Taxonomia: Museu de Entomologia descreve cinco e prevê submissão de outras 14 novas espécies em 2025

Três espécies novas de Ephemeroptera foram descritas, somente esse ano, pela equipe do Museu de Entomologia, coordenado pelo professor orientador do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, Frederico Salles. Em breve, também serão publicadas duas novas espécies de Plecoptera e, até o final do primeiro semestre, o grupo pretende submeter outras 14 descobertas recentes. Essa é uma boa mostra do trabalho do taxonomista, cuja contribuição, fundamental para o desenvolvimento de inúmeras ciências, é destacada no mês de março, quando se comemora o Dia do Taxonomista.

Nos últimos 3 anos, o professor e sua equipe de estudantes somam 21 novas espécies descritas, entre Ephemeroptera, Plecoptera e Trichoptera, encontradas em vários estados do Brasil e de países vizinhos. “O trabalho do taxonomista é fundamental, mas infelizmente vem sendo desvalorizado ao longo dos anos. Ninguém que trabalha com organismos pode realizar um trabalho eficaz sem conhecer as espécies com as quais está lidando. E isso só é possível porque o taxonomista já realizou o trabalho essencial de identificação e classificação dessas espécies”, diz o professor, destacando porém que a falta de visibilidade e de incentivo é muito maior fora do Brasil. “Acho que o Brasil, apesar de necessitar de um número ainda maior de taxonomistas, em função da sua enorme biodiversidade e das inúmeras ameaças a ela, ainda pode ser considerado um país privilegiado. Para muitos grupos taxonômicos, há muito mais trabalhos sendo realizados por brasileiros do que por europeus e por norte-americanos, por exemplo.”

Entre as espécies descritas este ano está Cloeodes tovauna, encontrada no Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, administrado pelo Instituto Estadual de Florestas. Neste caso, trata-se de uma revisão de informação, uma vez que o material avaliado era antes atribuído a outra espécie, Cloeodes aymore. Com orientação de Frederico, os estudantes Érika Vargas e Igor Amaral apresentam a nova espécie, que se distingue por detalhes na coloração do corpo e presença de asas posteriores, entre outros pontos. O nome “tovauna” vem de duas palavras do Tupi: “tova” (cabeça) e “una” (preta), em referência à coloração marcante da cabeça do inseto.

Em outro trabalho, desta vez com pesquisadores da Universidad Nacional de Tucumán, na Argentina, da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, da Universidade Federal de Roraima e da Universidade Federal do Piauí, o professor descreve Paramaka lucimarae e Paramaka takari, ambas da ordem Ephemeroptera. A primeira foi encontrada na Colômbia e batizada em homenagem à pesquisadora egressa do PPG Entomologia, Lucimar Dias, e a segunda aparece em uma área mais extensa, no Brasil e na Guiana Francesa. 

Trabalho conjunto
As descobertas fazem parte dos esforços do grupo de pesquisadores no projeto “Diversidade de Ephemeroptera (Insecta) do Brasil: expandindo as fronteiras da geração e divulgação do conhecimento”, financiado pelo CNPq para reduzir o déficit de informação sobre a composição e a distribuição de Ephemeroptera no território brasileiro. “O conhecimento sobre Ephemeroptera no Brasil avançou muito nos últimos 20 anos, mas ainda existem áreas muito pouco exploradas”, diz Frederico. O projeto reúne pesquisadores de instituições de diferentes estados brasileiros, como Roraima, Tocantins, Rondônia, Bahia e Piauí, que estão visitando localidades destes estados em busca de informação. 

Além de aumentar o mapeamento da ordem no Brasil, o esforço é importante porque tanto Ephemeroptera quanto Plecoptera e Trichoptera são organismos muito usados no monitoramento de ambientes aquáticos. “Um conhecimento mais aprofundado sobre esses grupos é essencial para poder utilizá-los efetivamente. Quanto mais detalhado o conhecimento sobre eles em uma determinada região, maior será a aplicabilidade desses organismos em estudos de monitoramento”

Nas próximas semanas, deve ser publicado o artigo em que Frederico e a pesquisadora Mellis Rippel, doutoranda pelo PPG Entomologia, apresentam duas novas espécies de Plecoptera, uma delas também encontrada no Parque Estadual do Brigadeiro. Neste caso, os pesquisadores trabalham com o gênero Guaranyperla, que tem oficialmente apenas três espécies conhecidas. ‘É bem interessante, porque ela revisou material de diversas coleções, realizou novas coletas, e descobriu que existem ao menos duas espécies novas desse gênero. Além de descrevê-las, as outras espécies serão redescritas e todo o conhecimento sobre o gênero será integrado e atualizado.”

Foto: Frederico Salles

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