Egressa assume na África posto de entomologista em pesquisa que busca erradicar a malária

A pesquisadora Maria Júlia Corrêa, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Entomologia (PPGEnt), poderia iniciar agora seu doutorado, na condição de estudante mais bem classificada no processo seletivo 2022/1, mas decidiu adiar esse plano em função de um outro: ela acaba de se mudar para a África, para colaborar com uma pesquisa sem fins lucrativos que tem como objetivo contribuir para a erradicação da malária humana. Maria Júlia atuará no Centro Nacional de Endemias (CNE), na cidade de São Tomé, como Entomologista Assistente da University of California Malaria Initiative (UCMI), nas ilhas de São Tomé e Príncipe, a cerca de 300km da Costa Ocidental Africana. O projeto, que está em sua segunda etapa, trabalha com a engenharia genética de populações de mosquitos para prevenir a transmissão da doença, em parceria com cientistas locais. 

Nos próximos meses, conta a pesquisadora, serão realizadas análises bioecológicas dos insetos vetores, ou seja, serão realizadas coletas de campo avaliando o comportamento em ambiente natural, a capacidade de dispersão, reprodução, além de análises moleculares que permitem identificar se esses insetos, coletados em diferentes regiões das ilhas, carregam a forma infectante do plasmódio (esporozoítos, responsáveis pela transmissão da Malária). 

“No momento, a pesquisa envolve ensaios de campos confinados e não ocorre a soltura de mosquitos geneticamente modificados. É necessária uma pesquisa de base bem robusta antes de chegar nesse estágio, uma caracterização dos locais de campo da ilha, recolhendo dados de base e análises dos mosquitos, adultos e larvas, em diferentes locais, modelando e aperfeiçoando assim os ensaios de campo. Todo o projeto gira em torno de uma estratégia baseada em relacionamento, ou seja, é uma parceria com a comunidade e outras partes interessadas que estão no centro da tomada de decisão de cada fase da pesquisa”, explica Maria Júlia. 

Em São Tomé, ela trabalhará em parceria com entomologistas seniores do Programa Nacional de Luta contra o Paludismo (PNLP), em atividades entomológicas de campo e laboratório, e também vai colaborar com atividades de treinamento que serão realizadas pela equipe da UCMI. “É uma pesquisa muito bacana, com um grande e direto envolvimento social, administrativo e de saúde pública do país, o que permite que a ciência contribua diretamente com a população das ilhas, de uma forma ética e transparente.”

Maria Júlia integrou a equipe do Laboratório de Neurobiologia e Fisiologia de Invertebrados

Trajetória no PPGEnt
Graduada pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Maria Júlia chegou ao PPGEnt em 2019 por meio de um estágio com o professor Eugênio de Oliveira.  “Contactei o  professor Eugênio, que tem uma linha de pesquisa semelhante a que trabalhei na graduação e que era a que eu queria trilhar na pós também. Ele me ofereceu o estágio, fiquei de novembro a março, e em março de 2020 consegui a aprovação no mestrado, e assim fiquei com a equipe até agora”. No mestrado, Maria Júlia se dedicou a organismos aquáticos, avaliando a exposição deles a inseticidas e metais pesados. No projeto de pesquisa, ela avaliou o efeito toxicológico do cádmio em 3 espécies de organismos aquáticos – ninfas e adultos de Belostoma anurum (controlador biológico), alevinos de tilápia do nilo (organismo não alvo) e larvas de Aedes aegypti (inseto vetor). “Tive uma bagagem acadêmica muito boa, muito boa mesmo, tive experiências enriquecedoras, com grupos da UFV, da Universidade do Tocantins e com os parceiros da equipe na Duke University. Aproveitei cada segundo”

A previsão é de que Maria Júlia fique na África por 12 meses. “Acredito que será uma experiência de muito crescimento pessoal, estar em outro país, trabalhando com pessoas de diferentes culturas, em diferentes ambientes”, diz ela, de olho no doutorado. “Embora eu entenda que muitas coisas podem mudar durante esse um ano, eu pretendo voltar para o doutorado sim. Tentei este ano com o intuito de me esforçar para conseguir um doutorado sanduíche, e pretendo voltar e fazer de tudo  para que dê certo. “

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves

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