Pesquisadores identificam nova espécie de fungo capaz de manipular formigas

Uma coleta realizada em Ouro Preto em busca de elementos que pudessem evidenciar a relação entre fungos e vespas resultou na descrição de uma nova espécie de fungo, Ophiocordyceps acanthoponerae, capaz de infectar e manipular o comportamento de formigas. A descoberta foi feita pelo pós-doc Samuel Lima Santos, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, e descrita em sua tese de doutorado, defendida em junho. Agora, ele apresenta a novidade também em um artigo que acaba de ser publicado pela Fungal Systematics and Evolution (FUSE). Além de Samuel, assinam o texto o professor Simon Elliot, orientador do trabalho e coordenador do Laboratório de Interações Inseto-Microorganismo da UFV, Thairine Mendes Pereira, pós-doc do laboratório e coorientadora, João Araújo, coorientador e pesquisador do Museu de História Natural da Dinamarca, na University of Copenhagen, Rodrigo Feitosa, da Universidade Federal do Paraná, e Harry Evans, do CABI UK Centre. 

Os fungos do gênero Ophiocordyceps ficaram famosos por sua habilidade de controlar o comportamento de insetos. A espécie descoberta por Samuel pertence a uma nova linhagem desses fungos, filogeneticamente próxima a uma espécie que infecta vespas sociais, mas morfologicamente e molecularmente distinta das que, até então, eram conhecidas pela manipulação de formigas. A espécie de formiga infectada por essa nova espécie de fungo, Acanthoponera mucronata, é rara, de hábitos noturnos, difícil de ser coletada. “Vi aquelas formigas douradas infectadas ao longo da trilha, muito diferentes do que eu já tinha visto em registros, e coletei por precaução. Mostrei para o meu coorientador, o João Araújo, a maior referência atualmente nesses fungos zumbis no mundo. Ele identificou ali o potencial de que fosse algo totalmente novo, e fomos investigar.” 

Para identificar as formigas, Samuel recorreu ao professor Rodrigo Feitosa, especialista no gênero. “Ainda há pouca informação disponível sobre elas, mas a minha sorte é que o Feitosa é o maior especialista nelas no mundo. Não sabemos ainda as nuances da interação dessas formigas com essa nova espécie de fungo, precisamos investigar mais, entender o ciclo de infecção, como elas são afetadas, como isso afeta a colônia de uma maneira geral, ou seja, temos mais trabalho pela frente.” O processo de identificação e análise do material coletado teve também o reforço do pesquisador Harry Evans, micologista britânico, que esteve recentemente no Brasil, em visita ao PPG Entomologia. “É um trabalho muito especial para mim, minha estreia como micologista e também minha primeira espécie descrita como biólogo. Foi uma honra ter o Harry comigo, que é uma das maiores referências no estudo de fungos entomopatogênicos no mundo”, diz Samuel.

Contribuição inédita
A expectativa dos pesquisadores é que a descoberta de O. acanthoponerae tenha um papel importante na compreensão da evolução dos fungos manipuladores de insetos sociais. “Esse é o primeiro registro de formigas dessa tribo sendo infectadas por esses fungos. E o fato de elas terem características relacionadas a uma outra espécie que infecta vespas cria um elo entre esses dois grupos de insetos sociais e sua relação com Ophiocordyceps. E esse elo, provavelmente, terá um papel importante para ajudar a explicar o processo de evolução da manipulação comportamental exercida por esses fungos”. A descoberta também tem o potencial de contribuir de forma mais aplicada. “Quando a gente começa a entender mais sobre essa questão de quais são os grupos associados a esses fungos, a gente consegue também investigar os metabólitos, as estratégias que esses fungos usam, as substâncias que eles produzem para manipular esses insetos… E podemos usar esse conhecimento para o desenvolvimento de estratégias de controle de pragas, por exemplo.”

Fotos: Frederico Salles

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