Egresso da Entomologia entra na fase final do doutorado promovendo parceria entre UFV e Max Planck Institute

Foram os cupins, há seis anos, que atraíram a atenção de Helder Hugo, no período em que ele cursava seu mestrado, pelo Programa de Pós-Graduação em Entomologia, e são eles também, hoje, que mantém o vínculo entre o pesquisador, agora doutorando no Max Planck Institute of Animal Behaviour (MPIAB), na Universidade de Konstanz, Alemanha, e os laboratórios de pesquisa da UFV. Helder, que concluiu o mestrado em 2016 sob orientação do professor Og de Souza, está na Alemanha desde então e deve finalizar em 2021 seu doutorado pleno. Na Universidade de Konstanz, ele é orientado pelo professor Iain D. Couzin, uma das referências mundiais no estudo de comportamento animal coletivo.

“O tema do meu doutorado se conecta diretamente ao meu trabalho de mestrado, que foi focado na caracterização de comportamentos individuais em cupins coabitantes. Atualmente alguns dos meus projetos utilizam o cupim Constrictotermes cyphergaster, que foi uma das espécies investigadas no meu trabalho de mestrado”, explica Helder. “Uma das principais diferenças, entretanto, é que ao longo do doutorado tive a oportunidade de desenvolver técnicas modernas de computação visual que permitem mensurar e analisar padrões coletivos de comportamento inacessíveis por meio de técnicas tradicionais.”

A linha de pesquisa de Helder está hoje focada no estudo da ecologia e da evolução de mecanismos subjacentes de comportamento coletivo em sociedades complexas. “Especificamente, estou pesquisando padrões emergentes de movimento coordenado coletivo em cupins, um grupo que, apesar de ser relativamente pouco estudado dentre os insetos sociais, é um excelente objeto de pesquisa para estudos de comportamento.”

Helder, no canto direito, no alto da foto, posa com a equipe do departamento de comportamento coletivo de Konstanz

Os caminhos do pesquisador na Alemanha foram sendo desenhados ao longo do mestrado, com o apoio e o incentivo do orientador Og. e de outros docentes do programa, como as professoras Madelaine Venzon e Terezinha Della Lucia, e os professores Eraldo Lima e Simon Elliot. “Além do fato do MPIAB ser uma instituição reconhecida e prestigiada no mundo todo, algo que me motivou foi a experiência do meu atual orientador de doutorado, professor Couzin. Na maioria dos artigos que li sobre comportamento coletivo na etapa final do meu mestrado, ele era um dos autores, e isso me motivou a contatá-lo.” Ao final de seu período como mestrando, Helder se viu dividido entre a escrita da dissertação, a elaboração da proposta oficial do doutorado e os exames TOEFL e GRE. “Algo que ajudou bastante foi que o professor Og e eu já havíamos decidido que toda produção do meu mestrado, inclusive a dissertação, seria feita em inglês, a título de treino. Até mesmo os e-mails cotidianos – que ainda trocamos – são sempre escritos na língua estrangeira. É algo que no início pode ser cansativo ou desmotivador, mas como o Og sempre enfatiza, ‘inglês é básico’, e algo que nós acadêmicos brasileiros devemos sempre aprimorar.”

Financiamento
Ao final do processo, Helder não só foi aprovado para o doutorado, como também selecionado, em seguida, pelo International Max Planck Research School for Organismal Biology (IMPRS), um dos programas de pós-graduação ofertados pela Max Planck Society. O programa é composto por mais de 40 pesquisadores, líderes em suas áreas de pesquisa, e atualmente conta com doutorandos egressos de 37 países diferentes. “É um programa bastante conhecido na Europa, competitivo e que proporciona aos seus membros integrantes treinamento de primeira classe nos campos de comportamento, ecologia, evolução, fisiologia e neurobiologia”, conta o brasileiro. Sua pesquisa, hoje, é financiada pelo Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD) – oficialmente traduzido como Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico -, organização voltada a fomentar o intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores.

Parceria contínua
Antes de viajar para o exterior, Helder havia também sido selecionado em primeiro lugar no processo seletivo do PPGEnt, o que lhe daria a oportunidade de continuar seu trabalho no Brasil por quatro anos sob a orientação do professor Og. Apesar da opção pela Alemanha, Helder faz questão de destacar a parceria contínua com o programa brasileiro, por meio do professor Og e do Laboratório de Termitologia. “Na minha proposta de doutorado submetida ao DAAD, deixei claro que a parceria inédita entre o Programa de Entomologia da UFV e o Departamento de Comportamento Coletivo do MPIAB seria frutífera para ambas as instituições.” Desde que começou os estudos em Konstanz, o pesquisador já esteve no Brasil cinco vezes. Quatro dessas viagens tiveram duração de 35 a 40 dias e foram dedicadas a coletas no Cerrado com apoio do Laboratório de Termitologia e experimentos em torno do comportamento dos cupins. “Todo o trabalho que desenvolvo na Alemanha é baseado em filmagens feitas no Brasil com diversos grupos experimentais e tratamentos, de modo que o transporte de material biológico pra Alemanha não é necessário. Além de facilitar alguns trâmites, o fato de todos os experimentos serem feitos no Brasil garante que colônias não sejam submetidas ao estresse de uma viagem longa de transporte até a Alemanha”.

Ao longo do doutorado, Helder esteve quatro vezes no Cerrado mineiro, para trabalho de campo

O professor Og é hoje coorientador de Helder, e coautor de parte do material que ele vem produzindo ao longo destes anos na Alemanha. “O Og é um dos grandes ‘culpados’ pela minha vinda pra Alemanha, no bom sentido é claro. Praticamente tudo o que sei sobre biologia de cupins aprendi no Laboratório de Termitologia da UFV. No meu terceiro ano, consegui aprovar o financiamento de uma viagem à Alemanha para o Og, oportunidade na qual nos reunimos pessoalmente com o comitê de orientação da tese em Konstanz”, conta ele, destacando também o tratamento acolhedor que recebeu de seu atual orientador. “A primeira impressão que tive do professor Couzin foi a de alguém genuinamente fascinado por biologia e ciência, disposto sempre a aprender o máximo de qualquer pessoa, até mesmo de estudantes ainda em formação. Até hoje ele mantém essa postura, e apesar da inevitável hierarquia, sempre sou tratado como igual e com respeito em nossas discussões científicas.” 

Publicações
Ao longo de 2020, apesar dos ajustes de agenda e de ritmo de trabalho impostos pela pandemia do coronavírus, Helder teve dois trabalhos publicados pela revista Ecology and Evolution. O primeiro, em colaboração com os professores Og de Souza e Paulo Cristaldo, trata da descrição de um comportamento não agressivo por parte do cupim inquilino Inquilinitermes microcerus em relação ao seu hospedeiro Constrictotermes cyphergaster. Já o segundo artigo, em colaboração com os professores Marcel G. Hermes, Bolivar R. Garcette-Barrett e Iain D. Couzin, descreve a primeira evidência de desenvolvimento larval de vespas Eumeninae em ninhos ativos de cupim. “Nesse segundo trabalho nós reportamos a presença de câmaras de desenvolvimento de vespas em ninhos do cupim C. cyphergaster e descrevemos uma nova espécie de vespa que determinamos como Montezumia termitophila. Até então, na literatura havia o registro de vespas somente em ninhos ‘mortos’, em outras palavras, sem uma colônia de cupins ativa. Algo intrigante é que M. termitophila não somente é capaz de garantir o desenvolvimento de sua prole dentro de ninhos ativos de cupim, mas também aparenta exibir uma falta de agressividade em relação aos cupins hospedeiros. Esse resultado de baixa agressividade de certa forma alinha-se com os que encontramos na primeira publicação na Ecology and Evolution”. Ambos os trabalhos foram desenvolvidos no Cerrado em Minas Gerais, em uma área próxima do município de Divinópolis, terra natal de Helder.

A expectativa do pesquisador é finalizar o doutorado em meados deste ano. “2020 foi bastante intenso para todos, acredito. Apesar de todas as dificuldades impostas pela pandemia, tendo inclusive testado positivo em março daquele ano e precisando trabalhar completamente em home-office e ainda em lockdown até a presente data, consegui desenvolver meus projetos, publicar artigos e ainda achar tempo para me casar na Eslovênia no meio do ano. Mesmo diante de toda incerteza que a pandemia traz, meus planos futuros são de continuar na academia e iniciar um pós-doutorado também focado em um estudo de comportamento, seja na Alemanha, Eslovênia, Brasil ou quem sabe algum novo destino.” Nos quatro anos e meio que já soma na Alemanha, Helder se encantou não só pelo país, como também pela língua alemã, apesar de o inglês ser o idioma oficial dos trabalhos realizados na universidade. “Nos meus primeiros seis meses na Alemanha tive a oportunidade de estudar em um curso intensivo de alemão em Köln patrocinado pelo DAAD. Consegui terminar o programa e obter a certificação B2.2, que permite uma comunicação coloquial diária. Infelizmente, tive de interromper os estudos, mas no futuro pretendo iniciar o C1, que seria o nível avançado ou acadêmico no alemão.”

Fotos: Arquivo pessoal

One Comment on “Egresso da Entomologia entra na fase final do doutorado promovendo parceria entre UFV e Max Planck Institute

  1. Que orgulho!!! Eu sinto um orgulho enorme de ser teu irmão. Parabéns por todo trabalho e dedicação. Até mais e obrigado pelos peixes…

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