Projeto que mapeia toxicidade de agroquímicos a abelhas silvestres é destaque em evento da Rufford Foundation

A doutoranda Lívia Ferreira, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, teve o mérito de seu projeto destacado pela Fundação Rufford, ONG britânica que financia o trabalho de cientistas de países em desenvolvimento em todo o mundo. Lívia foi convidada a apresentar o desenvolvimento de sua pesquisa, focada na interação entre agroquímicos e abelhas, na II Conferência Brasileira de Projetos de Conservação da Biodiversidade, evento que reuniu em Recife os principais projetos financiados pela ONG no Brasil. Ao final do encontro, ela teve sua apresentação eleita uma das cinco melhores do país. 

Lívia teve seu trabalho financiado pela Rufford em 2020, quando ela ainda era mestranda em Ecologia, também pela UFV. Na época, já sob orientação da professora Maria Augusta Lima, do programa de Pós-Graduação em Entomologia, ela apresentou o projeto  Atratividade e toxicidade da interação entre agroquímicos a abelhas silvestres: subsídios para a conservação de polinizadores à Rufford, e foi contemplada. “Com esses recursos, fizemos compras voltadas para o projeto e teríamos um ano para concluir a pesquisa. Com a pandemia, o prazo foi estendido, e concluímos essa etapa do projeto em outubro do ano passado.”

Nesta época, ela já havia concluído o mestrado e conquistado sua vaga como doutoranda no PPG Entomologia. Depois da conclusão do mestrado, Lívia executou mais uma etapa do projeto, e é nessa linha de pesquisa que ela segue agora, no doutorado. “O trabalho que eu submeti é para investigar os efeitos de dois pesticidas: o glifosato, que é usado no mundo inteiro, e o acefato, que é um inseticida muito tóxico, proibido em muitos países, mas no Brasil ainda é o inseticida mais vendido”.  Sob orientação de Maria Augusta, a pesquisadora realizou testes em laboratório e, em meados do ano passado, acompanhou como colônias inteiras respondem a fontes de alimento contaminadas com os agroquímicos, em casas de vegetação. “Fiz um teste de preferência, para ver se as abelhas visitavam ou não alimento contaminado com os agroquímicos e se essa visitação era maior ou menor que a visita a alimentos não contaminados. Eu queria basicamente ver se elas eram atraídas, se percebiam ou se não percebiam a presença do inseticida ou herbicida. As abelhas são animais sociais, por isso queríamos estudar os efeitos também nas colônias, porque uma operária pode recrutar outra, e colônias inteiras podem ser prejudicadas pela exposição a esses compostos. ” 

Lívia com o grupo de cientistas brasileiros financiados pela Rufford

Com essa etapa terminada, Livia está agora em busca das condições climáticas adequadas para a terceira parte da pesquisa, que vai voltar a expor a colônia aos inseticidas, mas, desta vez, sem escolha. A intenção da pesquisadora é submeter essa nova etapa aos programas de financiamento da Rufford, que oferece bolsas exclusivas aos pesquisadores que já tiveram as etapas iniciais do trabalho contempladas. 

Para a professora Maria Augusta, a experiência de Lívia, além da evidente importância científica, tem o mérito de ter encontrado caminhos próprios para financiamento, alternativa de grande valia especialmente em tempos de escassez de investimento em pesquisas. “É uma estudante que trouxe recursos ao programa e isso, claro, incentiva outros pós-graduandos a encontrarem formas de financiar seus trabalhos. Essa habilidade de encontrar caminhos é, entre tantas outras, muito importante para os pesquisadores brasileiros.” 

A Rufford financia trabalhos diversos voltados à conservação ambiental. Visite o site da ONG aqui.

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