Universidades americanas aprovam alunas da UFV para mestrado em Fitopatologia

As estudantes Mirian Filgueira Pimentel Izailda Barbosa dos Santos, além de amigas, ex-estagiárias do Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e agrônomas recém-formadas pela UFV, agora também são estudantes de mestrado nos Estados Unidos, com bolsas concedidas pelas universidades americanas. As duas foram aprovadas para o mestrado na área de Fitopatologia, em universidades distintas: Izailda na Auburn University e Mirian na Southern Illinois University Carbondale. Além disso, as duas também foram aprovadas para o mestrado em Entomologia na UFV, respectivamente, em 1º e 3º lugar. Coincidência? Não. Tudo isso é resultado de muito esforço ao longo dos cinco anos de graduação na UFV, superando dificuldades financeiras e acadêmicas e aproveitando ao máximo as oportunidades que elas foram conquistando.

Estudantes vindas de cidades do interior, de origem humilde e com um mundo desconhecido a ser desbravado. Mirian é natural de Sumidouro, pequena cidade localizada na região serrana do Rio de Janeiro. Moradora da zona rural de uma região produtora de hortaliças, a agricultura fazia parte da sua rotina, mas o acesso à internet não: “No ano de 2009, fiz o Enem e tentei outros vestibulares em lugares mais próximos porque a UFV era um sonho distante. Como não obtive sucesso, tive que arrumar um emprego e trabalhei em um supermercado. Fiquei um ano estudando para tentar o vestibular novamente. Coloquei na cabeça que eu deveria tentar a UFV, mas não tinha condições financeiras e nem fácil acesso à internet para pesquisar a respeito”.

De família católica, o encorajamento para tentar uma vaga em Viçosa veio do padre que assistia à comunidade em que morava. “O Pe. Romivaldo disse que conhecia a UFV, onde tinha o melhor curso de Agronomia do país, e me encorajou a tentar. Foi ele quem pagou minha passagem e a do meu pai para eu fazer o vestibular em Viçosa. Arrumou estadia para nós junto ao grupo de jovens JSC da Paróquia Santa Rita de Cássia e me informou a respeito da existência das bolsas de moradia e alimentação. Tive muito apoio da minha família e de amigos que estavam sempre me ajudando e dizendo que ia dar certo. Não passei no vestibular, mas em 2011 passei pelo SISU e fiquei feliz demais. Foi uma grande vitória, que só foi possível com a ajuda de muita gente amiga!” – conta Mirian.

Se entrar numa universidade pública já é difícil, permanecer nela também não é nada fácil. Izailda é natural da pequena cidade de Peçanha, no estado de Minas Gerais, onde morou até concluir o ensino fundamental e se mudar para São João Evangelista, onde cursou o ensino médio no Instituto Federal.

Izailda Barbosa dos SantosIzailda Barbosa dos Santos, aprovada para o mestrado na  Auburn University.

Sobre o acesso e a permanência no ensino superior no Brasil, ela pondera: “Acredito que um dos fatores limitantes ao acesso à universidade é a falta de conhecimento da população, principalmente, das pessoas com baixa renda. Por exemplo, muitos ainda não sabem que é possível ter estudo gratuito e de qualidade através da universidade. Além disso, muitas pessoas que vieram de um ensino médio e fundamental com baixa qualidade possuem poucas oportunidades de conseguir uma boa nota no Enem, não ingressando na universidade. Porém, quando esses estudantes conseguem entrar eles também enfrentam grandes dificuldades para se adequarem a um ensino com nível mais elevado do que tiveram anteriormente”.

Estudante, negra, Izailda destaca que “o incentivo familiar também é muito importante nesse processo de ingressar na faculdade. Muitos estudantes carentes não têm incentivo da família para continuar estudando, principalmente, porque o estudo nunca fez parte da realidade dessa família. Acredito que esse contexto independe da cor (ou da raça), mas como a grande maioria da população negra no Brasil é composta por pessoas com baixa renda, isso reflete diretamente na menor percentagem de estudantes negros no ensino superior. Assim, de forma geral, acredito também que exista um processo histórico na exclusão de pessoas negras no ensino superior”.

 Superação

Ingressantes na UFV em 2011, as calouras de Agronomia se conheceram no início da graduação, quando também passaram a integrar a equipe do professor Marcelo Picanço, no Laboratório de MIP. Do início na UFV, as duas compartilham lembranças semelhantes, como a saudade de casa, a adaptação na nova cidade e a dificuldade com as disciplinas do curso. Mirian afirma: “No início foi bem difícil, principalmente, devido à minha situação financeira e à formação deficiente no ensino médio. Assim que eu soube que passei na UFV, fiquei muito preocupada com lugar para ficar em Viçosa, até eles analisarem a minha documentação para bolsa moradia. Eu não sabia que havia alojamento temporário. No alojamento também não foi fácil porque eu nunca havia morado fora de casa, ainda mais, com quatro outras pessoas que eu não conhecia. Mas depois eu acostumei e foi algo que me amadureceu muito”.

Sobre as dificuldades acadêmicas, ela revela: “No primeiro período, peguei cálculo, duas químicas e outras matérias que eu não tinha muita noção. Eu estava com muita dificuldade e com notas muito ruins. Até que entrei no laboratório do professor Marcelo Picanço, onde tive muita orientação por parte dele e de seus estudantes. No Laboratório, também conheci outros estudantes, como a Izailda e a Obiratânea, que estudavam comigo e me ajudaram muito com as matérias”.

A amizade entre as três, Mirian, Izailda e Obiratanea, além de boas lembranças e bom desempenho nas matérias do curso, rendeu às três aprovações em universidades americanas. Obiratanea, assim como as duas amigas, também está fazendo mestrado nos Estados Unidos. Ela foi aprovada na University of Minnesota.

 Formação completa

Outra característica compartilhada pelas amigas é o reconhecimento da formação proporcionada pelo estágio no Laboratório de MIP: “Comecei o estágio com o professor Marcelo Picanço já no primeiro período da graduação. Esse estágio foi uma das bases que eu tive para vencer as dificuldades do início do curso. Eu tive a oportunidade de trabalhar em grupos nas mais diversas subáreas do manejo integrado de pragas. Além disso, tive uma excelente orientação nas escolhas das disciplinas da graduação em cada período. Outro aspecto importante nesse laboratório é o treinamento. Ele oferece uma base incrível de pesquisas em campo, laboratório e casa de vegetação. Além disso, fazemos vários cursos de redação, estatística e comunicação. O Laboratório me ofereceu uma formação completa, academica e profissionalmente” – resume Izailda.

As estudantes também não escondem o respeito e a gratidão que têm pelo professor Marcelo. Mirian destaca: “A entrada no laboratório do professor Marcelo não foi algo planejado, mas com certeza foi algo que mudou a minha vida. O professor conta com um grupo muito grande de pessoas onde todo mundo se ajuda e isso faz com que a gente tenha contato com diferentes pesquisas e com pessoas muito mais experientes que a gente, como os estudantes de mestrado e doutorado. Foram cinco anos onde obtive uma formação muito boa além da graduação”.

Mirian Filgueira PimentelMirian Filgueira Pimentel, aprovada para o mestrado na  Southern Illinois University Carbondale.

A estudante também ressalta que, se por um lado a cobrança sempre foi grande no Laboratório, por outro, “o professor Marcelo sempre usa a sua experiência e visão de mundo para dar aos seus estudantes uma boa formação para o mercado de trabalho. Nesse contexto, o professor Marcelo é alguém que admiro muito, não só pela amizade que criamos, mas também pelo empenho que ele coloca em ajudar e formar pessoas. Ele está sempre presente e disposto a tirar dúvidas ou discutir os problemas. Foi também o professor Marcelo que me ajudou com o inglês. Ele pagou o meu curso de inglês por dois anos, pois eu não tinha condições de pagar, e ele sempre deixou claro que um dos meus objetivos deveria ser fazer um intercâmbio”.

Claro que o conselho do experiente professor foi seguido pelas estudantes, que durante a graduação, participaram do programa Ciência sem Fronteiras, criando oportunidade para que retornassem agora aos Estados Unidos para o mestrado.

 Auburn University

Em 2015, durante o intercâmbio pelo Ciências sem Fronteiras, Izailda cursou disciplinas na  Auburn University, no estado do Alabama. “Quando eu estava no segundo período na Universidade de Auburn, o professor Sang Wook Park abriu uma vaga de estágio. Como eu estava com tempo livre, resolvi tentar. No fim do período, o professor Park disse que havia uma vaga para bolsa de mestrado nesse mesmo projeto que eu havia trabalhado, e perguntou se eu tinha interesse em continuar a pesquisa com ele”.

Izailda não perdeu tempo, tratou de se preparar e foi aprovada no TOEFL e também no GRE, que é um teste específico solicitado para admissão na pós-graduação nos Estados Unidos. Assim, ela foi aprovada para o mestrado na área de Fitopatologia, sob a orientação do Dr. Park.

A Auburn University possui um programa de melhoramento genético que desenvolve variedades de algodão resistentes a nematoides. Izailda vai trabalhar em um projeto que visa determinar o mecanismo de resistência que uma variedade, recentemente desenvolvida nesse programa, expressa quando é atacada pelo nematoide Rotylenchulus reniformis. O que ela espera dessa nova fase? “Fazer novos amigos, melhorar o inglês e aprender bastante sobre a minha nova área de pesquisa (Fitopatologia)”.

 Southern Illinois University Carbondale

Mirian morou nos EUA por um ano e meio, onde cursou dois períodos na Southern Illinois University Carbondale (SIUC), no estado americano de Illinois, através do Ciência sem Fronteiras. “No último período na SIUC, peguei uma disciplina de pesquisa, onde pude estagiar no laboratório do Dr. Ahmad Fakhoury e ele me ofereceu a oportunidade de voltar para o mestrado”.

Mirian conta sobre as etapas que teve que cumprir para a sua admissão no mestrado na universidade americana: “O processo seletivo para a SIUC não é baseado em prova de conhecimento específico. Foi necessário que eu escrevesse algumas cartas destacando as razões pelas quais eu queria entrar para o mestrado, uma biografia enfatizando o meu currículo e três cartas de recomendações. Todo o processo foi on-line através do sistema de seleção da SIUC. Além disso, foi necessária a realização do TOEFL ibt”.

Aprovada para o mestrado em Fitopatologia, ela vai trabalhar com controle biológico: “O meu projeto envolve o controle biológico de diversos fungos que são patógenos na cultura da soja”.  Animada com a nova etapa de sua vida, ela afirma: “É uma fase de grandes mudanças, em que eu não só estarei mudando de país, mas também de área. Então, tenho consciência que tenho que dar o meu melhor para vencer os novos desafios. Mas acredito que a formação e o crescimento pessoal que obtive na UFV e no Laboratório de MIP são essenciais para que eu me sinta mais segura diante de tantas mudanças”. E o que virá pela frente? “Certamente, quero seguir para o doutorado e voltar para o Brasil. A agricultura no Brasil tem muito a crescer e eu quero fazer parte disso”.

One Comment on “Universidades americanas aprovam alunas da UFV para mestrado em Fitopatologia

  1. Parabéns pelo belo exemplo,para a juventude brasileira,que como vocês,tem que se superar diante das dificuldades que o sistema,lhes impõem.Somente com muita garra,coragem e fé e pessoas de boas vontade,conseguiram criar e cultivar um ambiente de estudos e progressos,que com certeza trará mais méritos para vocês e todos que poderão compartilhar das suas descobertas.Que Jesus continue acompanhando seus passos.

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