Artigo publicado na Annual Reviews of Entomology alerta sobre efeitos de pesticidas em insetos

Quatro autores de países distintos e com focos de pesquisa diversificados elaboraram uma revisão sobre o efeito de pesticidas em insetos, publicada na Annual Reviews of Entomology. O artigo intitulado “Pesticide-Induced Stress in Arthropod Pests for Optimized Integrated Pest Management Programs” tem como autor correspondente o professor da Entomologia UFV, Raul Narciso Carvalho Guedes.  Ele acredita que a principal contribuição do trabalho seja “o esclarecimento de uma concepção mais completa sobre o assunto, enfatizando o contexto atual, independente do tipo de composto de ação inseticida, se convencional, bioinseticida, proteína tóxica, como a de Bacillus thuringiensis, ou outros”.

Além do professor Raul, o trabalho foi elaborado pelos pesquisadores: Guy Smagghe, da Ghent University (Bélgica), cuja formação é em bioquímica e fisiologia, mas voltado para uma abordagem holística sobre efeitos de pesticidas em insetos; John D. Stark, da Washington State University (EUA), que pesquisa sobre ecologia de populações aplicada à ecotoxicologia de inseticidas; e Nicolas Desneux, do French National Institute for Agricultural Research INRA (França), que estuda o efeito de inseticidas em agentes de controle biológico e polinizadores.

Fruto da experiência dos quatro autores, o trabalho aborda um tema que não poderia ser mais atual, já que inseticidas seguem como o principal método de controle de pragas na agricultura. Para o professor Raul, “o tema persiste relevante como nos últimos 75 anos. Isso porque o uso é amplo, continua aumentando e impõe riscos intrínsecos à saúde, ao meio ambiente e ao próprio manejo de pragas. O Brasil mesmo, só para citar um exemplo, investiu recursos, pessoal e pesquisa, nos últimos 30-40 anos, em métodos de controle biológico, resistência de plantas e, mais recentemente, em plantas geneticamente modificadas, relegando a área de toxicologia e ecotoxicologia de inseticidas. Hoje, o país é o maior consumidor mundial de pesticidas, e com muito poucos profissionais atuantes e com expressão na área. O tempo é relevante e preocupante, principalmente, se considerarmos a visão que prevalece sobre o tema no Brasil”.

Apesar de reconhecer que, aos poucos, vem ocorrendo mudanças na forma como são avaliados os pesticidas lançados no mercado, o pesquisador brasileiro alerta que o impacto desses compostos em organismos não-alvo fazem parte de um problema ainda maior: “Mesmo os impactos e consequências em organismos-alvo é explorado de forma muito limitada, focando nas demandas corriqueiras de órgãos regulamentadores, em estudos bem simplificados e pouco realistas. É preciso bem mais, inclusive, o reconhecimento da possibilidade de irradiação do efeito inseticida a outros organismos, seja de forma direta, ou indireta, o que pode ocasionar surtos populacionais”.

O artigo discute essas questões e estimula um tratamento mais profundo sobre o tema, a partir da compreensão integral dos fenômenos, considerando suas limitações e desafios, com foco mais voltado ao manejo de pragas. Mas a abordagem não se restringe ao manejo de pragas. O professor da Entomologia destaca: “o alerta de que diferentes fenômenos podem e provavelmente são mediados por inseticidas, favorecendo ou comprometendo o manejo de pragas, é um dos pontos importantes da revisão. Contudo, não é o único. O contexto conceitual explorado é bem mais abrangente. O manejo de pragas é usado mais como exemplo, um cenário, válido para a agricultura e saúde humana e animal”.

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