Entomologistas buscam alternativas para controle de gafanhotos

Gafanhotos vêm sobrevoando o noticiário brasileiro há algumas semanas. Entre a ameaça de invasão da espécie Schistocerca cancellata e o seu controle pelos países vizinhos, o Brasil se mantém em estado de alerta. A expectativa é que não ocorram alterações climáticas favoráveis ao deslocamento da nuvem de gafanhotos em direção à sua fronteira, pois a explosão populacional desses insetos pode causar grandes prejuízos por onde eles passam. Embora atualmente as nuvens de gafanhotos migratórios na América do Sul estejam em evidência no noticiário, espécies desses insetos vêm demandando ao longo do tempo atenção de entomologistas pelo mundo, em pesquisas que buscam alternativas seguras e eficientes para controlá-las.

O professor da Entomologia Simon Luke Elliot pesquisou durante o seu pós-doutorado, no Imperial College London, sobre o fungo Metarhizium acridum, desenvolvido para controle de gafanhotos em países da África, principalmente, para controle do gafanhoto do deserto. O objetivo da sua pesquisa, desenvolvida no centro e sul da África, foi testar a eficácia desse fungo no controle do gafanhoto vermelho, espécie que se reproduz em regiões de pântanos. “Já que pântanos são bem sensíveis em termos ambientais, a ideia era testar o fungo nesse ambiente. Fizemos ensaios em campo, mostramos a sua eficácia e levamos esses resultados à FAOOrganização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, para adotar essa tecnologia”.  

O fungo Metarhizium já foi testado para controle de diversas espécies de gafanhotos em vários países do continente africano e da Europa. O professor da Entomologia destaca que, como estamos vendo agora, gafanhotos têm períodos em que são escassos e outros em que se proliferam, e que os biopesticidas são uma boa alternativa para controle. Ele enfatiza que o funcionamento do fungo Metarhizium depende da temperatura ambiental. Assim, para se utilizar no Brasil teria que entender essa relação do fungo com a temperatura, sendo preciso uma base científica para isso.

“Uma nuvem de gafanhotos pode acabar com praticamente toda a vegetação por onde passa. A ameaça é grande. As medidas de controle são: primeiramente, monitoramento e onde chegar, aplicação de inseticidas. Teria a possibilidade de se usar fungo, mas é importante saber que em determinadas temperaturas não vai funcionar muito bem. É melhor utilizar fungos quando o tempo está nublado ou em áreas de pântano. Temperatura alta ou baixa faz com que o fungo deixe de crescer dentro dos insetos. O fungo só cresce em temperaturas médias, entre 18 e 27 ºC” – afirma Simon.

Controle

Utilizando controle químico, a Argentina eliminou parte dos gafanhotos com pulverizações terrestres e aéreas de inseticidas. No Brasil, ainda não existem produtos comerciais registrados para controle microbiano de gafanhotos. Mas devido ao risco de surto de Schistocerca cancellata em áreas produtoras nos estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) declarou estado de emergência fitossanitária nos dois estados, liberando, caso seja necessário, o uso emergencial de agrotóxicos e de produtos biológicos não registrados.

Com a ausência de produtos registrados para controle, produtores rurais que sofrem com o ataque desses insetos-praga buscam na pesquisa científica, a solução. Em 2017, a pesquisadora da Epamig Sudeste Madelaine Venzon, orientadora do PPG em Entomologia da UFV, foi acionada para buscar alternativas para combater o ataque de ortópteros em pastagens do município de Morada Nova de Minas (MG). Posteriormente, produtores de banana do Norte de Minas sofreram com danos provocados por gafanhotos na casca dos frutos. Visando atender tais demandas, a pesquisadora formou uma equipe de trabalho e propôs o projeto “Identificação e controle microbiano de gafanhotos praga”, aprovado pela Epamig em 2018.

O doutorando em Entomologia Álvaro Henrique Costa integra a equipe desse projeto. Parte dos resultados das pesquisas compõem a sua dissertação de mestrado. De acordo com o doutorando, “nós identificamos gafanhotos e esperanças em fazendas comerciais de banana pertencentes aos municípios de Nova Porteirinha, Capitão Enéas, Francisco Sá, Jaíba e Verdelândia que estão causando danos aos frutos e folhas. A espécie  Schistocerca cancellata (Serville, 1838)  também foi encontrada e seu potencial de dano foi devidamente caracterizado e mensurado”.

Sobre uma possível alternativa para controle desses insetos, Álvaro destaca: “Em alguns países do continente africano e também na Austrália, o fungo Metarhizium acridum já tem seu potencial sendo explorado como base de produtos comerciais, como agente de controle biológico de gafanhotos. No Brasil, já existem diversas pesquisas com o isolado CG 423 de M. acridum, que foi cedido pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, parceira do nosso projeto. A partir daí, foi possível coletar informações precisas sobre o problema e propor soluções com o menor impacto para a saúde humana e meio ambiente. A suscetibilidade dos gafanhotos identificados ao isolado CG 423 do fungo M. acridum está sendo avaliada em experimentos de laboratório e os resultados são promissores”.

Para o doutorando, “o desenvolvimento de um produto à base de M. acridum envolve diversas vantagens sociais e ambientais em comparação ao controle químico, principalmente no que tange à saúde humana, riscos de contaminação do meio ambiente e ação negativa sobre organismos não-alvo, além dos benefícios econômicos gerado pelo menor custo como método de controle”.

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