Era fevereiro de 2015, há exatos 10 anos, quando Wilson Valbon, recém-formado engenheiro agrônomo, iniciou sua trajetória no Programa de Pós-Graduação em Entomologia. Hoje, mestre e doutor pelo PPG, ele é pesquisador entomologista da Bayer Crop Science, responsável pela análise de risco para produtos de biotecnologia. Wilson trabalha na unidade de Saint Louis, Missouri (EUA), e de lá atua com colegas de várias partes do mundo, incluindo egressos do PPG, com o desafio de atender às exigências do mercado e dos órgãos regulatórios de diferentes países. A vaga de pesquisador em uma das maiores multinacionais do ramo da agricultura não era exatamente o que ele tinha em mente quando iniciou sua trajetória, mas tornou-se um caminho natural depois das oportunidades de internacionalização que se abriram no doutorado.
“Minha primeira opção sempre foi Viçosa. Lembro perfeitamente, era 25 de fevereiro quando me matriculei no mestrado, orientado pelo professor Eugenio Oliveira. O trabalho era focado no efeito de pesticidas em organismos não-alvo, em insetos aquáticos predadores. Usava larvas do mosquito Aedes aegypti como modelo para entender a influência de pesticidas na interação presa-predador”, conta Wilson. Um ano e meio depois, ele defendeu sua dissertação e já deu início ao doutorado, também sob orientação de Eugenio. “Mudei um pouco a minha pesquisa. Continuei com o inseto aquático como modelo, mas foquei mais nas larvas do mosquito. E foi nesse momento que eu me aproximei do professor Gustavo Martins, que se tornou meu coorientador.”
No final de 2018, dois anos depois de iniciar o doutorado, Wilson conquistou, via Capes, uma bolsa de doutorado sanduíche e começou sua caminhada nos Estados Unidos. Sob orientação da professora Dra.K e Dong, na Universidade do Estado de Michigan (Michigan State University, MSU), ele iniciou os estudos sobre repelência de mosquitos, e conquistou mais um ano de bolsa, desta vez financiada pelo laboratório da professora. Em meados de 2020, em plena pandemia do coronavírus, depois de uma rápida passagem pelo Brasil, ele defendeu sua tese, mas manteve o vínculo como pesquisador do laboratório americano. No final do mesmo ano, Dra. Dong transferiu seu laboratório e pesquisa para a Duke University, no estado da Carolina do Norte, onde Wilson permaneceu como pós-doc até 2023. Nesse período, Wilson contribuiu para desvendar o modo de ação do piretro na repelência do mosquito Aedes aegypti.
“Minha ideia era ficar um ano por aqui, melhorar o inglês, aprender técnicas novas e voltar pro Brasil. Naquela época, ainda tinha expectativa de trabalhar como professor por lá. Mas no meu primeiro ano aqui eu vi que as coisas eram bem interessantes”, diz ele, destacando a receptividade do meio acadêmico para os pesquisadores brasileiros. “A gente, com os poucos recursos que tem, faz milagre no Brasil. E aí, quando se soma aqui os recursos financeiros e os equipamentos à experiência do brasileiro, dá muito certo.” Aos poucos, a ideia de voltar ao Brasil foi sendo substituída pela expectativa sobre o que o mercado poderia oferecer.
A oportunidade na Bayer veio em outubro de 2023, reconectando Wilson às atividades que ele realizou durante o mestrado e o doutorado. “O que eu faço hoje se assemelha mais aos trabalhos desenvolvidos em Viçosa do que ao pós-doc. Na UFV, eu trabalhei com organismos não-alvo e agora estou fazendo algo semelhante, mas com produtos de biotecnologia, como proteínas inseticidas expressas em plantas transgênicas.” Wilson é responsável por planejar e monitorar estudos com insetos benéficos (por exemplo, abelhas, joaninhas e crisopídeos) e preparar relatórios que serão enviados aos órgãos regulatórios dos EUA, como a Environmental Protection Agency (EPA). Esses estudos são parte de um dossiê sobre a segurança dos produtos desenvolvidos pela empresa, feito antes mesmo de serem comercializados. “É uma posição global. Meu trabalho é provar pro mundo que os nossos produtos são seguros.”
Ciência rigorosa
Neste início de ano, o pesquisador iniciará testes com um produto que está sendo desenvolvido especialmente para o mercado brasileiro. “Olha que coisa legal! Vejo que eu consigo contribuir de fato para a agricultura no Brasil. Quando eu comecei, eu não me via na indústria, talvez por um preconceito comum. Mas eu acho importante destacar que a indústria faz sim ciência rigorosa, como na academia. Aqui temos, inclusive, mais controle, por causa dos órgãos regulatórios, uma vez que boa parte dos nossos produtos são consumidos por humanos e animais.”
Na visão do pesquisador, os próximos anos ainda serão de muito aprimoramento e aprendizado dentro da empresa, já que cada produto traz desafios específicos. “Eu me sinto muito realizado, e por enquanto meu plano é ficar por aqui, enfrentando esses desafios.” Para o futuro, a expectativa dele é que outras portas se abram, não apenas no Brasil, mas também em outros países. “Tenho convicção do nosso potencial. Estou em uma multinacional, nos EUA, e não tenho diploma americano. Toda a minha bagagem vem do Brasil, e não deixa a desejar, em momento algum.”