Doutoranda chega à China para realizar pesquisa envolvendo utilização de RNAi para controle de pragas resistentes

A doutoranda Lara Teixeira Melo Costa, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, acaba de iniciar um período sanduíche na Universidade de Guizhou, na China. Desde o começo de março, ela mora em um dos quatro campus da instituição, e realiza pesquisas no Institute of Entomology, que fica no distrito de Huaxi. Vinculada em Viçosa ao Laboratório de Fisiologia e Neurobiologia de Invertebrados (Brain & Phy Lab), coordenado pelo professor Eugenio Oliveira, Lara trabalha na China sob orientação do professor Guy Smagghe, em pesquisas envolvendo a utilização de RNAi para controle de pragas resistentes. 

“O objetivo do meu estudo é identificar mecanismos moleculares e comportamentais de percevejos e avaliar como eles afetam a resistência e controle biológico desses insetos. Nesse estudo, eu trabalho com várias áreas: fisiologia do inseto, resistência comportamental, interação parasitoide-hospedeiro, e uso a tecnologia de RNAi para silenciamento gênico e ferramentas computacionais de predição para interações moleculares nos organismos alvos e não-alvos”, explica a pesquisadora, mestre em Biotecnologia pela Universidade Federal do Tocantins. “A partir desse trabalho consigo identificar como esses insetos modificam seu comportamento em campo em relação ao seu controle, seja químico ou biológico, para explicar muitas falhas de controle em campo.” 

Lara ficará na China por seis meses, e a expectativa dela é de que a pesquisa possa contribuir para melhorar as práticas de aplicações de inseticidas, formular novas armadilhas e atrativos de sinais químicos dos insetos e desenvolver novos biopesticidas funcionais. A escolha da Universidade de Guizhou para complementar o trabalho realizado em Viçosa se deu em função da parceria entre os professores Guy e Eugenio, e do acesso à tecnologia que a instituição chinesa oferece. “Percebi que a Universidade de Guizhou era exatamente o que eu buscava, a chance de trabalhar com técnicas moleculares e de silenciamento gênico em uma universidade com tecnologia de ponta e facilidade de manuseio na pesquisa, sem precisar adaptar meu projeto original.”

A estudante também se sentiu motivada pela oportunidade de conhecer uma outra cultura, e se aventurar do outro lado do mundo, sozinha. “Desde pequena eu ficava me imaginando mundo afora, conhecendo e fazendo pesquisas revolucionárias. Vir para a China vem de querer atualizar técnicas e somar à minha formação experiências que possam fortalecer ainda mais a minha pesquisa e de outras pessoas para as quais eu possa repassar conhecimento. E o sonho da menina tímida, formada por escolas públicas de uma cidade de 5 mil habitantes, foi realizado depois de alguns anos, e isso é emocionante.“ 

Lara está desenvolvendo sua pesquisa no Institute of Entomology

Trabalho em andamento
Apesar do pouco tempo desde a chegada à China, Lara já estabeleceu seu ritmo de trabalho. “No aspecto científico, estou conseguindo avançar bem, já conduzindo meus experimentos e análise comportamental com ferramentas de monitoramento eletrônico mais completas do que as que eu estava familiarizada, o que vai enriquecer muito meus dados”, diz a estudante, que também já iniciou as análises de sequenciamento de suas amostras.” O maior desafio, ela destaca, é de fato a barreira linguística e as diferenças culturais, já que fora da universidade é difícil encontrar pessoas que falem inglês, e muitas das ferramentas de comunicação comuns no nosso dia a dia são bloqueadas na China. “Acho que ainda não caiu a ficha de que estou do outro lado do mundo e sou a primeira brasileira a receber orientação aqui. É até engraçado o espanto das pessoas quando digo que sou brasileira. Não há sul-americanos por aqui, isso acaba sendo uma pressão para mim, para fazer nome do nosso país e preparar o terreno para novos estudantes.” 

Quanto às semelhanças e diferenças na hora de fazer pesquisa, Lara destaca o rigor dos chineses. “Há desafios na dinâmica de trabalho. São mais rígidos e metódicos, mas no geral me sinto bem preparada para contribuir em um contexto internacional, tanto pelas experiências que tive em sala, como pela internacionalização do nosso PPG, que me fez conhecer diferentes pessoas, culturas e países antes mesmo de sair do Brasil.” Outro ponto importante está na disponibilidade de recursos para o desenvolvimento dos trabalhos. “Aqui somos incentivados a usar o material de pesquisa que precisar, e eu com certeza vou aproveitar isso. Gostaria muito que mais brasileiros viessem e pudessem ver o quão importante é você não ter medo ou limite para fazer ciência.”

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