Artigo mostra efeito indireto de compostos tóxicos de defesa da planta sobre ácaro predador

A revista Plant Science publicou na última semana um artigo da doutora em Entomologia, Livia Ataide. O artigo “Induced plant-defenses suppress herbivore reproduction but also constrain predation” mostra que compostos tóxicos fabricados pela planta com a finalidade de se defender contra o ataque de herbívoros, neste caso ácaros pragas, podem afetar indiretamente um organismo benéfico, o ácaro predador Phytoseiulus longipes.

A autora do artigo, fruto da sua tese de doutorado, explica que “plantas são constantemente atacadas por herbívoros na natureza e elas desenvolvem estratégias de sobrevivência para resistir ao ataque. Uma dessas estratégias é a produção de compostos tóxicos que, por serem tóxicos, reduzem a alimentação e a proliferação desses herbívoros nas plantas. Diferentemente dos ácaros herbívoros, ácaros predadores são benéficos para a planta, uma vez que eles se alimentam da praga, ajudando a reduzir a sua população e a mantê-la abaixo do nível de dano econômico. O ácaro predador P. longipes auxilia, portanto, no controle biológico dos ácaros herbívoros Tetranychus evansi e T. urticae, que podem se tornar pragas com danos econômicos em tomateiro, por exemplo.”.

Os pesquisadores demonstraram neste estudo que a predação e a reprodução desse agente benéfico são comprometidas quando o predador se alimenta de ovos dos ácaros herbívoros produzidos em plantas que tiveram seu sistema de defesa artificialmente ativado. “Isso demonstra que é preciso ter cuidado ao implementar ferramentas no controle de pragas na agricultura como, por exemplo, a aplicação de inseticidas e o uso de plantas resistentes. Ambas as estratégias atuam não somente sobre a população da praga, mas também na população de organismos benéficos que são importantes no seu controle. Isso consequentemente pode comprometer a eficácia do controle das pragas na agricultura” – alerta a autora.

 University of Amsterdam

Livia Ataide concluiu o doutorado em Entomologia na UFV em 2013, sob a orientação do professor Angelo Pallini. Atualmente, ela é pesquisadora do Institute for Biodiversity and Ecosystem Dynamics, na University of Amsterdam (Holanda), onde realiza pós-doutorado com financiamento da The Netherlands Organisation for Scientific Research.

Durante o doutorado, Livia também realizou parte dos seus experimentos na universidade holandesa. Ela foi contemplada pela CAPES com uma bolsa de doutorado sanduiche, através do programa CAPES/NUFFIC. Livia embarcou para a Holanda como integrante do projeto “Supressão de defesas de plantas por herbívoros artrópodes: mecanismos evolutivos, ecológicos e moleculares e suas implicações agrícolas”.

De acordo com o coordenador, Angelo Pallini, “esse projeto teve duração de três anos e contribuiu para a capacitação não somente de alunos de mestrado e doutorado, mas também de profissionais e professores da área. Além da capacitação possibilitada pela CAPES, Livia conseguiu abrir as portas de uma Universidade no exterior que hoje pode vir a possibilitar que outros alunos brasileiros tenham a mesma oportunidade, contribuindo para o avanço da pesquisa no Brasil”.

Foto: Jan van Arkel

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *