Uma investigação conduzida pela estudante de doutorado em Entomologia, Maíra Queiroz Rezende, demonstrou que a associação de árvores de ingá com café em sistemas agroflorestais, pode melhorar o controle natural de duas importantes pragas: o bicho-mineiro e a broca-do-café. Isso porque os nectários extraflorais do ingá são alimento para os inimigos naturais. Em outras palavras, a maior oferta de alimento atrai mais predadores e parasitoides, que são responsáveis pelo controle natural dessas pragas.
Os resultados da pesquisa, que contou com a orientação da pesquisadora da Epamig e professora da Entomologia, Madelaine Venzon, foram publicados na Agriculture, Ecosystems & Environment, no mês de abril. No artigo “Extrafloral nectaries of associated trees can enhance natural pest control”, os autores descrevem que a diversidade vegetal pode aumentar populações de inimigos naturais, porque algumas plantas podem fornecer alimentação alternativa. E o néctar pode ser um desses alimentos.
Nectários são estruturas vegetais que segregam o néctar, solução açucarada que atrai insetos, aves e outros animais. Os nectários que se encontram em porções vegetativas das plantas são denominados nectários extraflorais. Plantas produtoras desses nectários são conhecidas por sofrer menos com a herbivoria. Mas até então, pouco se sabia sobre o efeito dessas plantas na herbivoria de plantas vizinhas.
Assim, o objetivo do trabalho foi investigar se nectários extraflorais de uma planta associada ao café pode melhorar o controle natural do bicho-mineiro e da broca-do-café, as duas pragas de maior relevância na cafeicultura. Existem diversas espécies de plantas consorciadas com café que possuem nectários extraflorais. O estudo se dedicou a investigar o ingá porque é uma árvore bem comum em sistemas agroflorestais e também pelo fato dos agricultores relatarem a sua capacidade no controle de pragas. O estudo foi desenvolvido no período de janeiro a maio de 2010, em cinco sistemas agroflorestais de café no município de Araponga (MG), localizado na Mata Atlântica.
De acordo com a pesquisa, a maioria dos visitantes de nectários florais do ingá foram predadores e parasitoides, sendo que a maior parte dos predadores visitantes são inimigos naturais de pragas do café. Com mais visitantes nos nectários, o parasitismo do bicho-mineiro aumentou. Já a proporção de folhas de café minadas e de frutos brocados diminuiu, demonstrando assim, o benefício dos nectários extraflorais de árvores associadas para o controle natural de pragas na cafeicultura.