Professor lista efemerópteros impactados após desastre ambiental em Mariana

O professor do Programa de Pós-Graduação em Entomologia Frederico Salles é um dos autores do Livro Vermelho da Biota Aquática do Rio Doce Impactada pelo Rompimento da Barragem Minerária de Fundão (Mariana/MG)”, lançado em agosto. A publicação é coordenada pela Fundação Biodiversitas, por meio de um acordo de cooperação técnica firmado com a Fundação Renova, o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF), Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo (IEMA) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)

O livro apresenta estudo inédito no Brasil acerca dos possíveis impactos do acidente, ocorrido em 2015, indicando como os quatro grupos aquáticos – crustáceos, efemerópteros, odonatos e peixes -, podem ter reagido ao sedimento que atingiu o rio Doce e sua bacia. Frederico é responsável pelo capítulo dedicado aos efemerópteros, em que apresenta o levantamento realizado junto com os discentes Otávio Luiz Fernandes, que concluiu recentemente seu mestrado, e Marcela Miranda de Lima, aluna do doutorado. 

“Há cerca de dois anos, fui convidado pela Biodiversitas para o trabalho, e parte do processo era elaborar uma lista com todas as espécies (de Ephemeroptera) que ocorrem na Bacia do Rio Doce. Foi nessa etapa que Otávio e Marcela vieram”, explica o professor, que é o atual coordenador da lista de espécies de Ephemeroptera ameaçadas do Brasil. Depois deste levantamento, feito com base nas coleções de Viçosa e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES – São Mateus), além da literatura da área, o trio passou à definição de quais espécies teriam sua situação atual efetivamente avaliada. A relação de 63 espécies apontadas no livro foi definida, por fim, após as etapas de avaliação de outros especialistas na ordem Ephemeroptera e também de especialistas no método (chamado método IUCN de avaliação de espécies ameaçadas). 

“No livro, portanto, apresentamos as espécies que estão sob ameaça na bacia, mas não necessariamente como resultado direto da ação da lama de rejeito”, diz Frederico. A análise leva em conta a distribuição das espécies, as ameaças dentro da bacia, além de sua biologia, como sua forma de alimentação e sua especificidade de habitat, dentre outros fatores. “Assim podemos, por exemplo, saber que, se uma espécie ocorre preferencialmente sobre rochas, e se a lama cobriu toda a região, a espécie naturalmente ficou sem seu micro-habitat.” Na publicação, além de informações gerais e do status de ameaça da espécie para a bacia, o grupo indica também a distribuição geográfica e, por fim, a classificação de risco de extinção da espécie. “Com essas informações, é possível saber quem são e onde estão as espécies sob risco e, assim, definir estratégias de ação”, diz Marcela. 

Os dados apresentados embasam agora o Plano de Ação para Recuperação e Conservação da Fauna Aquática da Bacia do Rio Doce, em curso desde junho deste ano. “Nós, que trabalhamos com taxonomia, contribuímos indiretamente com a conservação das espécies, porque, naturalmente, só preservamos o que nós conhecemos. Essa experiência, porém, nos permitiu trabalhar mais diretamente com a conservação da biodiversidade brasileira, e isso é muito gratificante”, avalia Frederico.

Foto: Frederico Salles

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