Perfil: Khalid Haddi

O pesquisador marroquino Khalid Haddi está no Brasil, mais precisamente em Viçosa (MG), há três meses, para o pós-doutorado em Entomologia. Natural da cidade de Agadir, Khalid é Engenheiro Agrônomo, com ênfase em Horticultura, pelo Instituto Agronômico e Veterinário de Hassan, no Marrocos. Além do seu país de origem, a formação acadêmica de Khalid passa por vários outros países.

Khalid fez mestrado na University of Copenhagen, na Dinamarca, e doutorado na Università degli Studi di Catania, na Itália, onde pesquisou sobre a resistência de Tuta absoluta a inseticidas. Ele também morou por um ano na Inglaterra. Atualmente, na Universidade Federal de Viçosa, Khalid pesquisa sobre interações moleculares entre inseticidas e seu sítio de ação.

Desde novembro de 2013 no Brasil, Khalid conta que vai se acostumando passo a passo com a vida brasileira. Em especial, vai se acostumando com o idioma, a principal dificuldade encontrada por aqui. Para facilitar o aprendizado, ele vai iniciar um curso de língua portuguesa. “Eu gosto de aprender a língua local dos países onde estou. O português é o meu próximo desafio” – afirma.  Mas para ele que já fala árabe, francês, inglês, espanhol, italiano e dinamarquês, dominar o português é apenas questão de tempo, ainda mais que a previsão é que ele fique por aqui pelos próximos três anos.

Khalid veio para o Brasil através do programa Ciência sem Fronteiras, na modalidade Bolsa Jovens Talentos, que busca atrair jovens cientistas. De acordo com o professor da Entomologia, Eugenio Eduardo de Oliveira, orientador do pesquisador marroquino, “Khalid deve ser o único estrangeiro dessa modalidade em um programa de pós-graduação em Entomologia no Brasil”.

Para Khalid, “o Brasil é uma terra de oportunidades”, por isso ele está aqui. O interesse em vir para o país surgiu a partir de um contato que ele fez com o professor da Entomologia, Raul Narciso Guedes, durante um congresso sobre Tuta absoluta, realizado no Marrocos. Morando em Viçosa, Khalid avalia que a cidade reflete a imagem do próprio Brasil: “pessoas jovens, com futuro e possibilidades de crescimento”.

Ele conta que a sua adaptação tem sido tranquila, em grande parte, devido ao fato da Pós-Graduação em Entomologia da UFV estar recebendo um número crescente de estudantes e pesquisadores estrangeiros. Isso possibilita aos integrantes do Programa mais interações com pessoas vindas de outros países.

Khalid revela que no Brasil, e em especial em Viçosa, não se sente um estrangeiro, se sente em casa. “Aqui, tem um povo de braços abertos aos estrangeiros, te ajudam sempre”. Apesar de se sentir em casa e gostar da comida mineira, Khalid sente falta da culinária marroquina. Ele destaca os dois pratos típicos mais famosos do Marrocos: o cuscuz (que não é nada parecido com o brasileiro) e a tajine (prato que leva o mesmo nome da panela onde é feito, uma panela de barro com tampa cônica que cozinha os alimentos no vapor). Khalid explica que o modo de se cozinhar no tajine é mais tradicional, se cozinha de tudo um pouco e a comida fica mais saborosa. Por isso, na sua próxima viagem ao Marrocos, ele pretende trazer um tajine para o Brasil.

A exemplo de Khalid, mais de 3% da população marroquina vive fora do país. “Muitos estão em países europeus, no Canadá e nos Estados Unidos. Mas é possível encontrar marroquinas e marroquinos pelo mundo todo, até aqui, em Viçosa” – conta sorrindo.

Khalid afirma que o intercâmbio de culturas é uma característica do seu país. “O Marrocos é uma mistura. Tem de tudo. O que quiser pode encontrar por lá. A palavra chave é abertura” – revela. Ele menciona uma citação de um antigo rei marroquino que define bem o seu país: “Marrocos é como uma árvore, com as raízes na África, mas cujas folhas respiram o ar europeu”.

Além dessa confluência, a estratégica localização geográfica do Marrocos tem despertado cada vez mais o interesse econômico de outros países, inclusive do Brasil. Khalid destaca que existem muitas convenções de impostos com outros países, aumentando as possibilidades para se alcançar outros mercados através do Marrocos.

Quando o assunto é o espaço da mulher marroquina, Khalid adverte: “Marrocos não é O Clone!” – referindo-se à novela brasileira que teve o país como cenário principal. Apesar dos “clichês e da visão exagerada”, Khalid acha legal essa relação que os brasileiros fazem com a novela, pois quando ele fala que veio do Marrocos, todo mundo fala do Clone. “É legal porque ao menos conhecem o Marrocos”.

Ele também ficou feliz com a realização do Mundial de Clubes da FIFA 2013 no seu país. O evento atraiu milhares de brasileiros ao Marrocos. “Para se conhecer um país, tem que visitá-lo. Cada país tem aspectos particulares, e você tem que ir para ver e viver esses aspectos” – avalia.

Questionado sobre possíveis destinos que deseja conhecer após o Brasil, Khalid afirma: “Você começa a viajar e começa a pensar que tem muitos lugares, muitas culturas a conhecer e que não tem muito tempo. O Brasil é bastante grande. Para os próximos anos tenho planos de conhecer o Brasil, que é quase um continente” – conta manifestando o seu desejo de permanecer por aqui.

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