Estudo mostra como a interação entre componentes da ecologia térmica e imunológica afetam um sistema patógeno-hospedeiro

Em um artigo publicado no final do mês de abril na Ecology and Evolution, o doutor em Entomologia, Farley William Souza Silva, mostra como a interação entre componentes da ecologia térmica e imunológica afetam um sistema patógeno-hospedeiro. Foram testados os efeitos da interação entre temperatura e densidade populacional sobre a plasticidade fenotípica, as defesas imunológicas e a resistência a doenças na lagarta-da-soja Anticarsia gemmatalis.

Para o estudo, logo após a eclosão, as lagartas foram prontamente colocadas em potes (100 ml) e criadas em um desenho experimental fatorial 2 x 4, com dois níveis de densidade (1 ou 8 lagartas/pote) e quatro de temperatura (20, 24, 28 e 32 °C). Foram avaliados: (i) fenótipo – através das mudanças de cor da cutícula; (ii) parâmetros imunológicos – resposta de encapsulação, melanização da cápsula e número de hemócitos; e (iii) resistência a patógenos – através da sobrevivência de lagartas infectadas ou não pelo vírus AgMNPV.

No artigo intilulado “Temperature and population density: interactional effects of environmental factors on phenotypic plasticity, immune defenses, and disease resistance in an insect pest”, os autores revelam que “algumas das respostas imunológicas de A. gemmatalis variaram de acordo com os fatores ambientais: lagartas cresceram mais pesadas em temperaturas mais elevadas, e isso, por sua vez, aumentou a resposta de encapsulação. Além disso, lagartas em ambas as densidades populacionais apresentaram maior melanização da cápsula em temperaturas mais elevadas, embora a resposta mais evidente tenha sido encontrada em lagartas que foram criadas solitárias. Por outro lado, a temperatura causou um efeito negativo no números de hemócitos, em ambas as lagartas criadas solitárias ou gregárias”.

Segundo Farley, “a temperatura, mas não a densidade populacional, afetou consideravelmente a sobrevivência de lagartas. Assim, lagartas sucumbiram ao vírus AgMNPV mais rapidamente quando criadas em temperaturas mais elevadas do que em temperaturas mais baixas. Apesar de lagartas em temperaturas maiores começarem a morrer mais rápido, a porcentagem de mortalidade foi menor do que daquelas criadas em temperaturas menores. Por ser uma importante praga da soja, A. gemmatalis pode aumentar os danos em campos de soja sob um cenário de aquecimento global, já que as lagartas podem atingir a ‘resistência de desenvolvimento’ (lagartas tornam-se mais resistentes à infecção a medida que envelhecem) mais rápido, e, assim, diminuir a sua susceptibilidade ao controle biológico por AgMNPV”.

Este trabalho publicado na Ecology and Evolution é fruto da tese de doutorado que Farley defendeu na UFV, em 2014, sob a orientação do professor Simon Luke Elliot. Este é o terceiro artigo que Farley publica em 2016.

 Outros artigos recentemente publicados:

Physical and chemical properties of primary defences in Tenebrio molitor

Publicado na Physiological Entomology, esse trabalho foi resultado da disciplina Morfologia Interna de Insetos, ministrada pelo professor José Eduardo Serrão, cursada por Farley durante o doutorado. “Nesse trabalho nós testamos a hipótese de que as propriedades físicas e químicas das defesas primárias em Tenebrio molitor mudam com o fenótipo do inseto (cor da cutícula). As propriedades da cutícula, investigadas nesse estudo, são provavelmente os mecanismos responsáveis pela resistência a patógenos (principalmente fungos) em besouros expressando o fenótipo preto” – explica o autor.

Density-dependent prophylaxis in primary anti-parasite barriers in the velvetbean caterpillar

Publicado na Ecological Entomology, esse trabalho é um dos capítulos da tese de doutorado de Farley, no qual “foi testado se as defesas primárias do intestino médio da lagarta-da-soja A. gemmatalis apresentam plasticidade dependente da densidade e também se estas defesas poderiam ser induzidas por um desafio patogênico viral. O objetivo foi verificar se a morfometria e a estrutura do intestino médio, e a matriz peritrófica mudam de acordo com a mudança fenotípica (cor da cutícula) em lagartas, e se tais mudanças podem fornecer às lagartas uma barreira mais eficaz contra a invasão por AgMNPV”.

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