Pesquisa sobre fungo que manipula comportamento de formigas repercute na mídia internacional

Um fungo que transforma formigas em zumbis as induz a morrerem perto do ninho, garantindo assim, novos hospedeiros. Essa foi uma das principais descobertas de uma pesquisa iniciada na UFV, pela então estudante do mestrado em Entomologia, Raquel Gontijo Loreto. O estudo publicado na PLoS One, no dia 18 de agosto, atraiu a atenção de veículos de comunicação como The New York Times e The Washington Post. O assunto também teve grande repercussão nas redes sociais. Apenas via IFLSCience, site de popularização da ciência,  a publicação atingiu mais de 29 mil compartilhamentos.

Os dados da pesquisa foram coletados na Mata do Paraíso, na cidade de Viçosa (Minas Gerais). Durante vinte meses, a atual doutoranda em Entomologia na Penn State University, Raquel Loreto, juntamente com as estudantes de Ciências Biológicas da UFV, Mayara Freitas e Thairine Pereira, monitoraram quatro ninhos de formiga da espécie Camponotus rufipes, hospedeira do fungo parasita Ophiocordyceps camponoti-rufipedis. Essa foi a primeira vez que a imunidade social em colônias de formiga foi investigada em campo. Estudos anteriores haviam investigado a relação parasita-hospedeiro apenas em laboratório.

A imunidade social é um mecanismo de defesa utilizado por insetos como abelhas, cupins e formigas. Eles desenvolvem ações coletivas para prevenir e controlar a propagação de doenças. Diante disso, o parasita precisa encontrar estratégias para driblar essa imunidade. O fungo O. camponoti-rufipedis manipula as formigas que ele infecta para morrer perto de suas colônias, onde outras formigas têm que passar para sair à procura de comida. Isso garante ao parasita sucesso reprodutivo e um fluxo constante de novos hospedeiros. Com a transmissão ocorrendo fora do ninho, o parasita evita diferentes níveis de respostas imune-sociais. A pesquisa demonstrou que o sistema de defesa é muito eficiente quando as formigas estão dentro do ninho, o mesmo não acontece fora dele.

Raquel explica que após ser infectada, a formiga vai morrendo aos poucos, leva de duas a três semanas até morrer. Nesse período, o fungo se disfarça de formiga e fica nas imediações da colônia. A doutoranda destaca que “na região neotropical, as formigas têm um peso muito grande no ecossistema, são 2% das espécies de insetos e correspondem a 50% de toda a biomassa.  O interessante é que mesmo as formigas tendo uma organização social muito complexa, o fungo que é um micróbio, uma forma de vida bem simples, infecta a formiga e é capaz de controlar o que ela faz. A formiga doente não segue a trilha normalmente. O fungo faz com que ela suba numa planta, morda e fique por ali, perto da colônia”. Após a morte do hospedeiro, emerge uma haste a partir do seu corpo para dispersão dos esporos que vão infectar outras formigas, dando continuidade ao ciclo reprodutivo do fungo. O parasita representa uma infecção crônica nas sociedades de formigas.

Formigas zumbis

O termo formigas zumbis desperta o interesse das pessoas, inclusive fora do meio científico. Muitos tendem a questionar se a manipulação que o fungo provoca na formiga, também não poderia ser provocada em humanos – comenta Raquel. Mas o fungo O. camponoti-rufipedis ataca apenas formigas da espécie Camponotus rufipes. A pesquisadora explica que “as formigas são chamadas de zumbis porque ainda não morreram, mas já não desempenham o papel que deveriam. Elas já não ajudam na reprodução da colônia, estão evolutivamente mortas”.

As pesquisas sobre formigas zumbis foram iniciadas por Raquel na UFV, durante o mestrado em Entomologia, sob a orientação do professor Simon Luke Elliot. Em 2011, Raquel foi para os Estados Unidos, onde está fazendo doutorado pleno na Universidade da Pensilvânia, sob a orientação do pesquisador David P. Hughes.

O artigo “Long-Term Disease Dynamics for a Specialized Parasite of Ant Societies: A Field Study” é o segundo trabalho de Raquel publicado sobre o tema. O primeiro artigo da autora foi publicado no ano passado, com o título “Foraging ants trade off further for faster: use of natural bridges and trunk trail permanency in carpenter ants”.

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