a ecologia, especialmente deste segundo grupo. Harry já ajudou a treinar mais de uma geração de micologistas brasileiros”, conta Simon, destacando o trabalho realizado por Harry com os professores Robert Barreto e Olinto Liparini, vinculados à Fitopatologia.  “Além de um treinamento sobre como identificar os fungos, sobre como fazer com as lâminas, no campo, a turma desfrutou de um monte de ideias que Harry tem, por causa da vasta experiência dele. Trabalhando nos trópicos no mundo inteiro, ele já viu muita coisa e pôde passar um pouco da visão dele para os alunos.”

Fotos: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Alunas ganham mais representatividade e buscam referência na ciência feita por mulheres

Neste começo de 2024, um pouco mais que a metade das matrículas no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Entomologia são de mulheres cientistas, provando, mais uma vez, que potencial para grandes realizações não falta. Quando olhamos os números do mestrado especificamente neste semestre, há uma participação feminina menor (aproximadamente 40%), mas ainda muito substancial. Juntas, mestrandas e doutorandas são 42 estudantes, de diversos perfis, dedicadas a produzir conhecimento em um ambiente historicamente dominado por homens. 

E este 8 de março, vale destacar, tem um tom diferente para o corpo discente do PPG, que é representado, pela primeira vez em cinco anos, por duas mulheres. As doutorandas Marina Moreira e Gabriela Santos de Paula, eleitas para o cargo em dezembro, acabam de assumir seus postos, já de olho no poder da representatividade. “É nítido que o ambiente científico está mudando, está ficando aos poucos mais aberto às mulheres, mas ainda há gestos, palavras, detalhes que nos colocam muitos desafios pela frente. E, neste contexto, penso que a representação discente ser composta por duas mulheres é algo que causa impacto, que é necessário”, avalia Gabriela. 

Apesar do conforto de fazer parte de um grupo bastante numeroso, ao menos no que diz respeito às estudantes, Marina e Gabriela chamam a atenção para presença restrita de mulheres orientadoras, que exercem um papel importante de inspiração. “Eu tenho uma relação de muitos anos com a Karla (professora Karla Yotoko, do Laboratório de Bioinformática e Evolução), e aprendo muito com esse convívio”, conta Marina. “Primeiro, aprendo que é possível. A carreira que eu almejo é essa, de professora universitária, e ela me permite ver que é possível. E, depois, ela me mostra que você não precisa estar sempre se colocando como superior, preocupada com o poder, que é possível ser firme e ao mesmo tempo acolher as pessoas.” 

Gabriela chegou há pouco no Laboratório de Interações Inseto-Microrganismo, coordenado pelo professor Simon Elliot, e diz que as portas se abriram exatamente pela atuação de duas mulheres, as pós-doc Thairine Mendes e Elenir Queiroz. “Foi com elas que conversei primeiro, e foram elas que me encorajaram, que me mostraram que havia espaço para o meu trabalho”, conta Gabriela. Sua fonte de inspiração fica ainda mais enriquecida quando ela avalia o perfil das colegas de laboratório, ambas exemplos de onde é possível chegar no trabalho com a entomologia. “Isso também é muito interessante, ver perfis diferentes de mulheres de sucesso. Cada uma tem suas características próprias, e provam que não existe uma forma só de atuação feminina na ciência.” 

A missão de representar tantas dezenas de pós-graduandas também é fonte de inspiração para Marina e Gabriela, principalmente pelo potencial que veem em muitas das colegas. “Eu vejo trabalhos de alta qualidade, basta observar as revistas que conseguem publicar, as experiências internacionais, as colocações importantes que muitas conseguem após o doutorado. Vejo as estudantes tendo um sucesso equivalente ao dos homens, sem dúvida nenhuma.”, diz Marina, destacando os feitos das colegas mesmo em um ambiente de desigualdade. “Não há diferença entre o trabalho realizado pelas mulheres e pelos homens. Desde que cheguei no doutorado, tive oportunidade de fazer várias disciplinas, com muitas pessoas diferentes, e não há diferença determinada pelo gênero”, completa Gabriela. 

Além da ciência
A determinação por seguir cuidando de bandeiras deste tipo, além dos aspectos puramente científicos do PPG, foi um dos fatores que motivaram a dupla a assumir o cargo, especialmente depois do trabalho realizado ao longo de 2023 pelos representantes Samuel Santos e Lorene Reis. “Eles conseguiram um clima de união diferente, que transformou o clima no Programa. As relações entre os estudantes dos diferentes laboratórios da entomologia melhoraram muito, o que é fundamental para que a gente se sinta mais acolhida”, diz Gabriela. 

Especificamente no que diz respeito às condições de trabalho para as mulheres, a representação promete redobrar os esforços. “Eu acho que os desafios estão aos poucos sendo aliviados, mas a gente ainda precisa se provar um pouco mais. A gente percebe que quando você se sai muito bem em determinada atividade, por exemplo, ainda existe uma certa surpresa, alguns professores tendem a desafiar para que a gente prove um pouco mais (do que os homens) a nossa capacidade. A gente precisa de um pouco mais de persistência para ter sucesso, e acho que o nosso papel é seguir desafiando, e mostrando que a gente realmente merece estar ali para ocupar cada vez mais esse espaço”, destaca Marina. 

Fotos: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Pesquisadores levam seus trabalhos ao X Congresso Brasileiro de Micologia

Uma comitiva de nove pesquisadores vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Entomologia esteve em Belo Horizonte, na última semana, na décima edição do Congresso Brasileiro de Micologia. O professor Simon Elliot, recém-chegado de um período no Reino Unido, coordenou o simpósio “Fungos para o controle de artrópodes”, e a pós-doc Thairine Mendes coordenou o simpósio “FungOmics: genômica e transcriptômica de Ascomycota e Basidiomycota”. Sete estudantes vinculados ao Laboratório de Interações Inseto-Microrganismo apresentaram seus trabalhos nas sessões de posters. 

“Foi uma oportunidade de reunir pelo menos uma parte do nosso grupo, depois de eu ter ficado um ano fora. Pudemos interagir e trocar com vários grupos com os quais a gente colabora, e também assistir outras coisas do mundo da micologia. Todos nós vimos várias coisas interessantes, de várias universidades brasileiras e estrangeiras”, diz Simon. 

“Estar num congresso de fungos como entomologista é uma oportunidade de estudar as interações que a gente trabalha numa perspectiva diferente”, diz Thairine. “Acho que é uma oportunidade de conhecer novas técnicas, pensar em outras abordagens dos nossos trabalhos e considerar outras aplicações para a nossa pesquisa também. Além disso, é uma chance de descobrir que há mais pesquisadores trabalhando com interações inseto-fungo pelo mundo, descobrindo coisas muito legais.”

INCT
Ao final do Congresso, o grupo aproveitou para fazer a primeira reunião presencial do recém-criado INCT de Bioinsumos Inovadores, do qual Simon é vice-coordenador. “Foi um encontro para discutirmos vários assuntos com os pesquisadores com os quais estaremos trabalhando, inclusive alguns que eu ainda não conhecia pessoalmente.”  

O INCT, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi criado em 2023 com a meta de desenvolver uma rede de pesquisa em insumos biológicos capazes de atender aos setores agrícola, pecuário e da saúde. O grupo trabalha em atividades voltadas para a formação de recursos humanos, para o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema no Brasil e outras ações que possam ajudar a criar políticas públicas para regular o uso de bioinsumos no país.

Coleção especial traz 14 artigos sobre Drosophila suzukii em regiões neotropicais

A revista Neotropical Entomology acaba de publicar uma coleção especial sobre a Drosophila suzukii, praga que ameaça as plantações de frutas de casca fina em todo o mundo. A publicação especial “Potential ecological interactions and challenges for the management of Spotted-Wing Drosophila in recently invaded regions” reúne 14 artigos com foco especial na região neotropical e tem edição dos professores Eugênio Oliveira, orientador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFV, e Flávio Garcia, da Universidade Federal de Pelotas. 

Esta é a primeira vez que uma publicação reúne trabalhos sobre o manejo da praga em solo neotropical. “O nosso manejo da Drosophila suzukii é geralmente importado da Europa e dos Estados Unidos, e não necessariamente inclui as melhores soluções para a gente. A ideia, com essa coleção, é falar das nossas dores e fortalezas para enfrentar essa praga e mostrar como essa experiência neotropical pode enriquecer e trazer mais possibilidades para outras regiões, em especial as áreas recentemente invadidas”, explica Eugênio.

Os 14 artigos reúnem o trabalho de 55 pesquisadores da região neotropical, além da colaboração de entomologistas europeus. Os editores Eugênio e Flávio assinam também um editorial, que traz informações gerais sobre a publicação e alguns dos destaques dos artigos. Na região Neotropical (notadamente Brasil, Argentina, Uruguai, México e Chile), 64 espécies de plantas, de 25 famílias, foram identificadas como capazes de hospedar  Drosophila suzukii. “No Brasil, o impacto maior é sentido nas plantações de morango e, especialmente no Sul do país, e pêssego”, diz Eugênio. Em Minas Gerais, a presença da D. suzukii foi registrada pela primeira vez em 2017, na região de Ervália, pela equipe coordenada por Eugênio.

Entre as contribuições que os pesquisadores locais oferecem ao debate mundial em torno do manejo da praga estão isolados de nematóides que, de acordo com as pesquisas iniciais, podem ter efeito sob o inseto e parasitóides da região que se mostram mais eficientes do que os que estão disponíveis hoje na europa. “Parte deste conhecimento está disponível nesses artigos. Existem plantas nossas que servem para desenvolvimento de moléculas com grande potencial para controlar essa praga também. A diversidade de hospedeiros que temos aqui na região, a variação climática, tudo isso são variações relevantes e podem contribuir.”

A Revista Neotropical Entomology é uma publicação da Sociedade Entomológica do Brasil, com 50 anos de história. A coleção sobre D. suzukii é a terceira já publicada pela revista. O debate sobre a praga vem chamando cada vez mais atenção em função do poder de destruição que ela oferece às plantações. “A infestação acontece no campo e, no Brasil, temos apenas uma ferramenta de controle, um inseticida usado para atrair os insetos. As demais opções, os agentes de controle biorracional, ainda estão sendo empiricamente utilizadas. É um processo ainda em maturação.”

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Sara Magalhães, da Universidade de Lisboa, apresenta palestra em Viçosa dia 26

A professora Sara Magalhães, da Universidade de Lisboa, apresentará palestra em Viçosa, no próximo dia 26, às 16h, no auditório do Bioagro. Pesquisadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, Sara vai abordar o tema “Limits to adaptation in spider mites“, apresentando parte do trabalho que tem desenvolvido com sua equipe em Lisboa. Na mesma visita ao Brasil, a professora ministrará aulas durante o Programa de Formação em Ecologia Quantitativa do Instituto Serrapilheira, na região Serrana do Rio de Janeiro. 

Doutora pela University of Amsterdam, Sara foi orientada por Arne Janssen, que também é professor do Programa de Pós-Graduação em Entomologia. “Ele é umas das pessoas responsáveis por eu continuar a fazer ciência ainda hoje!” Mas seu vínculo com o Brasil nasceu antes, ainda no início da sua formação, em 1997, quando ela esteve por seis meses na Embrapa Mandioca e Fruticultura, em Cruz das Almas (BA). “Depois, durante o meu doutorado em Amsterdam, eu convivi muito também com Angelo Pallini e Madelaine Venzon, ambos vinculados ao PPG Entomologia. E finalmente, em 2019, eu tive um estudante de pós-doutoramento, Raul Costa Pereira, que agora é professor na Universidade de Campinas, e com quem eu sigo em contato.”

A palestra de Sara na UFV será aberta a todos os interessados, com foco especial nos pós-graduandos em Entomologia e Ecologia.