Perfil: Mayra Vélez Ruiz

A equatoriana Mayra Vélez Ruiz, 26 anos, é estudante do mestrado em Entomologia, sob a orientação do professor Paulo Sérgio Fiuza Ferreira. Ela ingressou na pós-graduação através do convênio entre a Capes, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Grupo Coimbra.

No Brasil desde fevereiro de 2012, Mayra afirma que sempre desejou fazer pós-graduação, mas que o seu país não oferecia oportunidades. Quando buscou o intercâmbio, tinha três opções de universidades e a vaga poderia sair para qualquer uma delas. Mas Mayra revela que a sua torcida deu certo e ela veio para a UFV. Mayra afirma que a sua preferência pela instituição se deve ao grande reconhecimento que a UFV tem no Equador.

A adaptação de Mayra ao Brasil não foi nada fácil, sobretudo, com relação ao idioma e à culinária. Embora brasileiros tendam a compreender bem pessoas de língua espanhola, o inverso não procede. Pessoas que falam o espanhol não entendem falantes de língua portuguesa com a mesma clareza. E Mayra vivenciou isso intensamente no seu primeiro ano no Brasil.

No início, o excesso de gírias e as palavras iguais, mas com significados diferentes, dificultavam a comunicação com os anfitriões brasileiros. Assim, Mayra buscou apoio junto a outros estrangeiros de língua espanhola. Ela conta que as dificuldades iniciais a uniram a outros latinos que também chegaram ao Brasil na mesma época, principalmente, estudantes da Costa Rica, México e Colômbia, que acabaram se tornando amigos.

Para superar o idioma, Mayra frequentou um curso de português para estrangeiros, oferecido pelo Departamento de Letras da UFV. Além de ensinar a língua, o curso aborda aspectos culturais brasileiros. Mayra acredita que teve muita sorte, pois se deparou com pessoas muito boas no caminho. Nas disciplinas da pós-graduação sempre pôde contar com a compreensão e auxílio de estudantes e professores brasileiros.

Ela conta que o período mais difícil foi quando permaneceu no estado do Espírito Santo por um mês para realizar uma pesquisa, por meio de uma cooperação técnico-científica entre a UFV e o Instituto Capixaba de Pesquisa (Incaper). Essa foi a primeira vez que Mayra conviveu apenas com brasileiros. Ela afirma que o difícil não foi ficar esse período sem falar espanhol, mas foi acompanhar a fala rápida das pessoas e a compreensão de termos técnicos. Mayra desconhecia termos como “beira do rio” e “estiagem”, por exemplo. Apesar das dificuldades, ela considera que “essa experiência foi muito boa”.

Outro desafio que Mayra lida com ele dia a dia, diz respeito à culinária brasileira. No início da sua estadia no país, chegou a perder peso. “O jeito de cozinhar é muito diferente. No Equador, somos acostumados a ter muitos caldos nas refeições. Muitas frutas, legumes e vegetais fresquinhos.” – descreve. Se por um lado o idioma foi superado, Mayra acredita que a culinária nunca será. A não ser que no cardápio diário tenha feijão tropeiro ou feijoada, os dois pratos brasileiros mais apreciados por ela.

Sem contar a visão que ela tinha sobre o Brasil: “praia, calor e carnaval”. Quando Mayra chegou a Viçosa e se deparou com temperaturas de até 10ºC admirou: “Impossível, estou no Brasil!” – conta sorrindo, hoje já acostumada com a diversidade do país em diversos aspectos.

Mayra é graduada em Engenharia Agropecuária pela Escuela Politécnica del Ejército (Espe), no Equador. Ela conta que no país não tem muitas oportunidades para pós-graduação e que recentemente o governo equatoriano têm investido em programas que estimulem a qualificação de mão de obra. Mesmo assim, a maioria dos estudantes que buscam esses programas são homens – afirma Mayra. Por isso, para ela estar hoje no Brasil prestes a concluir o mestrado em Entomologia não é só uma realização pessoal e profissional, é também uma quebra de barreiras culturais.

Como a pesquisa científica no Equador não tem muita tradição, Mayra afirma que não era acostumada com as publicações. “Agora que comecei a entrar no mundo das publicações, dos artigos, vou continuar.” – ela assegura, revelando seus planos de permanecer no Brasil por mais algum tempo para fazer o doutorado. Mayra acredita que se retornar ao Equador com o mestrado concluído encontrará portas abertas numa das universidades do país. Mas o desejo dela vai além: “espero trabalhar na melhor”, por isso a opção por dar continuidade aos estudos. Ainda mais, agora, já adaptada ao Brasil.

Mayra avalia que mais pessoas deveriam ter uma oportunidade como esta que ela está tendo, porque o resultado dessa experiência enriquecedora é o aprendizado: “Aprende a se conhecer, perder a timidez, lidar com dinheiro, quebrar tabus, assumir dificuldades. O intercâmbio cultural vai acontecer de qualquer forma”. E quanto aos desafios ela adverte: “com um pouco de consciência e boa vontade eles são superados”.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *