Professora de Groningen reabre seminários com palestra online

O Programa de Pós-Graduação em Entomologia inicia os seminários do segundo semestre letivo de 2020 nesta quinta, com palestra da pesquisadora brasileira radicada na Holanda Joana Falcão Salles. Joana é professora titular da Universidade de Groningen, na cidade de Groningen, onde se dedica, especialmente, à microbiologia de solo. Em seus trabalhos mais recentes, ela vem focando na aplicação deste conhecimento a estudos relacionados aos insetos, em sua condição de hospedeiros. Nesta quinta, ela fala pela primeira vez aos alunos da Entomologia sobre o tema, na palestra “A microbial perspective of insects”

Graduada em Agronomia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e mestre em fitotecnia pela UFRRJ e Embrapa, Joana cursou doutorado em ecologia microbiana na Universidade de Leiden, também na Holanda. “Eu sempre quis ter experiência internacional, por isso fiz o doutorado fora. A intenção era voltar para o Brasil, mas infelizmente na época em que terminei o doutorado, não existiam muitas oportunidades de trabalho no país”, conta a professora. 

As pesquisas de Joana na Universidade de Groningen estão focadas nas causas e consequências das comunidade microbianas para os ecossistemas e os hospedeiros que elas habitam. “Comecei com solos e plantas, estudando como as comunidades microbianas se formam, como os microrganismos interagem entre si (causas). Também estudo como as comunidades microbianas contribuem para o funcionamento dos ecossistemas e hospedeiros. As principais perguntas são: qual é a importância da diversidade microbiana para o desenvolvimento do hospedeiro – ou para processos associados ao solo, como ciclagem de nutrientes (no caso de microrganismos de vida livre)? Comunidades mais diversas são mais estáveis e resilientes a distúrbios? Como a interação entre microorganismos e outros organismos (plantas, insetos) contribui para a capacidade do ambiente de lidar com distúrbios associados à mudança climática?”, exemplifica ela. 

Na etapa atual de seu trabalho, Joana busca os princípios que unificam as teorias de ecologia microbiana em hospedeiros, investigando, por exemplo, como se formam as comunidades microbianas, qual controle o hospedeiro tem sobre esse processo e quais espécies de microrganismos são essenciais para o hospedeiro. “Os insetos representam um hospedeiro interessante pois permitem responder a essas perguntas através de experimentos de laboratório e campo, além da conhecida importância de microorganismos para insetos do ponto de vista de nutrição. Também trabalho com pássaros, plantas, artrópodes e ratos.” 

Intercâmbio

Apesar de estar na Holanda desde o doutorado, concluído em 2005, Joana mantém contato constante com a comunidade científica brasileira. “Temos ótimos profissionais de ecologia microbiana no Brasil, com o quais trabalho mais diretamente, e a qualidade dos alunos brasileiros é normalmente superior a dos alunos europeus”, avalia dela, destacando que dentre os 11 alunos de doutorado que ela orientou, os dois com melhor desempenho são brasileiros, escolhidos através de processo seletivo holandês, e com financiamento total do Governo local. Em seu laboratório na Holanda, a professora também já recebeu vários alunos para doutorado sanduíche, com bolsas do CNPq e CAPES. “Infelizmente essas bolsas estão cada vez mais escassas e, no meu grupo atual, de 17 alunos, temos várias nacionalidades, menos a brasileira.” 

Segundo a pesquisadora, a decisão de cursar o doutorado fora do Brasil – e em seguida solidificar sua carreira em ambiente internacional – a ajudou a dimensionar as qualidades do modelo de ensino brasileiro. “A oportunidade que temos de começar com a iniciação científica tão cedo, assim como o amplo currículo da biologia, agronomia, etc, são aspectos que não damos valor enquanto estudantes, e talvez até mesmo como profissionais. Tive a sorte de fazer parte de um grupo seletivo que cursou uma universidade pública, e tenho orgulho do nível acadêmico e científico que encontrei nos meus anos no Brasil.” Na Holanda, os cursos de bacharelado duram três anos e, segundo a professora, oferecem pouca oportunidade de pesquisa nesse período. “Isso influencia muito a maturidade e interesse dos alunos.”

Na avaliação de Joana, os pesquisadores brasileiros são, de forma geral, bem vistos na Holanda (e também em outras partes a Europa). Isso não elimina, porém, os desafios vividos por ela ao longo dos anos. “Ser estrangeira e mulher na ciência na Holanda não é fácil, e tenho que dizer que apesar de ter ótimos colegas, ainda sofro, quase que diariamente, preconceito por conta de sexo ou nacionalidade. Acho que o fato de ser mulher, inclusive, pesa mais do que ser estrangeira (menos de 20% dos professores titulares da Holanda são mulheres)”, conta ela, que tem outros seis colegas brasileiros entre os professores titulares da mesma universidade. “São todos ótimos profissionais e, curiosamente, a maioria mulheres!”

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