Ciência na Praça e o desafio de apresentar pesquisas de forma simples, criativa e interessante para a comunidade

Parece fácil falar entre os pares, sobre temas que se está acostumado a trabalhar no dia-a-dia. Contudo, falar sobre esses mesmos temas sem recorrer a termos científicos, utilizando palavras de fácil compreensão, até mesmo para uma criança, e que despertem o interesse de pessoas fora do meio acadêmico, pode não ser tarefa tão simples. Esse foi o desafio aceito por 80 membros da UFV, envolvidos na realização da 4ª edição do Ciência na Praça, na Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, que fica no bairro São José (Laranjal), em Viçosa (MG). Na manhã do dia 16 de junho, pesquisadores de vários departamentos compartilharam com cerca de 150 visitantes, entre alunos da rede municipal de ensino e moradores do bairro Laranjal, um pouco do conhecimento produzido na UFV.

A doutoranda em Entomologia Mayara Loss Franzin, por exemplo, participou do estande “Insetos em Cena”, organizado pelos alunos da disciplina ENT 662 – Fisiologia de Insetos. O grupo de Mayara, “Vida de Inseto”, falou sobre metamorfose. A doutoranda considera que essa foi a experiência mais gratificante que ela já viveu até hoje na pós-graduação: “Sem sombras de dúvidas, no final do evento o sentimento que tomou conta de todos os integrantes do Insetos em Cena foi de esforço recompensado e de dever cumprido. Tudo o que falamos lá já era bem conhecido por nós, porém, em uma linguagem técnica. Passar esse conhecimento em uma linguagem para leigos foi diferente e enriquecedor. Acredito que esse evento serviu de crescimento para todos”.

O estande “Insetos em Cena” também apresentou outros temas, como: “Mosquitos vs Inseticidas”, “Olimpíadas dos Insetos”,”Insetos na Alimentação” e “Tecnologias Inspiradas em Insetos”. Segundo Mayara, todos os temas apresentados pelos alunos da ENT 662 despertaram a atenção dos visitantes, mas o tema “Olimpíadas dos Insetos” se destacou. “Nesse grupo, os integrantes falaram sobre os diferentes tipos de locomoção dos insetos, dando exemplo da barata d’água para o nado, grilos e gafanhotos para saltos e barata para caminhamento. Eles expuseram isso em forma de disputa, colocaram bandeiras dos países nos insetos e cada pessoa escolhia um país (inseto) para torcer. Eles tinham um aquário em formato de piscina olímpica para barata d’água, um retângulo de vidro para salto de grilos e gafanhotos e um labirinto para baratas. Isso chamou muito a atenção das crianças e também de adultos, todos ficavam torcendo para seus insetos como em competições reais”.

Mayara avalia que as pessoas foram muito receptivas, principalmente as crianças. “Todos participaram bastante das atividades demonstrando muito interesse. Todos os estandes do ‘Insetos em Cena’ ficaram cheios durante todo o evento. Por fim, já estavam anunciando o final do evento e pedindo para que recolhêssemos nosso material, mas as crianças não queriam sair de lá. Eu não conhecia o bairro Laranjal. Inclusive, não imaginava que Viçosa fosse tão grande. Cheguei aqui em julho de 2017 e até então, Viçosa para mim era apenas a UFV”.

Quem também levou, mais uma vez, um pouco de conhecimento para fora das “Quatro Pilastras” foi o mestrando Felipe Nery Ferreira, que participou pela terceira vez do Ciência na Praça, com o estande “Conhecendo as formigas do nosso quintal”. Esse projeto mostrou a diversidade de formigas da região, dando a oportunidade aos visitantes de visualizarem pela lupa as características de diferentes espécies de formigas e ainda descobrir várias curiosidades. “Como nós do Laboratório de Ecologia de Comunidades estamos trabalhando na identificação das formigas de Viçosa, vimos a necessidade de levar esse conhecimento para fora da academia” – afirma o mestrando.

O Departamento de Entomologia também foi responsável pelo estande “Seria um crime perfeito… se não fosse pelos insetos!”, que mostrou aos visitantes como a presença e a atividade de insetos podem auxiliar numa investigação criminal, desde crimes de maus tratos e negligência (contra idosos, pessoas com deficiência e crianças), até assassinatos, infestação de casas, hospitais e bens públicos, e contaminação de alimentos.

A servidora da UFV Verônica Saraiva Fialho, que participou da organização desse estande, destaca: “Demos um enfoque especial aos insetos necrófagos, evidenciando sua diversidade e importância ecológica (além da forense), pois esses insetos são alvos de trabalhos que desenvolvo desde o doutorado em Entomologia, paralelamente às minhas funções como assistente de laboratório na UFV”. Para compartilhar um pouco sobre essa linha de pesquisa com a comunidade, Verônica contou com o envolvimento de duas estudantes: a aluna do 3ª série do Ensino Médio do Coluni Luisa Mendonça Gregório, bolsista BIC-Jr. Fapemig e da estudante de Agronomia Marina Guimarães Brum de Castro, bolsista Pibic Fapemig. Para Verônica, parte do público demonstrou certa timidez ou receio, o que foi encarado como uma tarefa positivamente desafiadora: “Tivemos que adaptar nossa linguagem e abordagem constantemente, buscando criar uma conexão e obter a confiança dos visitantes para criarmos um momento de troca e compartilhamento de conhecimentos e curiosidades. Nosso esforço maior foi desfazer a barreira que alguns trouxeram e mostrar que tinham muitas coisas legais ali para descobrir”.

Participar da 4ª edição do Ciência na Praça foi uma oportunidade bem gratificante para a servidora da UFV: “Foi muito importante, enquanto técnica, mostrar ou dar visibilidade à linha de pesquisa que implementei, desenvolvo e oriento estudantes, mesmo sendo técnica de laboratório, ou seja, mesmo não sendo professora. Enquanto servidora, participar do evento foi uma ótima oportunidade, já que, até então, apenas estudantes participavam. Muitos técnico-administrativos são ou foram estudantes da UFV e/ou participam ativamente de pesquisas na instituição, de modo que podemos compartilhar diferentes vivências, e nos sentimos gratos por partilhar nosso trabalho e nossa experiência com a comunidade viçosense. É uma forma carinhosa e sutil de nos aproximar dessas pessoas e de certa forma, ‘prestar contas’ sobre o dinheiro público e retornar o investimento comunicando o conhecimento gerado. Além disso, é uma forma de romper a barreira de lugar intocável que muitos viçosenses cultivam sobre a UFV”.

Fim

Além da Entomologia, em sua quarta edição, o Ciência na Praça contou com a participação de vários departamentos, que apresentaram os seguintes projetos:

  • “A Botânica no dia a dia” (Departamento de Biologia Vegetal);
  • “A Serra do Brigadeiro em foco: em foco a divulgação da ciência nas matérias do boletim BIOPESB” (Departamento de Letras);
  • “Água e crise hídrica em Viçosa” (Departamento de Engenharia Civil, Divisão de Água e Esgoto);
  • “Do crânio às vértebras: curiosidades e evolução dos animais vertebrados” (Departamento de Biologia Animal);
  • “Micróbios: vilões ou heróis?” (Departamento de Microbiologia);
  • “O papel do médico veterinário na saúde humana” (Departamento de Medicina Veterinária);
  • “Pesquisa sobre Leishmanioses: da doença a produtos biotecnológicos voltados para o tratamento, diagnóstico e vacina” (Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular);
  • “UFV Soccer Academy” (Departamento de Educação Física);
  • “Venha conhecer o DNA” (Departamento de Biologia Geral);
  • “Primeiros Socorros: Parada Cardiorespiratória, Engasgo e Animais Peçonhento” (Departamento de Medicina e Enfermagem); e
  •  “Cuidando do Ursinho” (Departamento de Medicina e Enfermagem).

O Ciência na Praça é uma iniciativa da Em Rede – Núcleo Viçosa e do Departamento de Economia Rural da UFV, com apoio da Diretoria de Relações Internacionais, da Funarbe e do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde. O projeto tem como objetivo estimular a aproximação entre a universidade e a comunidade de Viçosa, de forma a promover a popularização da ciência. Saiba mais sobre a 4ª edição do Ciência na Praça

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