Doutoranda publica alternativa para controle de praga que ataca plantações de citros

A revista Biocontrol publicou artigo da doutoranda Milena Kalile, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, apresentando o ácaro Amblyseius herbicolus como alternativa para o controle do vetor do greening, doença que atinge plantações de citros em vários países, inclusive no Brasil. A doença é causada por uma bactéria transmitida pelo psilídeo-asiático-dos-citros (Diaphorina citri), inseto frequentemente encontrado nos pomares brasileiros, e é capaz de comprometer a planta de forma irreversível. 

Atualmente, o controle do psilídeo é feito por meio de inseticidas, de forte impacto ambiental, com fungo ou com uso da vespa Tamarixia radiata, inimiga natural do psilídeo, capaz de parasitar as fases finais de ninfa, antes de virar adulto. O trabalho desenvolvido por Milena ao longo de seu mestrado e aprofundado agora no curso do doutorado acompanha a ação do ácaro no controle dos ovos e da primeira ninfa do psilídeo, indicando uma alternativa sustentável, capaz de atuar inclusive preventivamente, e mais barata, uma vez que o ácaro é de fácil criação em laboratório. “Quando ele se alimenta do ovo, ele está eliminando a praga em um estágio em que ela não consegue ainda passar a doença para a planta, essa é uma vantagem. Outra vantagem é o fato de ser possível criá-lo, em grande quantidade, usando pólen de flor, sem precisar ter a praga em laboratório”, explica a doutoranda.

Trabalho de Milena sugere uma redução de até 85% na infestação de psilídeos

As observações de Milena, ainda em laboratório, sugerem que o ácaro pode reduzir em até 85% a infestação de psilídeos em plantas. “Fizemos testes com a praga que coletamos de plantas no campus da UFV, e com plantas infestadas em laboratório. Quando pegamos esses ovos das minhas plantas do laboratório e damos pro ácaro, ele come uma quantidade menor do que quando pegamos os ovos de uma planta do campus, provavelmente porque as plantas têm qualidades diferentes – e quanto mais baixa a qualidade da planta, maior a quantidade de ovos que o ácaro consome”, acrescenta Milena. A expectativa, portanto, é que o ácaro consuma um volume ainda maior de ovos nas plantações atingidas, dadas as perdas de qualidade que o greening impõe às plantas. “A doença diminui a qualidade da planta. Então, provavelmente, o inseto que está se alimentando de uma planta doente, que ainda não foi identificada e eliminada do pomar, vai colocar ovos de baixa qualidade também, e é natural que esse ácaro vá comer mais ainda. A gente espera que no campo ele se alimente ainda mais do que no laboratório”.  

O greening chegou às plantações brasileiras – especialmente da laranja-pêra – em 2004, e já provocou prejuízos milionários aos produtores. Somente no estado de São Paulo, grande produtor nacional, já foram eliminados mais de 55 milhões de pés de laranja contaminados pela doença. O uso de inseticidas, além de provocar prejuízos ao meio ambiente, pode causar problemas à saúde dos aplicadores e compromete os acordos de exportação, especialmente para países europeus. “Existem muitos trabalhos hoje atestando a eficiência do controle biológico, inclusive de forma preventiva. Se você já tiver o ácaro na cultura antes da praga chegar, o uso de inseticidas talvez possa ser evitado”, diz Milena, destacando que é possível inclusive que o ácaro e a vespa tenham atuação conjunta.

A próxima etapa do trabalho de Milena deve ser a liberação dos ácaros em campo, promovendo um monitoramento de longo prazo. O artigo publicado em outubro pela Biocontrol tem por base o trabalho realizado pela estudante durante o mestrado, com orientação de Arne Janssen, professor da Universidade de Amsterdã e professor colaborador da UFV. Também colaboraram no artigo os professores Angelo Pallini e Simon Elliot (PPGEnt), as doutoras Verônica Fialho e Morgana Fonseca, o discente André Cardoso do doutorado (PPGEnt) e Tércio Carvalho da graduação em Agronomia (UFV).

Fotos: Milena Kalile e Rodrigo Carvalho

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