Universidade do Canadá seleciona estudante da UFV para mestrado em Biologia

O formando do curso de Agronomia da UFV, Conrado Augusto Rosi Denadai, foi aprovado pela Carleton University para o Master of Science in Biology. A universidade canadense concedeu ao estudante brasileiro uma bolsa para custear os seus estudos sobre bioacústica de insetos. Assim, Conrado prepara-se para retornar à Ottawa, cidade na qual ele já teve a oportunidade de residir durante a graduação. Conrado passou um ano na capital do Canadá, através do programa Ciência sem Fronteiras, fazendo estágio no Laboratório de Neuroetologia, na Carleton University, sob a orientação da professora Jayne Yack. Mais uma vez, a especialista em Neuroetologia, Som e Vibração em Insetos irá orientar o estudante.

Agora, para o mestrado, as inquietações de Conrado são outras, bem diferentes daquelas que o acompanharam em 2012 quando chegou a Ottawa: “Desta vez muitas incertezas já não existem mais. Eu sei exatamente com quem vou trabalhar e quais serão as metas do meu projeto. Vários amigos ainda moram em Ottawa e poderei reencontrá-los. Eu conheço bem a cidade e não tenho mais a preocupação de não conseguir me adaptar. Por outro lado, eu tenho medo de não conseguir resultados com o projeto. Trabalhar com sistema nervoso de lagartas não é fácil, é muito pequeno e o corpo mole atrapalha. Às vezes precisamos abrir insetos para estudar o sistema nervoso enquanto eles ainda estão vivos, mas lagartas são basicamente sacos de água que estouram e morrem se você fizer qualquer corte”.

Durante o mestrado, a questão principal que Conrado vai tentar responder será: “Como lagartas conseguem perceber vibração nas folhas das árvores?”. “É sabido que insetos de corpo mole (como lagartas e larvas de moscas) conseguem perceber o ambiente usando vibração em meios sólidos (parecido com um andarilho que sabe se um trem está vindo ou não colocando os ouvidos sobre seu trilho). No entanto, em insetos de corpo mole ainda não foi comprovado como isso é feito. Há um tempo, a minha orientadora foi convidada para dar uma palestra sobre isso nos EUA. Ela me disse que no fim da palestra, ela foi cercada por dezenas de engenheiros curiosos. Aparentemente, o uso de sensores de ‘tato’ e vibração é limitado em robôs que teriam corpo mole como o das lagartas, e os engenheiros encontram dificuldades na mecatrônica que poderiam ser superadas se conhecermos esses sensores biológicos” – explica.

Trabalhando com uma linha de pesquisa ainda em desenvolvimento e entusiasmado com os desafios do seu projeto, Conrado revela que o mestrado no exterior não era um objetivo perseguido desde o início: “Fazer ciência é empolgante e eu amo trabalhar com pesquisa. Mas as conquistas dos pesquisadores, por mais fundamentais que sejam, levam décadas para gerar mudanças na sociedade. Eu tenho um lado imediatista e impaciente que quer ver resultados práticos sociais o mais cedo possível. Eu fico em dúvida se a carreira científica é aquela que eu gostaria de tomar. O Canadá é um dos melhores países para se viver. Eu sei que esse fato é tentador para muita gente. Mas o que fazer em um país onde pouco há para se melhorar? Mesmo que às vezes a burocracia e a apatia excessivas do Brasil acabam deixando-nos com as mãos atadas, em poucos lugares do mundo o conhecimento será tão útil para promover mudanças quanto aqui. Mas a minha orientadora no exterior, a professora Jayne, me disse que o meu mestrado não firmaria um contrato exclusivo com a carreira científica pelo resto da vida. Eu estaria na verdade me preparando para assumir outras responsabilidades, dessa vez, com mais conhecimento de mundo. E caso eu acabe seguindo a carreira acadêmica, quem melhor do que um professor para ajudar, nem que seja um pouquinho, a melhorar nossa comunidade?” – pondera.

Sobre o processo seletivo pelo qual passou até ser admitido para o mestrado, Conrado considera que a maior dificuldade é o domínio da língua estrangeira. Ele explica que “em geral, as aplicações para pós-graduação no Canadá, EUA e Europa são menos burocráticas que no Brasil. No caso de Carleton University, o processo é todo online. Eles requerem uma carta de interesse, o histórico escolar da graduação, um exame de proficiência (Toelf, por exemplo), duas cartas de recomendação e o currículo. Não é necessário anexar certificados de apresentação em congresso, participação de cursos ou nada do tipo. Inclusive, o processo é tão simples, que muitos brasileiros que se esforçaram durante a graduação conseguiriam submeter e ser aprovados em programas de pós-graduação no mundo todo, principalmente, porque os currículos dos estudantes brasileiros de iniciação científica são em média mais competitivos que os dos estudantes nesses países.” – avalia.

A iniciação científica faz parte da vida acadêmica de Conrado desde o começo da graduação, quando ele foi estagiar no Laboratório de Ecotoxicologia, coordenado pelo professor Raul Narciso Carvalho Guedes. De acordo com o professor Raul, “Conrado tem colecionado uma generosa série de premiações e artigos nos últimos anos”. Em 2013, ele foi premiado no Canadá, pela empresa Bio-Rad Laboratories, em reconhecimento pelo pôster que apresentou durante o Research Day, realizado pela Carleton University. Já em 2014, o estudante foi premiado durante o XXV Congresso Brasileiro de Entomologia, realizado em Goiânia, por ele ter feito a melhor apresentação da sessão oral de Polinização.

Conrado ingressou na UFV em 2010 e logo no segundo período de curso passou a integrar a equipe do Laboratório de Ecotoxicologia. “Eu sou muito curioso e agradeço aos estudantes do laboratório da época por terem tido a paciência de me explicar as teses várias e várias vezes. Eu também sou muito ativo e não consigo ficar parado. Então, com frequência eu acabava ajudando em experimentos aqui e ali. Isto resume o tempo trabalhando com o professor Raul: muito aprendizado com um dos maiores mentores desta universidade e com seus estudantes, trabalhando em tantos projetos quanto possível” – descreve.

Prestes a encerrar essa etapa de aprendizado na UFV, Conrado, que iniciará o mestrado na Carleton University no mês de setembro, destaca: “Há muitas possibilidades de bolsas que estudantes brasileiros podem buscar no exterior. Mas como a maioria está vinculada a universidades, departamentos e professores, nós não ouvimos falar delas até o momento em que entramos em contato. Por isso, para aqueles que têm vontade de fazer uma pós-graduação no exterior, vale a pena dedicar-se a uma língua estrangeira, trabalhar duro por um currículo forte, tirar boas notas (a maioria das universidades exigem coeficiente de rendimento mínimo de 80%) e pedir a professores da UFV possíveis contatos de pesquisadores no exterior com quem poderia fazer a pós-graduação, até conseguir bolsas”.

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