Pesquisa identifica modo de ação do piretro na repelência ao Aedes aegypti

Os egressos Felipe Andreazza e Wilson Valbon, ao lado do professor do Programa de Pós-Graduação em Entomologia Eugênio Oliveira, acabam de publicar na revista Nature Communications artigo que apresenta características moleculares e fisiológicas da repelência do piretro, extrato de plantas derivado do Crisântemo e que vem sendo usado desde a China antiga para repelir mosquitos, inclusive o Aedes aegypti. O trabalho (“A dual-target molecular mechanism of pyrethrum repellency against mosquitoes”), que tem a assinatura de outros 15 pesquisadores, foi coordenado pela professora Ke Dong, que comanda laboratório próprio, na Duke University, no estado americano da Carolina do Norte. O texto representa um importante avanço para os estudos de repelentes porque identifica no inseto, pela primeira vez, o receptor olfativo que responde ao piretro e, também, aponta a reação dos canais de sódio do mosquito ao mesmo extrato.

“É a primeira vez que é feita a identificação de um receptor que tem a função de ser repelente. No caso dos insetos, células nervosas presentes dentro de diferentes sensilas localizadas principalmente em suas antenas são responsáveis por responderem aos odores. Dentro do universo de possibilidades, identificamos qual sensila, mais especificamente, qual receptor olfativo (proteína) presente na membrana do neurônio é responsável pela resposta ao extrato de piretro”, explica Wilson. A expectativa dos pesquisadores é que a descoberta abra caminhos para se apontar outros potenciais repelentes que ajam no mesmo receptor. “Identificamos a chave, a fechadura e a porta que leva para a repelência. Agora a comunidade científica pode tentar ‘copiar’ esta chave, usando similaridades químicas estruturais, ou usar a fechadura para testar centenas e milhares de chaves, como óleos essenciais. A gente tem, por exemplo, 20 outros óleos essenciais que queremos testar e ver se são bons repelentes. Daqui pra frente esperamos que fique mais fácil identificar compostos, fazer misturas eficientes, evitar a resistência do inseto e, consequentemente, manter o produto por mais tempo em uso”, acrescenta Felipe.

A professora Ke Dong, que iniciou os estudos em 2015 ainda na Universidade do Estado de Michigan (Michigan State University, MSU), destaca também a descoberta da capacidade do piretro de ativar os canais de sódio do mosquito, ampliando a habilidade do inseto de identificar o cheiro e, consequentemente, a eficiência do repelente. “Essa dupla ação do piretro pode explicar porque ele tem um espectro tão amplo e tão duradouro. Nossos resultados podem oferecer um novo paradigma para o desenvolvimento de uma nova geração de repelentes”, avalia ela. Além dos testes com outros possíveis repelentes, a equipe se prepara também para ir mais a fundo na forma de funcionamento da dupla ação do extrato nos insetos. “Nós precisamos, por exemplo, descobrir como o receptor do piretro, o Or31, envia sinais ao cérebro do inseto e faz com que ele se afaste. Também precisamos estudar de que forma a ativação dos canais de sódio ajudam o mosquito a sentir melhor esses cheiros”, explica a professora.  

Felipe, Wilson e o Professor Eugênio estiveram juntos na MSU, onde os estudantes cursaram a etapa internacional de seus doutorados

Doutorado
Wilson e Felipe ingressam no PPGEnt em 2015 e 2016, respectivamente, para cursar o mestrado – que nos dois casos foi seguido pelo doutorado. Foi nessa segunda etapa que se juntaram à equipe do laboratório Ke Dong, que atuava inicialmente em Michigan. Hoje, já com suas teses defendidas, ambos integram o corpo de pesquisadores associados da Duke University, para onde o projeto foi transferido em setembro passado. 

O professor Eugênio Oliveira, orientador dos dois pesquisadores durante o doutorado em Viçosa, colaborou com a equipe de Ke Dong especialmente durante sua passagem pela MSU, entre setembro de 2019 e agosto de 2020. “Os conhecimentos obtidos nesta investigação certamente contribuirão para a redução da utilização de repelentes sintéticos e que estão associados a maiores riscos ambientais e de saúde humana”, comemora ele.

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