Perfil: Carla Cristina Marques Arce

Desenvolver pesquisas em um centro de excelência na sua área de atuação é uma oportunidade desejada pela maioria dos pesquisadores. A doutoranda em Entomologia Carla Cristina Marques Arce, orientada do professor Eraldo Lima, não só desejou como vivenciou essa experiência no ano passado. Ela ficou de janeiro a dezembro de 2013, desenvolvendo pesquisas no Instituto Max Planck de Ecologia Química, localizado na cidade de Jena, na Alemanha.

No Brasil, Carla pesquisa sobre o efeito que o nematoide de raiz provoca em um inseto foliar via defesa de planta. Através do Programa Ciência sem Fronteiras, ela embarcou para a Alemanha com o propósito de estudar o processo inverso. No Instituto Max Planck, ela investigaria os efeitos que o inseto que se alimenta da planta provoca no nematoide. Entretanto, seu projeto de pesquisa teve que ser adaptado, pois a criação iniciada na Alemanha não produziu o número suficiente de nematoides. “Um ano parece muito tempo, mas para quem precisa fazer experimentos não é.” – afirma. Diante do imprevisto, Carla continuou investigando a defesa da planta e o efeito dessa defesa no inseto, contudo, sem a presença do nematoide.

Adaptar a sua pesquisa foi apenas um dos desafios que Carla teve que enfrentar. No Instituto Max Planck de Ecologia Química, ela foi orientada pelo pesquisador suíço, Matthias Erb. A orientação trouxe também muita cobrança: “Meus primeiros seis meses foram apenas de cobrança. ‘Se não sabe, aprende. Para estar aqui tem que ser bom’ – o meu orientador falava”. Apesar de toda a pressão inicial, Carla tirou de letra. “Corri atrás, executei o projeto, consegui fazer tudo. No final valeu muito a pena”.

Carla confessa que no início pensou em retornar ao Brasil. Mas passados alguns meses ela percebeu que aquele excesso de cobrança foi um estímulo para que ela explorasse todo o seu potencial. “Quando mostrei os primeiros resultados para o meu orientador, tudo mudou. Ele não fez nada para me prejudicar, tudo foi para eu mostrar o meu potencial” – avalia.

Com todas as dificuldades que enfrentou, Carla acredita que a pressão favoreceu o autoconhecimento. Ela percebeu que poderia superar seus limites. Além do crescimento no campo pessoal, no que diz respeito à sua formação, ela destaca o importante aprendizado na área de biologia molecular: “Aprendi muitas técnicas, eles têm muitos aparelhos. E a biologia molecular era necessária para o meu trabalho”.

Para ela, “lá, o modo de fazer ciência é diferente, eles são antenados com a ciência em geral. Culturalmente, eles têm muito compromisso com tudo o que se propõem a fazer. Desde pequenos, eles têm isso muito claro, querem fazer o melhor. E como dispõem da estrutura e do dinheiro necessário, isso reflete na qualidade da pesquisa que desenvolvem”.

Pela sua excelência e por ser o primeiro centro de estudo em Ecologia Química do mundo, o Instituto Max Planck atrai pesquisadores de todas as partes. Carla conta que no Departamento de Ecologia Molecular onde ela trabalhou, havia pesquisadores de 27 nacionalidades. “Conheci gente do mundo inteiro, países como Vietnã, Mongólia, Índia, China, Estados Unidos e vários outros”. Além da doutoranda em Entomologia da UFV, na época, outras duas brasileiras também trabalhavam no Departamento de Ecologia Molecular do Instituto.

A convivência com pessoas de tantos países diferentes proporcionou à Carla um rico intercâmbio cultural, mas também se revelou um grande desafio em termos de comunicação. Apesar de todos falarem o inglês, “cada nacionalidade tem um sotaque muito forte e isso é o mais difícil” – afirma.

Não bastassem os diversos sotaques, Carla que não domina a língua oficial do país,  ainda tinha que compreender o alemão para as atividades mais rotineiras. “Não sabia comprar nada. Eu fazia uma lição de casa antes de ir ao supermercado, pesquisava na internet o nome dos produtos. Sites de brasileiros que vivem na Alemanha ajudaram muito”. Quando o assunto é a receptividade do povo alemão, Carla é bem direta: “A fama do alemão não é boa e eu tive péssimas experiências”.

Localizada no estado da Turíngia, a cidade de Jena, onde Carla morou, é um dos mais importantes centros intelectuais da Alemanha. Com uma população de mais de 100 mil habitantes, tudo gira em torno dos centros de pesquisa e universidades. Dentre os destaques que a cidade abriga, estão a Universidade Friedrich Schiller de Jena, com mais de 450 anos de fundação, e a indústria Carl Zeiss, fabricante de lentes.

Vivendo nessa cidade intelectual, num ambiente inspirador, Carla revela que não poderia ter sido diferente todo o seu esforço durante o período em que viveu lá. Com defesa marcada para o dia 7 de agosto, Carla agora escreve a sua tese e acredita que a experiência vivida na Alemanha está sendo fundamental para a conclusão do seu trabalho. “Trabalhei muito mesmo, mas foi lucrativo”. E ela já planeja um pós-doutorado no exterior para meados de 2015. Agora, o destino será a Suíça, país onde atualmente trabalha o conceituado e exigente pesquisador, Matthias Erb.

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