Artigo de pesquisadores da Entomologia UFV está entre os mais baixados da Ecological Entomology em 2019

Publicar um trabalho científico já é gratificante. Mas ter um artigo entre os mais baixados de uma revista é ainda melhor. Recentemente, pesquisadores da Entomologia UFV conquistaram este feito. O artigo intitulado “Termitariophily: expanding the concept of termitophily in a physogastric rove beetle (Coleoptera: Staphylinidae)” está entre os mais baixados no ano de 2019, na revista Ecological Entomology. O trabalho é fruto da dissertação de mestrado em Entomologia de Raul Marques Pisno, sob a orientação do professor Og DeSouza, em colaboração com os pesquisadores José Eduardo Serrão, José Lino Neto e Karen Andrea Salazar Niño. “Juntamos a expertise deles em biologia celular com o nosso entendimento de processos simbióticos em cupins, e o resultado foi este artigo. Mais um exemplo de que colaborações interdisciplinares dão bons frutos” – comemora o professor Og.

O trabalho foca num besouro da familía Staphylinidae, que habita cupinzeiros arbóreos de Constrictotermes cyphergaster, típicos da região do Cerrado. Esse besouro é facilmente confundido com os cupins-hospedeiros graças ao mimetismo alcançado por uma hipertrofia do seu abdômen. O professor Og explica que “sempre se pensou que essa hipertrofia tinha a única função de ‘confundir’ os cupins-hospedeiros do besouro. Mas o que mostramos neste paper é que essa hipertrofia, além de garantir o tal disfarce, é na verdade resultado de o fato do besouro ser vivíparo. Acontece de forma serial, dentro do abdômen da fêmea do besouro há pelo menos três ‘filhotes’ em estágios diferentes de desenvolvimento: um quase na hora de ser liberado, outro a meio termo e outro num estágio inicial – recém emergido do ovo. Isso implica que a fêmea está constantemente grávida”.

De acordo com o pesquisador, “a fêmea não tem uma espermateca bem desenvolvida e, por isso, não armazena esperma do macho, necessitando cruzamentos frequentes para manter-se em reprodução. Por estar constantemente grávida, é natural que ela necessite de se abrigar em algum ambiente protegido. Uma caverna seria bom, mas um cupinzeiro é ainda melhor porque lá há comida e há guardas – os cupins! Por precisarem de cruzamento constante, é necessário que ambos, machos e fêmeas, vivam juntos. Sendo assim, o mimetismo entre o besouro e seus cupins hospedeiros é uma consequência da viviparidade do besouro, mais do que uma causa da sua interação com os cupins”.

Og destaca que “a importância do artigo está em demonstrar com dados concretos que relações macro-simbióticas entre insetos sociais e seus ‘hóspedes’ podem ser estimuladas, facilitadas ou conduzidas em dois níveis. O nível mais evidente é interindividual, biótico: o invasor adota estratégias que garantem que um eventual encontro com o hospedeiro não resulte em expulsão. Esse ângulo sempre foi explorado nos estudos da área. O outro nível, muito pouco explorado e que é cabalmente comprovado neste paper, é o nível da estrutura física dos ninhos, ou seja, abiótico. A importância para além da termitologia & termitofilia é que não só os determinantes bióticos mas também os abióticos devem ser considerados em estudos de interações simbióticas”.

Pelos downloads registrados pela Ecological Entomology, a contribuição que este estudo traz foi logo reconhecida pela comunidade científica, e com a sensação de dever cumprido, o professor da Entomologia enfatiza: “É comum se pensar que basta publicar para se ter cumprido a função de cientista, mas isso é uma grande falácia. Publicar não é o fim. É preciso reconhecimento dos pares, e esse reconhecimento começa no registro dos downloads, mas só se consubstancia mesmo com o acúmulo de citações. Logo, o que atingimos com este paper é só o comecinho da nossa jornada”.

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