Trybomia é nova alternativa para controle biológico da broca-do-café em sistemas agroflorestais

Sistemas agroflorestais têm sido fortes aliados no cultivo do café ao longo dos anos, e as razões para isso não param de aumentar. Uma pesquisa coordenada desde 2010 pela orientadora do Programa de Pós-Graduação em Entomologia (PPGEnt) Madelaine Venzon, na Zona da Mata mineira, inclui entre os agentes de controle biológico natural da broca-do-café um tripes do gênero Trybomia, cuja presença nos cafezais está fortemente associada à manutenção de árvores de Ingá nas plantações. O tripes se alimenta e se fortalece utilizando o néctar encontrado nas árvores de Ingá, mas para se reproduzir precisa também ingerir ovos e larvas da broca-do-café, agindo como um inimigo natural da praga, que é uma das principais ameaças do café. 

Essa hipótese surgiu ainda em 2010, durante o desenvolvimento do trabalho de mestrado de Maíra Queiroz Rezende, uma das autoras do projeto. Maíra foi orientada de Madelaine (também no doutorado) e hoje é docente do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), no Campus Teófilo Otoni. “No mestrado, avaliei se as árvores de Ingá plantadas em sistemas agroflorestais cafeeiros poderiam contribuir para o controle biológico das pragas do café. Percebi que as árvores de Ingá tinham tripes associados. Um dia, observei em campo o mesmo tripes saindo de um fruto brocado de café. A partir daí surgiu a hipótese de que esse tripes poderia ser um predador da broca-do-café”, conta Maíra, cujo trabalho também teve apoio dos professores Arne Janssen, da University of Amsterdam, e Irene Cardoso, do Departamento de Solos, da UFV

Outra espécie de tripes já havia sido documentada na África como predadora da broca-do-café, mas é a primeira vez que o Trybomia é colocado nesta condição. “O controle desta praga é difícil porque ela vive dentro do fruto do café. Então, uma só estratégia não é eficiente, precisamos associar alternativas para aumentar a eficiência do controle”, diz a professora Madelaine, que é também pesquisadora da Epamig, onde parte da pesquisa é realizada. A técnica proposta pelo projeto já vem sendo testada, com bons resultados. “A planta de Ingá associada ao café pode contribuir para que o Trybomia permaneça no campo por mais tempo, através do fornecimento de áreas de refúgio e de fontes de alimentos para os tripes. Alguns cafeicultores familiares da Zona da Mata mineira já realizam essa associação e é possível observar que, próximo às plantas de Ingá, é mais difícil encontrar frutos de café brocados”, diz o doutorando Gabriel Pantoja, que integrou a equipe do projeto durante seu mestrado. 

Veja aqui vídeo em que a professora Madelaine apresenta o projeto.

A pesquisa também integrou o projeto de mestrado de Thais Coffler, quando teve início a colaboração do professor Élison Fabrício B. Lima, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que é taxonomista de tripes. Ele foi coorientador de Thais. Nas próximas etapas do projeto, a equipe está realizando coletas e expandindo as áreas onde a pesquisa é feita. “Estamos agora preparando análise molecular para confirmação da espécie do predador. Vamos também avaliar a ocorrência do predador em outras regiões de Minas Gerais, onde há Ingá associado ao café e fazer outros testes de casa-de-vegetação. Estamos também elaborando os manuscritos para submissão”, adianta Madelaine. 

Foto: Madelaine Venzon

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