Pesquisadores do Laboratório de Interação Inseto-Planta da UFV publicaram um artigo no Scientific Reports, periódico pertencente ao Nature Publishing Group. O artigo “Resistance to dual-gene Bt maize in Spodoptera frugiperda: selection, inheritance, and cross-resistance to other transgenic events” , de autoria do doutor em Entomologia Oscar Fernando Santos-Amaya, foi publicado no mês de dezembro/2015 e teve o objetivo de “caracterizar a resposta à seleção por plantas transgênicas de segunda geração (‘piramidadas’) em um inseto-alvo e testar se a resistência selecionada pode causar resistência cruzada a outras cultivares transgênicas, produzindo proteínas de Bacillus thuringiensis (Bt)”.
Para o estudo, que contou com a supervisão do professor Eliseu José Guedes Pereira, os pesquisadores utilizaram o lepidóptero Spodoptera frugiperda como modelo e fizeram um experimento de seleção expondo os insetos a um cultivar de milho transgênico Bt piramidado, contendo os transgenes cry1A.105 e cry2Ab. Os insetos selecionados em laboratório foram provenientes do campo no oeste da Bahia, onde alguns cultivares Bt já apresentavam perda de eficácia contra o inseto fitófago em estudo.
O pós-doc Oscar e o professor Eliseu descrevem a metodologia empregada: “após a seleção, realizamos cruzamentos genéticos recíprocos entre insetos resistentes e suscetíveis para determinar o modo de herança da resistência. Posteriormente, comparamos taxas de crescimento populacional (fitness) dos insetos resistentes no milho Bt e não-Bt para testar se a resistência era completa ou incompleta. Por fim, no que foi talvez a pesquisa de maior implicação prática e o ponto mais forte do artigo, testamos se a seleção de resistência ao milho Bt piramidado aumenta a resistência da lagarta a outras proteínas Bt da classe Cry1 e Vip, as quais são usadas concomitantemente em cultivares Bt no Brasil e nos Estados Unidos”.
O estudo mostrou que “apenas 11 gerações de seleção são suficientes para que os insetos expostos continuamente ao milho Bt tornassem resistentes a ponto de conseguirem completar o ciclo de vida nas plantas, que inicialmente matavam 80-90% deles. Esta rápida seleção de resistência seria equivalente a dois anos de plantio do cultivar Bt piramidado sem qualquer fator que amenize a pressão seletiva exercida pelas plantas na população do inseto”.
Os pesquisadores destacam que “as plantas transgênicas Bt piramidadas (isto é, aquelas que produzem duas ou mais toxinas Bt com diferentes modos de ação contra um inseto-alvo) representam a mais moderna tendência no uso racional de plantas transgênicas resistentes a insetos na agricultura mundial. Contudo, inexistiam estudos sobre a resposta evolutiva de uma espécie-alvo à pressão seletiva exercida por estas plantas. Estes estudos fornecem importante conhecimento científico para recomendar práticas que visam maximizar a durabilidade de eficácia destas plantas Bt para manejo de populações de insetos-praga na agricultura. Parte desta lacuna foi preenchida pelo nosso estudo com uma linhagem de S. frugiperda resistente a um cultivar de milho Bt piramidado, permitindo, pela primeira vez, determinar o modo de herança da resistência simultânea a duas toxinas Bt e decifrar parte das consequências associadas à aquisição da resistência”.
Os autores ainda acrescentam que “a disponibilidade da linhagem resistente obtida no estudo possibilita investigar a base genética, bioquímica e molecular da resistência, o que pode auxiliar a refinar recomendações para manejo da resistência no campo e fornecer novas evidências para melhor entender a rota intoxificativa de Bt em insetos. Por fim, esta linhagem permitirá também investigar os efeitos pleitrópicos dos genes de resistência no fitness dos insetos, o que será tema de futuras publicações científicas relevantes”.