Perfil: Tederson Galvan

Viçosa contribui muito para o prestígio que os profissionais formados lá têm no mercado de trabalho. Existe um apreço muito grande pelo estilo de profissional que é formado na UFV”. Quem garante é o gerente de biotecnologia de milho da Monsanto, Tederson Galvan. Agrônomo formado pela UFV, com doutorado em Entomologia pela Universidade de Minnesota (Saint Paul, EUA), Tederson afirma que “a UFV tem esse destaque, e é gratificante fazer parte disso. A forma como o profissional é formado na UFV cria condições para fazer pesquisa de ponta do ponto de vista técnico”.

Paranaense, Tederson viu a sua promissora carreira começar na UFV, em 1996, quando ingressou no curso de Agronomia e, ainda calouro, foi estagiar no Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (MIP), sob a orientação do professor Marcelo Coutinho Picanço, com quem trabalhou por quatro anos. “Eu cheguei a Viçosa com 22 anos, um pouco mais velho que a maioria dos estudantes. Eu tinha um foco bem definido, queria fazer algo ao mesmo tempo em que cursava a graduação. Então, já no primeiro semestre, eu comecei a procurar algum tipo de estágio. Calouro era muito difícil conseguir estágio. Mas na época, o Marcelo Picanço tinha um estudante de pós-graduação que precisava muito de mão de obra, e claro, calouro aprende”.

Tederson conta que Picanço dava liberdade para que os estudantes, ainda na graduação, iniciassem seus próprios projetos. Além da autonomia, ele destaca que a equipe do MIP trabalhava bastante, mas também se divertia muito. Para Tederson, ambientes leves e agradáveis favorecem o trabalho. Isso, mesmo para pessoas que têm foco bem definido como ele. Quando ingressou na UFV, o seu objetivo era fazer o curso de agronomia, aproveitar ao máximo e fazê-lo o mais rápido possível. Ele conta que acabou não fazendo o mais rápido, mas com certeza aproveitou o máximo que pôde.

Dentre os seus objetivos, também estava buscar uma experiência internacional, pelo fato de fazer iniciação científica, perceber a importância do inglês e querer conhecer metodologias mais avançadas que não existiam no Brasil. “Sempre ouvia falar que as melhores coisas vinham dos Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha ou Austrália. Então, eu pensava: tenho que ir para um desses lugares porque senão, eu não vou me completar simplesmente fazendo o curso de Agronomia aqui. E eu sabia que pelo MAST, era uma das possibilidades”.

Numa época em que a oferta de bolsas para intercâmbio não era tão grande como foi nos últimos anos, Tederson foi para os Estados Unidos, em 2002, através do programa MAST (Minnesota Agricultural Student Trainee), que oferece oportunidades de estágio, em nível de graduação. Durante o intercâmbio, o estudante faz estágio em empresas americanas e depois se dedica a atividades acadêmicas na Universidade de Minnesota.

Tederson passou um ano e meio na cidade de Boston, no estado de Massachusetts. Por um ano ele trabalhou numa greenhouse e durante seis meses trabalhou no Laboratório de Manejo Integrado de Pragas, na Universidade de Minnesota, sob a orientação do Dr. William D. Hutchison. Ao final do programa de estágio, o orientador o convidou para retornar aos EUA para fazer pós-graduação. “Vim para o Brasil, colei grau e voltei a Minnesota para fazer mestrado. Depois de pouco mais de um ano, fui direto para o doutorado. Nos EUA isso é comum. Quando o professor percebe ou o aluno demonstra que ele quer ser um pesquisador, existe uma facilidade muito grande para ir direto ao doutorado e nem iniciar o mestrado, ou se inicia o mestrado e depois de um ano passa-se para o doutorado” – conta.

Iniciar o mestrado nos EUA não foi tão simples quanto pode parecer. Tederson acredita que a sua experiência em relação ao desafio da língua, cultural, parte técnica e do conhecimento, não tenha sido nenhum pouco diferente do que outros brasileiros viveram. “O diferencial talvez seja o fato de que na época, o governo brasileiro não financiava bolsas de mestrado. Eu tive que fazer pós-graduação com fundos dos EUA, e lá não existem programas como existem aqui, como da Capes e CNPq, onde você começa o mestrado ou o doutorado com a segurança da bolsa pelo período como um todo. Lá, você faz vários projetos ao mesmo tempo e esses projetos podem variar de um a cinco anos, cujo valor pode ser de 10 a 50 mil dólares. Então, durante todo o período em que fiquei lá, eu tive que desenvolver trabalhos em mais ou menos dez projetos, alguns relacionados à minha tese, outros não. Tudo isso pensando em me manter” – relembra.

Apesar de todo o esforço necessário para concluir a pós-graduação nos EUA, Tederson avalia que “a pressão de ter que financiar o estudo dificultou as coisas, mas ao mesmo tempo, me ensinou bastante: fazer projetos em seis meses e não em quatro anos, fazer coisas que não estavam diretamente relacionadas à minha tese. Aprendi a lidar com a questão do financiamento da pesquisa durante a minha pós-graduação”.

Foram um ano no mestrado e quatro dedicados ao doutorado. No último ano do doutorado, Tederson buscava novas oportunidades, como um pós-doutorado numa área para além da entomologia, como em bioestatística ou ecologia química, por exemplo, ou um emprego numa empresa. “O foco era continuar nos EUA ou ir para a Europa. Eu não tinha intenção de voltar para o Brasil logo após o doutorado. Gostaria de ter outra experiência profissional” – revela.

Assim, em 2008, Tederson foi selecionado pela Monsanto para ocupar a vaga de pesquisador em Entomologia, cujo objetivo principal era descobrir novas proteínas Bacillus thurigiensis (Bt). Tederson trabalhou na sede global da empresa, em Saint Louis, por dois anos, até retornar ao Brasil, em 2010, agora, com o desafio de montar o Laboratório de Entomologia da Monsanto, em Campinas (SP).

Após oito anos nos EUA, de volta ao Brasil, Tederson montou e liderou o Laboratório de Campinas até 2013, quando, movido pelo desejo de se dedicar a “uma área mais comercial, mais próxima do agricultor”, ele mudou para a cidade de São Paulo e passou a atuar na parte estratégia da empresa. Dessa vez o propósito é “olhar para os próximos 10 ou 15 anos e lançar tecnologias que o agricultor vai precisar no futuro”.

Otimista com o que vem pela frente, apesar da crise hídrica atual, Tederson destaca que “o Brasil continuará sendo um país crítico na produção de alimentos no mundo. Temos a responsabilidade de alimentar outros países. Mas precisamos aprender a ser mais eficientes naquilo que fazemos e acreditar na inovação do profissional brasileiro e nas tecnologias”.

Questionado sobre o sucesso da sua carreira profissional, ele é enfático ao afirmar que “momentos difíceis te preparam melhor. Eu procuro colocar limites. No final, olho e vejo que o resultado não poderia ter sido melhor”. E o profissional bem sucedido tem motivos de sobra para comemorar, sobretudo, neste ano, com o nascimento da pequena Alicia, a sua primeira filha. Tederson garante que o bom momento na vida pessoal trouxe maior eficiência no trabalho. “Eram dois adultos, depois chega o filho, ajuda no desenvolvimento pessoal.” – ele comenta, manifestando toda a alegria do momento especial que está vivendo.

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