Pesquisadores percorrem todos os biomas do Brasil para conhecer a biodiversidade de Orthoptera

Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade de grilos, gafanhotos e esperanças de todos os biomas brasileiros, uma equipe de pesquisadores da UFV está participando de mais uma expedição do projeto Biota de Orthoptera do Brasil. A UFV juntamente com a Universidade Estadual Paulista (UNESP), Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) integram uma rede de pesquisa que busca estudar a diversidade genética intra e interpopulacional dos ortópteros e estudar os padrões e processos determinantes da biodiversidade dessa ordem de insetos.

Praticamente todos os estudiosos de Orthoptera brasileiros integram essa rede, sendo que dos 48 pesquisadores envolvidos, 19 são da UFV.  O professor da UFV, Carlos Sperber, é o coordenador geral do Biota de Orthoptera do Brasil. Ele informa que os ortópteros não formam um grupo muito diverso, mas é uma ordem pouco estudada. Assim, a integração de diversos pesquisadores tem permitido avanços no conhecimento sobre esse grupo. As coletas são realizadas em conjunto, com a participação de especialistas de diferentes campos de atuação, como taxonomistas e ecólogos. “Já conseguimos dados que levariam anos para serem descobertos se o trabalho não estivesse sendo feito em conjunto” – afirma o coordenador.

Os pesquisadores já realizaram coletas pela Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. De acordo com o professor Carlos Sperber, apenas o Pampa não será amostrado, por ser um bioma já estudado pelos pesquisadores da PUCRS e UFPel. Inicialmente, estavam previstas coletas em 20 localidades, mas já foram amostradas 25. O projeto estava previsto para ser encerrado no final de 2013, mas foi prorrogado até o mês de agosto deste ano. A expectativa dos pesquisadores é que ainda sejam realizadas coletas em mais 10 localidades, privilegiando áreas de endemismo.

Na expedição atual, os pesquisadores estão realizando coletas na Serra do Espinhaço (MG), Chapada dos Guimarães (MT), Serra da Bodoquena (MS), Chapada dos Parecis (MT/RO), Chapada dos Veadeiros (GO) , Chapada da Natividade (TO), Chapada das Mesas (MA), Belém (PA) e PARNA Viruá (RR).

O pós-doutor em Entomologia, Marcelo Ribeiro Pereira, integra esse projeto desde o início, em 2010. Ele já participou de várias expedições e conta que elas são um desafio, por se tratar de um grupo grande, que durante as coletas convive por um longo período em condições adversas. Mas ele destaca que as viagens permitem um grande aprendizado, tanto científico quanto de trabalho colaborativo.

O projeto Biota de Orthoptera do Brasil integra o Sisbiota Brasil – Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade, e recebeu um financiamento de 1,7 milhão de reais. Além de estimular a produção científica, a disponibilidade de recursos tem permitido equipar os laboratórios envolvidos. Sperber conta que foram adquiridas cinco lupas de alta precisão, integradas com um sofisticado sistema fotográfico de automontagem, uma para cada instituição participante do projeto. Ele informa que antes nenhum laboratório no Brasil dispunha desse equipamento.

Também foram adquiridos dois veículos, um para a UFV e outro para a UNESP, em Botucatu. A aquisição dos carros foi fundamental para viabilizar as expedições, tendo em vista a grande quantidade de material utilizado para as coletas, o que inviabiliza o uso de outros meios de transporte. O coordenador relata que na primeira expedição, realizada em 2011, eles optaram pelo deslocamento de avião devido à distância entre as regiões amostradas. Mas enfrentaram problemas ao tentar embarcar com as amostras, pois o material coletado precisa ser mantido em álcool para conservação.

Os desafios colocados para um projeto tão vultoso como esse não param por aí. Sperber avalia que a parte administrativa toma muito tempo e isso acaba comprometendo a produção científica. Ao longo desses três anos de coleta, os pesquisadores obtiveram muitos dados, mas ainda não conseguiram analisá-los como desejam. “Temos material para publicarmos pelos próximos 20 anos” – afirma.

Um dos maiores gargalos do projeto tem sido a obtenção de dados moleculares interpretáveis. Os ortópteros são o grupo de maior genoma de todos os insetos. A pesquisadora responsável pela parte de filogenia e identificação molecular, a professora da UFV Karla Yotoko, explica que os grilos apresentam inúmeras cópias de DNA mitocondrial nos núcleos (NUMTs), o que torna as técnicas atuais de análise inadequadas.

O conhecimento que vem sendo adquirido sobre os ortópteros tem sido repassado à sociedade. O projeto desenvolve ações de divulgação científica e educação ambiental, como palestras para administradores e guarda-parques, alunos, pais e professores do Ensino Fundamental, além de atividades de campo e oficinas.

Sperber destaca a importância dos recursos humanos que estão sendo formados. Integração e qualidade são características dos estudantes de graduação, mestrado e doutorado, pós-doutores e docentes envolvidos no projeto. Especificamente sobre a equipe da UFV, responsável pela coordenação, o professor Carlos Sperber ressalta que os participantes estão sendo treinados também em administração e gerência de rede de pesquisa, e que o envolvimento do grupo tem sido fundamental para o sucesso do projeto. Para saber mais, acesse o site do Biota de Orthoptera do Brasil.

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