Perfil: Antonio Chamuene

Africano de Moçambique, Antonio Chamuene é estudante do doutorado em Entomologia na UFV. Ele veio para o Brasil em julho de 2011, após receber uma bolsa prêmio do seu país em reconhecimento pela melhor dissertação de mestrado defendida. Essa não foi a única vez que Antonio foi reconhecido pelo seu mérito. Em julho deste ano, ele foi agraciado como melhor pesquisador assistente em Moçambique. Para o título conferido pelo Regional Universities Forum for Capacity Building in Agriculture (RUFORUM), foram consideradas as pesquisas que Antonio vem desenvolvendo durante o doutorado em Entomologia.

Antonio é funcionário do governo no seu país. Ele integra a equipe do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM), sendo o coordenador nacional de pesquisa em algodão. No Brasil, sob a orientação do professor Marcelo Coutinho Picanço, ele pesquisa sobre fatores determinantes do ataque do pulgão Aphis gossypii ao algodoleiro. Para ele, viver em Viçosa está sendo um desafio. E não pense que foi apenas pelo fato dele estar longe da “família numerosa”, como ele faz questão de enfatizar sobre um traço da cultura africana: famílias grandes e que preza por ter todos sempre por perto. Em Viçosa, Antonio não conta com a companhia da esposa e dos quatro filhos, eles ficaram em Moçambique.

Para Antonio, o grande desafio foi encarar um novo sistema educacional, o terceiro da sua trajetória. Do primário ao ensino médio, ele estudou no seu próprio país, na cidade de Nampula. Mas para fazer um curso superior, Antonio foi para a Rússia, onde se formou em Agronomia Geral pelo Instituto Agrário do Cazaquistão. Ele foi para a ex-União Soviética em 1990, um ano antes do fim da URSS. Não foi por acaso que ele foi para lá. De acordo com Chamuene, Moçambique sempre contou com o apoio da ex-União Soviética, inclusive para se libertar do domínio de Portugal.

Vindo de um país de língua portuguesa, o idioma não foi problema no convívio diário com os brasileiros. A exceção foi para as aulas de Taxonomia. Como a graduação foi na Rússia, ele assistiu às aulas de Taxonomia Geral em russo. Antonio teve que aprender novamente as nomenclaturas, só que agora, em português. Pelo visto, dominar outros idiomas nunca foi problema para o moçambicano. Ele foi para a Rússia sem saber nenhuma palavra na língua local. Mas com menos de um mês de aulas, Antonio já dominava a língua, sendo o primeiro africano a falar russo em um período tão curto. Ele se deu tão bem com o idioma, que obteve até certificação internacional que o habilita a dar aulas de língua russa.

Há pouco mais de três anos morando no Brasil, Antonio destaca semelhanças, que vão além do idioma oficial, entre o seu país de origem e o país que o acolhe. “Moçambique é um pequeno Brasil”- resume, sem deixar de enfatizar a localização privilegiada do país na África Oriental, as reservas de gás natural que colocam Moçambique como um dos maiores produtores do mundo, as lindas praias, a fauna e a beleza dos parques nacionais. E, com bom humor, ele avisa: “Na África, os animais não correm soltos por qualquer lugar”.

Antonio conta que foi muito bem recebido no Brasil. “O povo aqui é acolhedor. Sempre tive apoio e convivo num bom ambiente social e acadêmico. O MIP é como uma família” – descreve, ressaltando a boa convivência da equipe coordenada pelo professor Marcelo Picanço, no Laboratório de Manejo Integrado de Pragas (MIP) da UFV.

Pesquisando sobre algodão, um dos principais produtos agrícolas na economia de Moçambique, e com término do doutorado previsto para 2015, Antonio afirma: “Estou sendo muito esperado lá. Quero levar o conhecimento que adquiri aqui para o meu país. Valeu muito a pena. Consigo medir”.

Mesmo com a distância  momentânea da família e de suas raízes, Antonio garante que a experiência na UFV superou as suas expectativas. “Não tenho referência de outras universidades do Brasil, mas para quem quer se formar em Entomologia, aqui é o lugar certo. Teoria e prática focalizam problemas da atualidade. O Programa aborda questões reais da agricultura moderna” – recomenda o pesquisador, que já passou pelos sistemas de ensino moçambicano, russo e, agora, o brasileiro.

A seguir, você pode conferir um pouco do bate papo com Antonio Chamuene.

3 Comments on “Perfil: Antonio Chamuene

  1. O clip de reportagem da entrevista de Antônio Chamuene eh super interessante por abordar o papel da UM, no fortalecimento de recursos humanos. A Entomologia e Antônio Chamuene estão nesta entrevista como modelo dessa contribuição que vem desde a década de 90. Não só para moçambicanos como outras nações. Parabéns a UK, pelo alto padrão e desempenho no treinamento em tecnologias de ponta aplicados a agricultura tropical. Carvalho Carlos Ecole, Manuel Amane, Mom a de Ibrahim o, Benedito Zacarias, Atuma e Nuno, Sofrimento Matosinhos, Gisela Nunes… Carlos Miguel Menezes, apenas para citar exemplos de Moçambicanos com graduação e pós graduação na UM, hoje em Moçambique oferecendo a sua contribuição.
    Abraço,

    • Caro Chamuene,

      Acuso com satisfação a recepção da sua mensagem. Espere que este e outros sejam os melhores meios para interagirmos.

      Melhores cumprimentos

  2. Gostei imenso da entrevista. Estamos todos a espera que o Chamuene regresse e contribua para o desenvolvimento do algodão e outras culturas em Moçambique. Temos que diminuir o uso de pesticidas e desenvolver cada vez mais o Maneio Integrado de Pragas e Doenças. Espero que que o Chamuene contribua para este objectivo.

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