Estudo indica resistência de insetos a produto ainda não liberado para controle de pragas de grãos armazenados no Brasil

Em artigo publicado no Journal of Economic Entomology, pesquisadores da UFV revelam os resultados de um estudo que avaliou o inseticida indoxacarbe para uma potencial utilização no controle do gorgulho Sitophilus zeamais Motschulsky (Coleoptera: Curculionidae). Esse inseticida ainda não foi autorizado para o controle de pragas de grãos armazenados no Brasil. O artigo intitulado “Metabolic and Behavioral Mechanisms of Indoxacarb Resistance in Sitophilus zeamais (Coleoptera: Curculionidae)” é de autoria do pesquisador marroquino Khalid Haddi, que, atualmente, faz pós-doutorado em Entomologia na UFV, sob a supervisão do professor Eugenio Eduardo de Oliveira.

Os autores estudaram a toxicidade de indoxacarbe em 13 diferentes populações de S. zeamais e investigaram os mecanismos metabólicos e comportamentais usados pelo gorgulho para atenuar a ação do inseticida. Para o estudo, as populações de S. zeamais foram coletadas em diferentes regiões do Brasil. Dez populações foram obtidas entre os anos de 2009 e 2011, em Balsas (MA), Canarana (MT), Cristalina (GO), Teresina (PI), Xapuri (AC), Espírito Santo do Pinhal e Piracicaba (SP), Ipojuca, Igarassu e São João (PE). Outras três populações, coletadas em Jacarezinho (PR), Sete Lagoas e Juiz de Fora (MG), foram obtidas a partir de laboratório, cujos níveis de resistência a inseticidas do grupo dos piretróides foram descritos anteriormente.

Para avaliar os mecanismos de resistência ao indoxacarbe com base no metabolismo de S. zeamais, os autores utilizaram bioensaios de concentração-mortalidade, na presença de três agentes sinérgicos (butóxido de piperonil, fosfato de trifenil e maleato de dietil). Eles também avaliaram as respostas comportamentais de locomoção dos insetos após a exposição das populações ao inseticida.

Os resultados da pesquisa mostraram diferenças significativas entre as populações, com índices de resistência maiores que 200 vezes entre as populações menos suscetíveis (Canarana-MT) e mais suscetíveis (Espirito Santo do Pinhal-SP). Os resultados obtidos com indoxacarbe e os agentes sinérgicos sugerem o envolvimento de esterases e glutationa-S-transferase na ação do indoxacarbe, e também sugerem o envolvimento da citocromo P450 monoxigenases-dependente como um potencial mecanismo de resistência a indoxacarbe.

De acordo com o estudo, apesar de o comportamento de evitar o contato com o inseticida ter variado entre as populações, algumas populações resistentes, como Canarana (MT), foram capazes de reduzir a exposição ao indoxacarbe por passar mais tempo em áreas não tratadas. Outras populações, como por exemplo, Igarassu (PE) e Jacarezinho (PR), mostraram diferença em alguns parâmetros de locomoção em áreas tratadas e não tratadas, geralmente mostrando valores menores nas áreas não tratadas. Assim, as descobertas indicam que mecanismos de resistência metabólicos e comportamentais podem comprometer a eficácia de inseticidas do grupo químico oxadiazina, como o indoxacarbe, no controle de populações brasileiras de S. zeamais.

O autor do trabalho, Khalid Haddi, destaca que “embora o indoxacarbe não seja ainda autorizado no Brasil para ser utilizado em grãos armazenados, algumas populações já apresentam níveis muito elevados de resistência. Isso pode estar relacionado com um contato indireto dos gorgulhos do milho com indoxacarbe a níveis de campo, uma vez que este inseticida tem sido usado para o controle de lepidópteros praga. E isso torna mais difícil, o já complexo controle de pragas de grãos armazenados no Brasil”.

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