Talitta Simões, pesquisadora egressa da Entomologia, é a nova presidente da Entomological Society of Washington

A pesquisadora Talitta Simões, egressa do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, acaba de assumir o cargo de presidente da Entomological Society of Washington (ESW). Talitta é a primeira não-americana a assumir a presidência da entidade, criada em 1884 com a missão de impulsionar os estudos em entomologia nos Estados Unidos. Membro da sociedade desde 2022, a pesquisadora trabalha desde 2017 no National Museum of Natural History, do Smithsonian Institute, em Washington, onde está a maior coleção de insetos do mundo. 

A indicação de Talitta aconteceu no final do ano passado, para o cargo de presidente-eleita. Desta forma, considerando o modelo adotado pela ESW, ela assumiria o cargo de presidente em 2026, mas a data foi antecipada em função da decisão do então presidente, Andrew Jansen, de deixar o cargo. Para Talitta, sua maior missão, nos próximos meses, será atuar para atrair mais jovens, especialmente estudantes de graduação e pós-graduação, e seguir mantendo a relevância da sociedade. “Esse é um sapato muito grande para eu calçar, uma honra enorme. A sociedade já teve grandes nomes como presidente. Pouquíssimas pessoas eram de origem latino-americana, e em todos os casos tinham dupla cidadania. Eu sou a primeira não-americana neste cargo, e preciso honrá-lo.”

Egressa de mestrado e doutorado pelo PPG Entomologia, Talitta defendeu sua tese em 2014, sob orientação do professor Simon Elliot. “Fizemos um trabalho de profilaxia dependente da densidade em insetos sociais, usando abelhas como modelo. Depois, fiz um pós doc com ele também, antes de sair do Brasil pela primeira vez”, conta. Antes de chegar aos Estados Unidos, Talitta fez uma rápida passagem pela Nicarágua, terra natal de seu marido. “Nós nos conhecemos em Viçosa, enquanto ele fazia mestrado em economia. Quando terminamos os estudos (ele, o mestrado, e ela, o pós-doc) eu quis conhecer mais sobre a cultura dele, consegui um projeto para trabalhar na Universidade Centro-Americana, e nos mudamos pra lá.” O projeto, porém, não saiu do papel, e os dois começaram a procurar por outras oportunidades. “Álvaro conseguiu uma colocação no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington, e a gente precisou mudar para os Estados Unidos rápido, em duas semanas.” 

Sem qualquer planejamento prévio, Talitta iniciou então sua busca por uma colocação em entomologia na região de Washington. “Fiz uma lista dos locais onde eu poderia tentar uma vaga, queria algo que me desse oportunidade de melhorar meu inglês. Aí pensei: vou começar pelo Smithsonian, e provavelmente ninguém vai me responder. Mandei um email pro Ted Schultz, que trabalha com Hymenoptera, e ele me respondeu em segundos. Depois de um mês eu estava começando aqui, no National Museum of Natural History.” Neste primeiro momento, Talitta atuou como pós-doc, depois conseguiu contratos de trabalho, e hoje é funcionária do instituto. 

A coleção de insetos do Museu tem 35 milhões de exemplares, em quatro andares de arquivos. O trabalho de Talitta, neste momento, envolve curadoria de parte deste material, com foco em Lepidoptera. “Dedico grande parte do meu tempo à criação de bibliotecas de referência de DNA Barcode, com o objetivo de expandi-las continuamente. Nosso foco é ajudar a torná-las ferramentas robustas, permitindo que pesquisadores do mundo todo enviem suas amostras e encontrem correspondências precisas”, explica a pesquisadora. “Na maioria dos casos, os dados são de domínio público e disponibilizados imediatamente após a validação. Meu trabalho está diretamente ligado a projetos de biodiversidade e ao desenvolvimento de métodos para acelerar a descoberta e o entendimento dessa biodiversidade.” Recentemente, ela foi homenageada pelo taxonomista alemão Ronald Brechlin, que descreveu uma nova espécie de mariposa e a nomeou Homidiana talittae, numa referência ao nome da brasileira, nascida e criada em Cataguases. 

Para Talitta, o PPG Entomologia a ajudou não apenas em sua formação intelectual e científica, mas também a criar expectativas de vida e interagir com o mundo. “Aos 30 anos, quando eu defendi o doutorado, eu nunca tinha entrado num avião, e só falava português. Hoje, já viajei, já morei em outros lugares, falo três línguas. A experiência que Viçosa proporciona, de ver pessoas de todos os lugares, nos mostra que o mundo é muito grande.” Dentre as experiências mais marcantes durante os anos de mestrado e doutorado, Talitta destaca as trocas internacionais, e a oportunidade de atuar como representante discente e na organização do Simpósio de Entomologia. “Todas essas interações me ajudaram, e vejo todos os dias o quanto nossa formação é forte. Quando cheguei aqui, me sentia do tamanho de um inseto. Agora, inclusive, as pessoas pronunciam meu nome corretamente! Nesses momentos, a ficha cai, e eu vejo que deu certo.”

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