Pesquisadores descrevem nova espécie de fóssil aquático do cretáceo brasileiro

Um grupo de pesquisadores brasileiros, incluindo o professor do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFV, Frederico Salles, publicou na última semana artigo na revista Historical Biology apresentando uma nova espécie de inseto aquático identificada na unidade geológica Formação Crato, no Nordeste do Brasil. O mesmo grupo, composto por cientistas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Universidade Regional do Cariri (URCA), além da UFV, já havia relatado, em outubro de 2020, descoberta no mesmo local, quando descreveram o Incogemina nubila. Desta vez, com a participação de pesquisadores do Museu Estadual História Natural de Kiev, na Ucrânia, e do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, eles apresentam, dentre outros resultados, a nova espécie Protoligoneuria heloisae, também representante da ordem Ephemeroptera.

Os exemplares da ordem Ephemeroptera são conhecidos popularmente como efêmeras, que são insetos voadores que vivem poucos dias durante sua vida adulta, às vezes até minutos. Durante a sua fase larval, elas são aquáticas. A nova espécie foi incluída na família Hexagenitidae, que é totalmente extinta. Os fósseis das larvas desta família são abundantes na Formação Crato, mas os adultos, como o fóssil de Protoligoneuria heloisae, são raros. Os cientistas acreditam que os representantes da família Hexagenitidae foram um dos poucos organismos que de fato viveram nos antigos paleolagos, e suas larvas sofriam eventos de mortalidade em massa por causa de estresses climáticos na região durante o período Cretáceo.

“Quando a Arianny Storari fez a pesquisa que resultou naquele trabalho inicial, em que ela descreveu Incongemina nubila, ela encontrou outros fósseis de Ephemeroptera neste mesmo local. Neste segundo artigo, fizemos uma revisão desses outros fósseis – a maioria não eram espécies novas, eram larvas de uma espécie já descrita para aquele local, além de três adultos que não pudemos identificar com muita precisão por conta dos seus estados de conservação”, conta Frederico. O grupo, porém, com base nessas análises, solicitou acesso a um material que está no museu de Nova York (American Museum of Natural History), também proveniente da Formação Crato, e identificou lá uma espécie supostamente pertencente a um outro grupo. “Percebemos que, na verdade, era uma espécie nova de Hexagenitidae, a família de Ephemeroptera mais comum na formação Crato. No artigo, portanto, além de revisar esse material todo, descrevemos uma nova espécie”.

A unidade geológica Formação Crato fica no município de Nova Olinda, pertencente à Bacia do Araripe, no estado do Ceará e tem sua formação datada entre 113 e 125 milhões de anos atrás, durante o Cretáceo Inferior, quando África e América do Sul ainda estavam unidas. A pesquisa que deu origem às descobertas é parte do trabalho de mestrado de Arianny, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFES. Frederico é co-orientador de Arianny, que atualmente cursa o doutorado. “À medida que fomos publicando os nossos resultados, outros pesquisadores entraram em contato com a gente, porque tinham material desta mesma formação. Convidamos então os doutores Arnold Staniczek e o Roman Godunko para contribuírem com esse trabalho”, conta Frederico, acrescentando que os professores, respectivamente da Alemanha e da Ucrânia, são importantes nomes da área.

Do Brasil, também assinam o trabalho os pesquisadores Antônio Álamo Saraiva, da Urca, e Taissa Rodrigues, da Ufes, parceiros de Arianny desde a pesquisa de mestrado.

Homenagem
O nome da espécie apresentada esta semana pelo grupo, Protoligoneuria heloisae, é uma homenagem à pesquisadora Paula Heloísa Santana Resende, falecida em junho de 2021. Arianny e Paula trabalharam juntas no Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Espírito Santo, sob orientação da professora Taissa Rodrigues. Paula estudava pterossauros da Bacia do Araripe.

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