Alunas ganham mais representatividade e buscam referência na ciência feita por mulheres

Neste começo de 2024, um pouco mais que a metade das matrículas no doutorado do Programa de Pós-Graduação em Entomologia são de mulheres cientistas, provando, mais uma vez, que potencial para grandes realizações não falta. Quando olhamos os números do mestrado especificamente neste semestre, há uma participação feminina menor (aproximadamente 40%), mas ainda muito substancial. Juntas, mestrandas e doutorandas são 42 estudantes, de diversos perfis, dedicadas a produzir conhecimento em um ambiente historicamente dominado por homens. 

E este 8 de março, vale destacar, tem um tom diferente para o corpo discente do PPG, que é representado, pela primeira vez em cinco anos, por duas mulheres. As doutorandas Marina Moreira e Gabriela Santos de Paula, eleitas para o cargo em dezembro, acabam de assumir seus postos, já de olho no poder da representatividade. “É nítido que o ambiente científico está mudando, está ficando aos poucos mais aberto às mulheres, mas ainda há gestos, palavras, detalhes que nos colocam muitos desafios pela frente. E, neste contexto, penso que a representação discente ser composta por duas mulheres é algo que causa impacto, que é necessário”, avalia Gabriela. 

Apesar do conforto de fazer parte de um grupo bastante numeroso, ao menos no que diz respeito às estudantes, Marina e Gabriela chamam a atenção para presença restrita de mulheres orientadoras, que exercem um papel importante de inspiração. “Eu tenho uma relação de muitos anos com a Karla (professora Karla Yotoko, do Laboratório de Bioinformática e Evolução), e aprendo muito com esse convívio”, conta Marina. “Primeiro, aprendo que é possível. A carreira que eu almejo é essa, de professora universitária, e ela me permite ver que é possível. E, depois, ela me mostra que você não precisa estar sempre se colocando como superior, preocupada com o poder, que é possível ser firme e ao mesmo tempo acolher as pessoas.” 

Gabriela chegou há pouco no Laboratório de Interações Inseto-Microrganismo, coordenado pelo professor Simon Elliot, e diz que as portas se abriram exatamente pela atuação de duas mulheres, as pós-doc Thairine Mendes e Elenir Queiroz. “Foi com elas que conversei primeiro, e foram elas que me encorajaram, que me mostraram que havia espaço para o meu trabalho”, conta Gabriela. Sua fonte de inspiração fica ainda mais enriquecida quando ela avalia o perfil das colegas de laboratório, ambas exemplos de onde é possível chegar no trabalho com a entomologia. “Isso também é muito interessante, ver perfis diferentes de mulheres de sucesso. Cada uma tem suas características próprias, e provam que não existe uma forma só de atuação feminina na ciência.” 

A missão de representar tantas dezenas de pós-graduandas também é fonte de inspiração para Marina e Gabriela, principalmente pelo potencial que veem em muitas das colegas. “Eu vejo trabalhos de alta qualidade, basta observar as revistas que conseguem publicar, as experiências internacionais, as colocações importantes que muitas conseguem após o doutorado. Vejo as estudantes tendo um sucesso equivalente ao dos homens, sem dúvida nenhuma.”, diz Marina, destacando os feitos das colegas mesmo em um ambiente de desigualdade. “Não há diferença entre o trabalho realizado pelas mulheres e pelos homens. Desde que cheguei no doutorado, tive oportunidade de fazer várias disciplinas, com muitas pessoas diferentes, e não há diferença determinada pelo gênero”, completa Gabriela. 

Além da ciência
A determinação por seguir cuidando de bandeiras deste tipo, além dos aspectos puramente científicos do PPG, foi um dos fatores que motivaram a dupla a assumir o cargo, especialmente depois do trabalho realizado ao longo de 2023 pelos representantes Samuel Santos e Lorene Reis. “Eles conseguiram um clima de união diferente, que transformou o clima no Programa. As relações entre os estudantes dos diferentes laboratórios da entomologia melhoraram muito, o que é fundamental para que a gente se sinta mais acolhida”, diz Gabriela. 

Especificamente no que diz respeito às condições de trabalho para as mulheres, a representação promete redobrar os esforços. “Eu acho que os desafios estão aos poucos sendo aliviados, mas a gente ainda precisa se provar um pouco mais. A gente percebe que quando você se sai muito bem em determinada atividade, por exemplo, ainda existe uma certa surpresa, alguns professores tendem a desafiar para que a gente prove um pouco mais (do que os homens) a nossa capacidade. A gente precisa de um pouco mais de persistência para ter sucesso, e acho que o nosso papel é seguir desafiando, e mostrando que a gente realmente merece estar ali para ocupar cada vez mais esse espaço”, destaca Marina. 

Fotos: Rodrigo Carvalho Gonçalves

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