Um trabalho desenvolvido como parte da tese de doutorado da egressa Halina Schultz, do Programa de Pós-Graduação em Entomologia, foi premiado durante a 54ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (SBBq), realizada em Águas de Lindóia (SP), entre os dias 17 a 20 de maio de 2025. “Identification of peptide inhibitors of intestinal trypsin-like proteases from Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae)” foi apresentado pelo aluno de Iniciação Científica Ian Lucas Batista Santos, do Laboratório de Enzimologia e Bioquímica de Proteínas e Peptídeos, coordenado pela professora Maria Goreti de Almeida Oliveira.
No trabalho, a equipe apresenta a etapa de testes in vitro para o uso de dois tripeptídeos desenhados racionalmente, denominados GORE1 e GORE2, no controle da Spodoptera frugiperda, conhecida como lagarta do cartucho do milho, capaz de atacar também soja, algodão e algumas outras culturas. Esta é uma das experiências relatadas na tese “Defesa bioquímica de plantas a insetos – tecnologias utilizando-se inibidores de proteases para o controle de pragas agrícolas: identificação da eficiência de inibidores peptídicos de proteases, com potencial biopesticida, para o controle de lepidópteros”, defendida em julho de 2024. Além de S. frugiperda, a pesquisa de Halina também aborda o potencial dos peptídeos para o controle de Anticarsia gemmatalis, conhecida como lagarta da soja, uma praga importante na cultura da soja, que pode atacar ainda feijão, ervilha e amendoim, entre outras culturas, e Plutella xylostella, cujo nome popular é traça-das-crucíferas, que ataca brássicas, como couve, brócolis e repolho.
Após avaliar também como a microbiota intestinal desses insetos pode interferir na ação inseticida dos peptídeos, o trabalho traz fortes indícios de que GORE1 e GORE2 têm atuação importante no manejo das pragas, inclusive sob a ótica da sustentabilidade. “Acredito que a maior contribuição que a tese trouxe foi exatamente nessa busca por ferramentas para o manejo integrado de pragas de forma sustentável. Diante da crescente demanda por sustentabilidade, buscamos desenvolver e oferecer ferramentas eficientes que contribuam com a agricultura sustentável por meio da pesquisa e da inovação”, diz Halina, hoje pesquisadora da empresa Metabolic Biosolutions, uma spin-off do grupo de pesquisa Plantas daninhas e pesticidas no ambiente (PDPA) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Para Ian, a boa receptividade ao trabalho apresentado na reunião da SBBqestá vinculada também ao impacto que a lagarta do cartucho do milho tem para a agricultura brasileira. “Eu gosto de chamar as pessoas para participar da apresentação lembrando que essa é uma espécie muito importante porque ataca milho, soja, sorgo e algodão. É uma espécie resistente, com grande capacidade de adaptação, e por isso desperta muito interesse.”
A proposta do laboratório da UFV, que segue trabalhando nessas pesquisas, é que a dupla de tripeptídeos possa ser usada em larga escala, por meio de aplicações de formulações em plantas, ou por meio da modificação genética das culturas. Sob orientação da professora Goreti, a equipe faz agora experimentos envolvendo a fase adulta das pragas. Ao mesmo tempo, o grupo segue avaliando outros peptídeos desenvolvidos no laboratório, alguns em processo de patenteamento. “Os próximos passos incluem bioensaios em casa de vegetação e em campo, além de testes com outras espécies de lagartas-praga e em organismos não-alvo. Também estão em desenvolvimento estudos sobre a estabilidade dos peptídeos e estratégias para garantir sua entrega eficiente, considerando fatores ambientais como temperatura e radiação UV, que podem comprometer sua atividade inseticida”, adianta Halina.
Foto: Antonio Carlos de Freitas