Estudo revela novas evidências de perda da biodiversidade na Amazônia

Os resultados de um dos maiores estudos já desenvolvidos avaliando os impactos de distúrbios provocados pelo homem sobre a biodiversidade das florestas, foram publicados na Ecology Letters, no final do mês de agosto. O artigo “How pervasive is biotic homogenization in human-modified tropical forest landscapes?”,  de autoria do doutor em Entomologia pela UFV, Ricardo de Castro Solar, em parceria com pesquisadores de vários países, revela novas evidências de que o desmatamento está causando perdas drásticas da biodiversidade de florestas tropicais. As evidências foram alcançadas com base numa análise detalhada de cerca de duas mil espécies de plantas, formigas, aves, besouros e abelhas, coletados em mais de 300 pontos, em cerca de três milhões de hectares na Amazônia brasileira.

Desmatamento Amazônia IO trabalho comprovou que onde as florestas já foram substituídas por pastos e áreas de agricultura, a biodiversidade de plantas e animais foi empobrecida. E as espécies restantes são subgrupos de generalistas e espécies especialistas daquelas existentes nas áreas abertas. Apesar do evidente declínio da biodiversidade, os autores indicam uma possibilidade frente à situação alarmante. De acordo com os pesquisadores, “a perda de espécies pode ser ao menos parcialmente compensada com a manutenção de áreas de florestas que possam ser complementares, sustentando a biodiversidade em extensões mais vastas”.

Visando preservar o máximo da diversidade de espécies, o trabalho indica que “áreas de reserva não devem ser concentradas em uma única porção da região. Ao invés disso, elas devem ser espalhadas na forma de uma rede de reservas. Essas redes também devem incluir áreas de floresta secundária e de florestas perturbadas onde não há mais florestas primárias”. Ricardo Solar destaca que “algumas florestas perturbadas conseguem manter uma quantidade de até 80% das espécies encontradas em áreas de florestas primárias – o que nos dá alguma esperança. Dessa forma, destacamos que é de importância vital que as reservas de florestas sejam espalhadas na paisagem, e não concentradas em uma única parte das regiões afetadas”.

Nesse sentido, o pesquisador do Instituto Ambiental de Estocolmo, na Suécia, Dr. Toby Gardner, coautor do estudo, também alerta: “Existe uma premissa bem disseminada de que concentrar os esforços de conservação na proteção de reservas isoladas é a melhor maneira de proteger a biodiversidade. Entretanto, o nosso trabalho mostra que, especialmente nas propriedades privadas, que muitas vezes já foram perturbadas – que dominam as áreas de florestas dos trópicos – nós devemos manter e proteger uma ampla rede de reservas florestais. Sem essa abordagem baseada na paisagem, devemos esperar que muitas espécies sejam regionalmente extintas”.

Amazônia

 Rede de pesquisa

O estudo publicado na Ecology Letters é derivado do primeiro capítulo da tese de doutorado de Ricardo, sob a orientação do professor José Henrique Schoereder. Durante o doutorado em Entomologia, Ricardo passou um ano no Reino Unido, pesquisando sobre biodiversidade e conservação de insetos, no Lancaster Environment Centre. Ricardo é integrante da Rede Amazônia Sustentável e, atualmente, faz pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFV.

A Rede Amazônia Sustentável é um projeto internacional que busca compreender como a atividade humana influencia na biodiversidade da Amazônia Oriental brasileira. Ricardo avalia que o fato de integrar uma rede de pesquisa permitiu utilizar uma gama de dados muito mais ampla do que a que ele poderia coletar sozinho: “Dada a escala das perguntas a serem respondidas na Amazônia, a única forma de trabalhar eficientemente e oferecer respostas de relevância científica é se unindo e colaborando com pesquisadores de diversas áreas. A Rede Amazônia Sustentável reúne um consórcio ímpar de cientistas, conservacionistas e atores locais para contribuir no enfrentamento desse desafio. As pesquisas vêm produzindo conhecimento para melhorar nosso entendimento do balanço entre conservação ambiental e desenvolvimento socioeconômico no maior remanescente de floresta tropical do mundo”.

Fotos: Ricardo Solar

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